Cartaz, 1998

Filipeta, 1998

Programa, 1998

Convite do espetáculo que estreou no Teatro Ipanema, dia 05 de novembro de 1988

 

Barra

(INFORMAÇÕES DO PROGRAMA)

(Capa)

Patrocínio Antarctica

Companhia Depois do Baile
apresenta

PICASSO

Texto e Encenação: Sidney Cruz

Teatro Ipanema

Apoio

Governo do Estado, Secretaria de Estado de Educação e Cultura, Jornal do Brasil, Mesbla, Fundacen

(Interior) 

Apontamentos sobre a Encenação 

O espetáculo é livremente inspirado na vida e obra de Pablo Picasso, desenhando um roteiro de ideias, sonhos e paixões provenientes do Universo Histórico / Existencial do pintor. Picasso é o tema: a arte e o amor são suas substâncias.

O mundo de Picasso é o parâmetro condutor do espetáculo, procurando-se transcrever e transcriar para a cena a sua magia em cores, forma e atitudes num clima esfuziante que mistura música, dança e circo conduzindo por uma troupe de Saltimbancos que encena numa feira uma peça sobre o pintor.

A estrutura teatral constituiu-se num jogo entre os personagens extraídos das telas de Pablo, mesclados com tipos característicos da Comédia Espanhola e da Comédia Dell’Arte (Comédia Italiana).

Procura-se estabelecer linhas e pontos de comunicação
com o público infanto-juvenil através de uma encenação ágil, que busca o Tempo-Fábula (aventura de coisas inventadas que imitam um dos lados da verdade).

As transformações dos personagens, o jogo de máscaras entre o “real” e o “representado” constroem um mosaico de imagens, vinhetas, gestos e quadros que multiplicam-se em cena apontando para uma conversa com o espectador.

Companhia Depois do Baile

Criada em 1984 com o espetáculo Bailei na Curva, com o objetivo de resgatar a tradição de Companhias Teatrais Permanentes e com repertório.

Em 1985 cumprimos temporada no Teatro Glauce Rocha e fomos para o Teatro Ipanema até maio/85. com Bailei na Curva conquistamos os seguintes prêmios:

1. Prêmio INACEN – Troféu MINC, Melhor Espetáculo do Ano
2. Festival na Serra – Teresópolis – Melhor Espetáculo
3. Menção Honrosa da Câmara Municipal do RJ, 1986

Em maio de 1986 fomos a Portugal, representando o Rio de Janeiro no IX FIEI (Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica), na cidade do Porto. Lá fizemos várias apresentações também em Coimbra e Avintes.

Em Outubro de 1987, montamos Boca de Ouro, de Nelson Rodrigues no Teatro Dulcina, com parcos recursos, mas com uma forte determinação no sentido de manter e estruturar a companhia. Paralelamente iniciamos a pesquisa e produção do primeiro espetáculo infanto-juvenil da Companhia sobre a vida e obra de Pablo Picasso, estimulados pelos contatos feitos com a obra do pintor quando da viagem feita pela Europa, em 1986.

Com a estreia do espetáculo Picasso, no Teatro Ipanema, com o fundamental patrocínio da Antártica e valioso apoio da Secretaria de Cultura do Estado do Rio de Janeiro, estamos dando mais um passo na consolidação da Companhia Depois do Baile. Estamos atualmente pesquisando textos a fim de darmos continuidade ao projeto infanto-juvenil e projetamos uma incursão no teatro para adolescentes. Logo vocês ficarão sabendo.
                                                                                                                                                                                            Sidney Cruz

Itinerário Breve do Pintor Andaluz (1881 – 1973) 

1881 – nasce Pablo no dia 25 de Outubro, em Málaga, Andaluzia, Espanha. Desde menino desenha e pinta sob o incentivo do pai, também pintor,

1895 – ingressa na Escola de Belas Artes de Barcelona.

1899 – pinta o quadro Ciência e Caridade, expões no Café Els 4 Gats e na Galeria Ambroise Vollard.

1902 – transita entre Paris-Barcelona, pinta os quadros Criança Enferma e O Velho Judeu, é a fase Azul.

1907 – pinta o famoso quadro As Donzelas de Avignon que inaugura o Cubismo.

1911 – utiliza nos seus quadros a técnica dos planos sobrepostos, inspirados na Escultura Africana.

1917 – pinta cenários e figurinos para os balés russos de Diaghlev. Do casamento com a bailarina Olga Khoklova nasce o menino Paulo, em 1921. Pinta vários nus e naturezas mortas mesclando Neoclassismo e Cubismo e, por volta de 1927, dedica-se intensamente à Escultura. Em 1934 interessa-se por Gravuras e desenvolve a série do Minotauro.

1936 – durante a Guerra Civil Espanhola, escreve e publica o panfleto Sueño y Morte de Franco ilustrando com gravuras. Na mesma época nasce sua filha Maya do relacionamento com Marie Thérese.

