(INFORMAÇÕES DO PROGRAMA)
(Capa – Desenho)
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O Grupo Sobrevento
apresenta
ATO SEM BECKETT
Espetáculo de bonecos para adultos
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O Grupo
Com o objetivo de desenvolvermos, juntos, pesquisas sobre o teatro e suas possibilidades como meio de expressão, formamos, no final de 86, o Grupo Sobrevento. Decidimos, então, dedicar-nos a uma área específica: ao Teatro de Animação e à pesquisa de suas mais variadas formas.
Ato sem Beckett foi o primeiro trabalho do grupo. Estudando a técnica do Bunraku – teatro de bonecos japonês-, o Teatro de Absurdo e a dramaturgia de Samuel Beckett, tivemos
a ousadia de fazer um casamento entre o Teatro de Bonecos e um clássico com o Ato sem Palavras I. A seriedade do projeto, o cuidado plástico e o rigor formal da montagem de nossa montagem, juntos ao fato incomum de se estar apresentando um espetáculo de bonecos para adultos, chamou a atenção da ARTB – Associação Rio de Teatro de Bonecos. Com isto, tivemos nossa montagem selecionada para representar o Rio de Janeiro na Mostra Oficial do Festival Nacional de Teatro de Bonecos, ocorrido em Nova Friburgo, em 1987.
Partindo, depois, para uma pesquisa sobre Teatro de Animação na rua, o grupo dedicou-se por vários meses à criação do espetáculo Sagruchiam Badreck. Esta montagem, com roteiro criado pelo próprio grupo, reunia dez atores, que exibiam números acrobáticos, trabalho com máscaras, animação de formas e um boneco gigante. Com este espetáculo, além de apresentar-se nas ruas e praças do Rio de Janeiro, o Sobrevento participou, convidado pela RIOARTE, do projeto “O Teatro de Bonecos vai aos CIEPs”.
A próxima para seria Trujillo, Peru. Em julho de 88, três membros do Sobrevento foram selecionados para representar o Brasil no I Encuentro-Taller Sulamericano de Marionetistas. A convite do Ministério de Assuntos Estrangeiros da França e de autoridades culturais do Peru, um total de vinte especialistas do Teatro de Animação, de sete países, participaram deste Encuentro-Taller. Ao mesmo tempo que de um Encontro, tivemos a oportunidade de fazer um estágio de seis semanas com Philippe Genty, um dos maiores nomes do teatro de animação do mundo inteiro.
Ligados à Associação Brasileira de Teatro de Bonecos (ABTB), o grupo Sobrevento procura, através de seus espetáculos alargar a visão que o público brasileiro tem, do Teatro de animação, um teatro que chega, várias vezes, a prescindir de bonecos.
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O Espetáculo
Mas, afinal de contas, o que Beckett tem a ver com teatro de bonecos?
Peças sem clímax, sem uma historinha para contar, sem nós dramáticos, que são ao mesmo tempo, farsas e tragédias… E isso é teatro? Beckett traz à cena um teatro moderno, novo, vigoroso em sua universalidade e que se afasta do padrão que se tornou o convencional através de séculos em que se bateu na mesma tecla.
Teatro da incomunicabilidade, de protesto, do absurdo, os textos beckettianos só vivem em função da cena, em função de um espetáculo. E colocar em cena é trabalho do encenador, não do dramaturgo. Se Becktt é considerado, hoje, um autor “sagrado”, “intocável”; consideramos mais sagrado ainda o direito de um encenador exercer sobre um texto sua atividade criativa.
A ideia pode ser ousada – é experimental e inovadora – mas não é, de modo algum, inconsequente. Encenar o Ato sem Palavras usando, ao invés de um ator, um boneco.
A intenção não é gratuita. A nosso ver, o uso do boneco nesta encenação acompanha bem o clima que acreditamos que Beckett proponha no texto original. Mais que isso, adquirimos com nossa proposta uma ênfase ainda maior no que há de simbólico no texto. E ganhamos, mais ainda, uma carga de significações, de conotações, muito forte. Estamos interferindo no texto sem feri-lo. E foi buscando, também, a plasticidade, o apelo visual, que decidimos por uma adaptação do texto para boneco. Utilizando a técnica – quase mágica – da caixa preta. E, afinal de contas, o que é o homem para Beckett senão um simples boneco?
No segundo ato, apresentamos o texto que dá nome ao espetáculo – Ato sem Beckett -, criado pelo grupo a partir de imagens, elementos e ideias de alguns textos do autor. Fazendo o caminho inverso da adaptação anterior, o ator pisa novamente em cena.
Ato sem Beckett, um espetáculo de bonecos para adultos… como todo o teatro de Beckett – sem que ele nunca tenha escrito tal gênero.
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O Teatro de Animação Hoje
Não é de hoje que se tem uma ideia muito limitada a respeito do teatro de bonecos. A primeira ideia que vem à cabeça quando se fala disto é a de que trata-se de teatro para crianças. E, ainda por cima, de que trata-se de uma arte menor e mal realizada.
É preciso lembrar que há séculos, o Bunkuru, teatro de bonecos japonês, vem renovando seu interesse, em relação às plateias adultas. Também no mundo ocidental, em outras épocas, observam-se exemplos que encantaram tanto os jovens quanto os adultos: é o caso de Punch e Judy, na Inglaterra.
Hoje porém, o conceito de teatro de bonecos vem sofrendo sérias modificações. e é desta questão, que inquieta marionetistas do mundo inteiro, que surge o termo ”teatro de animação”.
A definição mais precisa para qualificar a marionete, conforme a entendemos hoje, seria a seguinte: “toda forma, todo objeto manipulado”. Com isto as possibilidades que este gênero oferece multiplicam-se sem parar. Fala-se também, hoje, de Teatro de Objetos, uma vertente do Teatro de Animação, onde os objetos mais cotidianos são retirados de sua funcionalidade para servirem a um espetáculo teatral. É com esta nova definição do que seja marionete que podemos falara de um Teatro de Animação que prescinde de bonecos.
(Verso da Última Capa)
Ato sem Beckett
Manipulação
Luiz André Cherubini
Sandra Vargas
Miguel Vellinho
Andréa Freire
Confecção do Boneco e Objetos de Cena: Grupo Sobrevento
Iluminação e Operação de Luz: Alexandre Von Bradenburg
Sonoplastia e Violino: André Araújo
Produção e Administração: Grupo Sobrevento
(Última Capa)
Agradecimentos
Dionísio Cherubini, Alex Mello de Azevedo, Clélia Cherubini, Laura Brasil
Apoio
MINC / FUNDACEN, Madeireira V. Soares da Costa, Medeiros de Moraes Materiais de Construção, Senior Consultoria e Serviços Ltda.