(INFORMAÇÕES DO PROGRAMA)
(Verso do 1º Cartão)
Alexandre Ferreira
Ana Luísa Cardoso
Anat Geiger
André Pimentel
Antonio Carlos Bernardes
Carmen Frenzel
Christine Braga
Duda Mamberti
Gabriela Lins e Silva
Gillray Coutinho
Gisele Fróes
Kiki Lavigne
Leonardo Netto
Márcia Duvalle
Monica Biel
Nico Nicolaiewsky
Vera Lúcia Ribeiro
LAMPIÃO – REI DIABO DO BRASIL
Autor e Diretor: Aderbal Freire-Filho
Diretor Assistente: Marcos Vogel
Diretor Musical: Nico Nicolaiwsky
Cenógrafos: José Dias / Aderbal Freire-Filho
Figurinista: Biza Vianna
Programação Visual: André Villas Boas
Assistente de Cenografia: Beth Paiva
Assessoria de Imprensa: Jeanne Duarte
Agradecimentos
Alcione Araújo, Anamaria de Moraes, Copacabana Hotel Residência, Mário de Assis e Nelly de Araújo Sterling
Apoio
(Logo) BNDES
Governador do Estado: Leonel Brizola
Secretaria de Estado de Cultura: Edmundo Muniz
Diretor de Artes Cênicas e Musicais: Carlos Kroeber
Teatro Gláucio Gill
Governo do Estado / Secretaria de Estado de Cultura /FUNARJ
Copacabana, Inverno 1991
(Verso do 2º Cartão)
Quem quiser que invente outro Virgulino Lampião.
Carlos Pena Filho
Carlos Magno e os doze pares de França, o Padre Cícero, Sinhô Pereira, Corisco, D. Sebastião, o Famaliá, são alguns dos personagens que entram nas histórias de Lampião. A história fica empurrando muitos pra fora, ou fica pelo menos separando quem é de verdade de quem não é, com os historiadores torcendo o nariz pra tanta gente se intrometendo na boca do povo e confundindo o rigor acadêmico.
Já no teatro cabe todo mundo, pois aqui se pode chegar ao conhecimento – tenta-se – misturando os personagens imaginários mais imaginários e menos imaginários (isto é, os que não viveram e os que teriam vivido).
Lampião é mais ou menos imaginário? Penso que esta pergunta não importa muito para ajudar a compreender o sertão e o mundo. O teatro, que é reinvenção do mundo, entra sem compromisso nesta “selva selvaggia” para encontrar trilhas que talvez só existam nos lugares que a história rejeitou.
E assim Lampião, que fez uma guerra de 20 anos, é agora seguido pelos seres imaginários do teatro, por atores e espectadores.
E por essa gente toda ibérica, medieval, guerreira, cantadora, sonhadora, até o nosso encontro em Angicos, interior de Sergipe, numa madrugada de 1938.
Afinal, todas as civilizações acabam dentro do nosso país, da nossa casa e dormindo com a gente.
Aderbal Freire-Filho
Carlos Magno – Rei dos Francos e Imperador do Ocidente, nasceu a 2 de abril de 742 e morreu a 28 de janeiro de 814 em seu palácio de Aix-la-Chapelle. Primogênito de Pepino, o Breve, primeiro monarca da dinastia carolíngia, selou aliança entre a Igreja Romana e a Monarquia Franca.
Chanson de Roland – O Ciclo de Carlos Magno está constituído de diversas obras épicas menores, grupadas em três Gestas principais, sendo a primeira Gesta du Roi. A Gesta Du Roi pertence à Chanson de Rolland, o mais célebre poema do ciclo carolíngio, escrito entre 1.100 e 1.225, A obra soma 4.002 decassílabos. O entrecho é simples: Ganelon odeia Roland, sobrinho do Rei Carlos Magno, arma uma emboscada e sugere ao Rei que coloque o sobrinho à retaguarda, e Le é assim massacrado pelos bascos. A Chanson de Roland é um dos mais fortes poemas bárbaros de literatura universal (História da Literatura Ocidental, Otto Maria Carpeaux, Vol 1).
Carlos Magno e os Doze Pares de França – Volume popularíssimo em Portugal e Brasil, leitura indispensável por todo o sertão, inúmeras vezes, fornece inesgotável material aos cantadores:
(Verso do 3º Cartão)
“Você falou-me em Roldão.
Conhece dos cavaleiros
dos Doze Pares de França?
Dos destemidos guerreiros?