1937 – ao saber do bombardeio da cidade de Guernica começa a pintar a sua mais contundente obra Guernica. Em 1944, entra para o Partido Comunista. Do relacionamento com Françoise Gilot, nascem dois filhos: Claude, em 1957 e Paloma, em 1949. ?Dedica-se à Litografia, à Cerâmica e escreve poemas. Pinta a Pomba da Paz.

1953 – produz uma série de Desenhos, trabalha com Pintura realizando variações em torno de obras de outros pintores famosos com Delacroix, Velásquez e Manet.

1962 – realiza a série de telas baseada no Rapto das Sabinas. Em 1966, durante uma retrospectiva das suas obras sente-se ainda, nos novos trabalhos, o ecletismo e a multiplicidade de estilos que o artista domina.

1968 – cria 348 Gravuras com o tema Circo. 1972, com suas características genialidade realiza a série de Gravuras com os personagens Fafael e Fornarina, num sensualíssimo jogo de formas e traços.

1973 – exibição dos seus últimos desenhos na Galeria Louise Leiris e logo em seguida ele morre (se é que morre) em 09 de abril, aos noventa e dois anos.

Elenco

Loly Nunes
Renato Castelo
Beth Lamas
Renato Peres
Marcello Caridade
Maristela Provevedel

Músicos 
Patrícia Regadas (Sax)
Paxy Nunes (Teclado)
Taiguara Nunes (Violão)

Ficha Técnica

Texto y Encenação: Sidney Cruz
Argumentação Original: Maria Olímpia Fortes y Loly Nunes
Ass. Direção: Jorge Cruz
Direção Musical: Pauxy Nunes
Músicas: Hermeto Pascoal y Pauxi Nunes
Coreografias: Robson Quintanilha
Cenários e Figurinos: Rafael Sánchez
Ass. Cenários e Figurinos: Hélia Frazão y Adilson Gomes y Mônica Bueno
Adereços: Hélia Frazão
Artes Gráfica / R. P. Divulgação: Célia Novais y Ana Frajtag
Direção de Produção: Loly Nunes
Produção Executiva: Adilson Gomes
Ass. Produção: Patrícia Pontes
Iluminação: Henrique Lienor
Fotografia: Fole Studio
Costureira: Jane Travassos
Cenotécnico: Humberto Silva
Operador de Som: Paulo Cardoso

Músicas

Sininho (abertura) ***
Os Saltimbancos **
Picasso Criança (canção) **
O Parque **
Málaga **
Vinheta da fase azul **
Els 4 Gaats **
Moulin Roge **
Fernande *
Cubismo *
Adão e Eva *
Canto dos Saltimbancos **
Olga Strawinsky **
O Casamento **
Paulo *
Canção do Pincel *
Opereta **
Dora1 / Dora II **
Sineta (Guernica) ***
P. C. **
A Fama **
Joyce (Jacqueline) ***
Erospicasso *
Berceuse *
Segue **

Hermeto Pascoal ***
Pauxy Nunes **
Temas de Hermeto, desenvolvimento de Pauxy *

Letras de Sidney Cruz

Agradecimentos

Rafael de Almeida Magalhães, Renata de Almeida Magalhães, Luis Otávio Hermeto, Mary Ventura, Eliane Leite de Souza, Jorge Gama. Amaury Nunes, Leneide Duarte, Hermeto Pascoal, Maria Emília Andrade Nunes, Ziraldo, Casa da Espanha, Tânia Brandão, Lúcia Abreu, Jorge Crespo, Teatro Ipanema, Restaurante Pablo

“Pinto as coisas como as imagino, não como as vejo.”

“No fundo, nada mais existe a não ser o amor. Qualquer que seja ele. E os pintores deveriam ter os olhos furados, como se faz com os canários, para que cantem melhor.”

“Não se deve ter medo de inventar seja o que for. Tudo o que existe em nós existe também na natureza. Pois fazemos parte dela. Se a nossa invenção se assemelha à natureza, muito bem. Se não se assemelha, paciência.”

“No fundo, todas as pessoas possuem semelhanças com algum animal.”

“Nunca acreditei na pintura destinada unicamente a uma elite… E na minha obra, como da de Shakespeare, há sempre pormenores burlescos e mesmo vulgares. Assim, dirijo-me a toda gente. Não é que eu queira me prosternar diante do público, o que eu quero é oferecer alguma coisa a todos os níveis.”

“Levamos muito tempo para nos tornarmos jovens. Quando vejo pinturas de crianças, dou-me conta de que só agora posso iniciar meu trabalho de juventude. Quando tinha a idade delas era capaz de desenhar como Rafael… Mas levei anos para aprender a desenhar como uma criança.”
                                                                                                                                                                                        Picasso

(Última Capa) 

A mãe de Picasso o chamava de Pablito. Quando ele nasceu, porém, ela achou que convinha batiza-lo de Pablo Diego José Francisco de Paula Juan Nepomuceno Maria de Los Remédios Cipriano de la Santíssima Trinidad Ruiz y Picasso. Dona Maria era Picasso y Lopez e o pai de Picasso era Ruiz. Dom José Ruiz Basco. (Na Espanha o sobrenome da mãe vem em primeiro lugar. Faz mais sentido, já que, em geral ele desaparece com o casamento da mulher.)

