Matéria publicada no jornal Folha de São Paulo
Por Tatiana Belink – São Paulo – 1981

Teatro Infantil teve saldo positivo

O ano que está terminando viu a continuação do que já se convencionou chamar de “boom” do Teatro Infantil, que começou nos últimos anos da década de 70. O movimento teatral paulistano em 1981 foi grande: mais de 70 produções só de espetáculos em espaços cênicos abertos ao público de rua, sem contar com aqueles apresentados a portas fechadas em escolas, clubes, etc., por grupos conhecidos e pelos chamados “grupos fantasmas”. Poucos eram continuações da temporada do ano anterior e remontagens. A imensa maioria foi de textos originais brasileiros. Mais uma vez esta articulista assistiu aos mais importantes espetáculos infanto-juvenis.

Como tem acontecido nos últimos anos, da grande quantidade de produções podemos dizer tranquilamente que cerca de 15 por cento eram ótimas, entre tipos A e B, ou seja, produções mais ricas e mais modestas (o que não implica necessariamente em qualidade superior ou inferior). E mais uns 30 por cento eram decididamente de boa qualidade. Outros 10 ou 15 por cento podem ser considerados regulares. Depois vem o contingente inevitável das sofríveis, ou bem-intencionados, mas equivocadas ou malogradas por um ou outro motivo. Por fim, aquelas ruins mesmo, displicentes, ou feitas “a tapa” e queijando que sem as há, infelizmente.

Mas o bom é que o nosso teatro infanto-juvenil, quando dá de ser bom, sabe ser bom de verdade, em nível altíssimo, classe internacional, tanto na forma como no conteúdo.

Em 1981, o público infantil e juvenil paulistano teve uma ampla gama de opções no seu teatro no que se refere a gêneros, temáticas e tendências, o que é muito bom. Tivemos contos-de-fadas e “criticas” de contos-de-fadas, temas realistas e temas póeticos, relações humanas e ficção-científica, circos, palhaços, Commedia Dell’arte, ecologia, pantomina, teatro de bonecos, brinquedos e brincadeiras, criatividade, carnaval, folclore e folguedos populares, histórias de índios brasileiros, literatura adaptada, musicais de vários tipos, sátira e até adaptação de teatro grego e nem sei o que mais – houve de tudo.

Vamos citar alguns espetáculos (sem ordem de qualquer espécie) dentre os cerca de 40 melhores do ano. Histórias de Lenços e Ventos, História de um Barquinho, Luzes e Sombras, Os Misteriosos Pássaros de Barro, todos do teatro Ventoforte, de Ilo Krugli; Pirlim, do sempre bom Aldebarã; A Lenda do Puí, de Sérvulo Augusto e José Rubens Chassereaux; Como a Lua, de Vladimir Capella; O Planeta Lilás, do Siasanta; Os Corujinhas e o Decreto do Rei, dos Corujinhas; Caxuxa, de Ronaldo Ciambroni; Adeus Fadas e Bruxas, de Ronaldo Ciambroni, pelo Grupo Itaú; O Sonho não Acabou, de Ivan José e Fausto Brunini; A Menina que Perdeu o Gato enquanto Dançava o Frevo na Terça-Feira de Carnaval, de Marco Santana e Luís Carlos Gomes; Tribobó City, de Maria clara Machado; Pop, a Garota Legal, de Ronaldo Ciambroni; De Motina a Malatesta, do Teatro Nídia Lícia; O Gigante, de Valter Quaglia; O Mágico de Oz, do Grupo Kintal; os espetáculos semicircenses para crianças pequenas, de Valdemar Sillas (Aventuras do Palhaço Pimpão, O Porquinho Feliz e o Lobo Linguiça, A Incrível História do Palhaço Farofeiro); o Teatro Popular de Vic Militello (O Dragão e a Princesa e Cheiro de Chuva que Amanheceu); e mais Pequenas Histórias sem Pé nem Cabeça, de Valnice Vieira e José Geraldo Rocha; Bizim, o Menino do Espaço, de Afonso Coralov; O Capa Azul, de Lika Neaime; Fada Rock… Fada Rock, de Zeca Capelli; as pantominas Segurando a Ceroula, de Alberto Gaus, A Maga Maluca, de José Roberto Caprarole, e Cachorro que Come Queijo, de Amilton Monteiro.

O resultado, mais de 30 espetáculos entre ótimos e bons, é certamente animador. É mais do que se pode dizer da maior parte das grandes capitais do mundo. E alguns deles eram  mesmo grandes produções, ricas e elaboradas. Mas a maior parte tinha como maior riqueza a criatividade, o engenho e a arte.

É pena que o nosso teatro infantil ainda seja tão pobre, tão dependente de ajuda material oficial e extraoficial, e que poucos grupos, entre muitos merecedores, possam contar com um público considerável e constante – e isso mesmo à custa de muita batalha, muita correria e “filipeta”, muito “hard sell”. O público dificilmente vai “sozinho” ao teatro infantil, os pais e responsáveis ainda não estão conscientizados da importância desse lazer cultural. Mesmo assim, há alguns que podem contar com bom público quase sempre: Ilo Krugli, Nídia Lícia, Caprarole, os Corujinhas e Valdemar Sillas, por exemplo.

Positivas, em 1981, foram a presença e a atividade permanente da APETIJ, promovendo cursos e seminários, leituras dramáticas, debates e discussões, e, naturalmente, a grande promoção que foi o 5º Encontro Estadual de Teatro Infantil e Juvenil, importante e concorrido, uma semana inteira de atividades, de manha e à tarde – um sucesso, e a propósito, sem a prometida, concedida e última hora retirada ajuda da verba da CET…

Positiva também foi a aquisição de novos espaços para a critica do Teatro infanto-juvenil, nos jornais.