Falarás-me alguma coisa
de Rodão mais Oliveiros?
-Sei quem foi Roldão.
O Duque Reguiné
E o Duque de Milão,
E o Duque de Nemé…
Sei quem foi Galalão,
Bomfim e Geraldo,
Sei quem foi Ricardo,
E Gui de Borgonha,
Espada medonha,
Alfanje Pesado!”
(Dicionário do Folclore Brasileiro, Luís da Câmara Cascudo)
Sebastianismo – O Sebastianismo, como força impulsionadora da energia nacional, jamais foi resignado.
“(…) Ele era também um dos adeptos do Sebastianismo, que estão sempre à espera da volta do Rei. D. Sebastião, morto na Batalha de Alcacer-Quibir, contra os mouros, e com isso, a volta da mais gloriosa época do Reino de Portugal.”
Para o Brasil, a ideia Sebastianista deve ter emigrado logo, com os homens da Extremadura, Alentejo, o norte de Portugal, Antonio Conselheiro profetizara: “Em verdade vos digo, quando as nações brigam com as nações, o Brasil com o Brasil, a Inglaterra com a Inglaterra, a Prússia com a Prússia, das ondas do mar D. Sebastião sairá com todo o seu exército. (Dicionário do Folclores Brasileiro, Luís da Câmara Cascudo)
Famaliá e Diabo – Na época da chegada dos portugueses ao Brasil, o diabo estava no apogeu da sua fama, respeitado e temido no mundo inteiro. A fim de evitar que os homens pecassem tanto, especialmente contra a carne, os missionários usavam o diabo como arma poderosíssima. Mas a sua presença no Nordeste só foi oficialmente reconhecida nos fins do século XVI, através do documento da visitação do Santo Ofício, através do qual vamos encontrar o registro de sua comunicação com Bruxas Fiéis, algumas sabendo até cria-lo em vidrinhos, transformando-o no Familiá. (Território da Danação, Mario Souto Maior)
Centro – O Centro de Demolição e Construção do Espetáculo tem como objetivo principal atuar ao lado de todos os artistas que se empenham no processo de recuperação ética do teatro brasileiro, como num laboratório de Teatro Contemporâneo. A sua principal linha de pesquisa procura associar as referências das estyruturas dramáticas brasileiras a uma compreensão ampla dos modernos sentido e linguagem do teatro. (do Catálogo 01, do Centro)
Projeto Lampião – O universo vastíssimo do cangaço e do seu personagem central (“o mundo é grande, mas o sertão…”), levou o Centro, quando quis criar um espetáculo em torno deste tema, a aumentar sua ambição. Hoje, o Centro acredita que Lampião não pode ser tema de um espetáculo apenas. Um universo tão vasto deve ser explorado em pelo menos mais um espetáculo e muitas outras atividades paralelas. (Do meu e do seu coração)
(Verso do 4º Cartão)
Angicos
(de N. Nicolaiwsky – A. Freire-Filho)
Foi na fazenda Angicos
Interior de Sergipe
De manhã, de madrugada
Lampião foi alçando
Já saiu que ele morreu
Verdade
Mentira
Diz que ele não lutou
Uma bala lhe alcançou
Lampião foi Degolado
Seu corpo tá separado
Já saiu que morreu
Verdade
Mentira
O seu corpo é do Brasil
no lugar onde caiu
mas seu rosto brasileiro
Vai correr o mundo inteiro
Já saiu que ele morreu
Lampião não morre nunca
Verdade
Mentira
Canção das Mulheres do Harém de Lampião
(N. Nicolaiewsky – A. Freire-Filho)
Pelas mil e uma noites do Sertão
Mil e um pecados, coração
Por este sol que arde de desejo
Pelo chão que é o mar de D. Sebastião
Eu te persigo Virgulino Lampião
Ai Bagdá, ai, Ceará
Os meus pecados ai
Antes que você morra degolado
E vá viver no reino do malvado
Quero te dar meu sol que abre de desejo
Te contar as histórias do Sultão
Que vem da Pérsia encontrar com Lampião
Ai Bagdá, ai, Ceará
Os meus pecados ai
Mas se eu achar o seu corpo abandonado
Sem cabeça Lampião meu adorado
Vou rasgar o sol que arde de desejo
E te amar te arrastar pelo sertão
Te transformar no meu D. Sebastião
Ai Bagdá, ai, Ceará
Os meus pecados ai
Obs.
Este espetáculo estreou em abril de 1991, no Teatro do BNDS