Picasso nasceu no dia vinte e cinco de outubro. Para aqueles que gostam de Astronomia, fica engraçadinho lembrar que Picasso era Escorpião. Por um mistério qualquer, desde muito cedo, lá longe em Caratinga, sem a menor vontade de ser pintor – eu queria era ser desenhista de história em quadrinhos – Picasso era um dos meus heróis. Tinha hora que eu até estava disposto a desistir de ser desenhista de história em quadrinho para ser Picasso.

Com o passar do tempo fui me aproximando mais de sua obra, conhecendo mais sua vida, me interessando mais por seu trabalho e por sua biografia. E atravessei grande parte de minha vida fascinado por duas grandes paixões intelectuais: Picasso e Drummond. Eu achava que eles eram os descobridores da minha alma, uma coisa mais ou menos assim. Um dizia tudo que eu queria dizer e outro pintava tudo que eu queria pintar. E me bastava.

Por um desses raros privilégios da nossa existência, pude viver próximo de um dos meus dois ídolos. Convivi com o poeta e descobri que ele, por sua vez, tinha nascido vinte e um anos depois de Picasso, num dia 31 de outubro e era, também de Escorpião. Pois trinta anos depois do nascimento do poeta – exatos trinta anos – num dia vinte e quatro de outubro – Escorpião dos bons – nasci.

No dia que fiz esta descoberta, senti uma brisa mágica, um tremor, um fremir, um referver, um bramir, um frêmito, umas bolinhas de água mineral percorrerem os nervos do meu corpo, de Caratinga até a ponta do dedão.

E eu que já amava os dois, fiquei transido de paixão. Nos meus livros há sempre, misturados nas frases mais insuspeitas, versos inteiros de Drummond; nos meus desenhos, nas minhas caricaturas, no sumido Mural do Canecão, nas bocas abertas, nas línguas assustadas, nos olhos olhando só para o medo, há sempre a minha mais apaixonada homenagem a Picasso. Como sou meio proprietário dos dois, toda vez que o pessoal aqui na terra mexe (mexer é um verbo mineiro, lá a gente diz, quando quer saber o que é que o outro está fazendo: “O senhor ta mexendo com que?”) com eles, eu acho que é comigo. E fico na maior alegria quando descobrem isto, antes de mim. Vão encenar o Picasso para crianças e jovens.

Santa mãe, isso é comigo! Não é que descobriram que era? E me pediram um texto para o programa da peça. Porque sabem que eu amo Picasso. Quem foi que contou para eles? Quem foi que contou para a Loly, para a Maria Olympia, para o Sidney, para a Ana, para a Célia, para a Yacy? Quem contou? Deve ter sido a mesma estrela que decidiu que o sol deveria estar em Escorpião quando nós três – vejam que bela folga! – viemos ao mundo! A verdade é que Picasso ainda era um menino e já pintava e desenhava como um Deus! E é importante que meninas, seus parceiros saibam disto.

Diz a lenda que seu pai olhou para um de seus quadros do começo da adolescência e aí deu seus pincéis para Picasso e disse: “Pintar é isso aí. Vai você!” O mesmo que o Dondinho fez com o Pelé. Que por sinal, nasceu no dia 23 de Outubro, exatamente 59 anos depois de Picasso. Primeiro decanato de Escorpião, perdão pela modesta companhia com que caminho pela vida astral! Picasso era um menino. A princípio, como com era vidrado pelo pai a quem pintou e desenhou inúmeras vezes – ele assinava Pablo Ruiz. Depois passou a assinar Pablo Ruiz Picasso. Mais tarde, já longe de casa, morto de saudade da mamãe, resolveu homenagear dona Maria e tornou o nome da mãe um nome universal. O nome da mãe dele, esclareço. Quer dizer: uma história para crianças! Grande ideia de fazer esse espetáculo. Li o texto, conversei com o pessoal, o Sidney me falou num bilhete modesto: “Estamos cortando os excessos. As outras verborragias aguardam o processo!” Quer dizer, uma criação consciente, sofrida, sentida, hermetopascoálica, coisa muito séria! O elenco, os autores, a companhia, todos vêm de compromisso muito bonitos com a inventiva, com o imaginário (epa!) com o processo criativo, com o recado que há no ato de viver do artista, com o retorcer dos seus sentidos. Vai dar certo! Este espetáculo, esta invenção, esta coisa posta no mundo pela inquietação de quem não quer a coisa feita e sonha com uma Invenção picassiana para a Vida, essa coisa vai dar certo. O astral é muito bom!
                                                                                                                                                                                                          Ziraldo