Matéria publicada no Jornal do Brasil
Sem identificação do Jornalista – Rio de Janeiro – 09.03.1980
Encontrarte – O Teatro alternativo retoma o seu espaço
Para discutir com os grupos de teatro alternativo uma melhor utilização do Centro Experimental Cacilda Becker – estimulando a troca de informações vivas e a busca de soluções mais coletivas para a produção artística – começa amanhã e irá até o dia 17 a Jornada de Teatro alternativo – ou Encontrarte. A programação inclui trabalhos de Oficinas de Prática Teatral, pela manhã na Sala Santa Rosa e à tarde na Sala Joel de Carvalho. À noite no Teatro Experimental Cacilda Becker haverá debates e apresentação de espetáculos.
Há cinco anos, o antigo Teatro Rio, no Catete, foi reformado: de teatro tradicional palco-plateia passou para teatro de arena para funcionar com um centro experimental para grupos de teatro alternativo. Nessa época surgiam de forma mais concreta grupos de teatro alternativo. Nessa época surgiam de forma mais concreta grupos de teatro que propunham uma estética nova. A ideia foi assinada pelo SNT e o centro seria utilizado então como sede de discussões dos grupos da época, além de espaço para ensaios e apresentações.
Com o passar do tempo, houve uma ruptura entre o que o grupo propunha e o que o teatro fez: o Cacilda Becker passou a ser ocupado com programação normal de teatro. Em maio do ano passado, quando o SNT criou um departamento especial para o teatro alternativo – e Almério Belém passou a representar o SNT na área do teatro experimental – o centro foi reativado. Desde então, grupos de teatro alternativo, às terças-feiras à noite, se reúnem no Cacilda Becker, tentando encontrar uma política de programação para o centro como um todo: a sala do teatro e as três salas daa sobreloja – Napoleão Muniz Freire, Joel Carvalho e Santa rosa.
No Cacilda Becker, ajudado por participantes de grupos de teatro que estão na jornada (Pede Chinelo, Minha Mãe não Vai Gostar, Dia a Dia entre outros), Almério Belém explica o processo eu trouxe os grupos de volta o centro:
– Não se sabe por que se demorou cinco anos para a retomada – diz om representante do SNT na área de teatro experimental. “Se analisarmos o momento histórico de 1975 e o de 1980, talvez possamos chegar a uma conclusão: pode ter sido devido ao próprio SNT, talvez medo ou desconfiança, mas isso são apenas suposições. ”
Quando Almério Belém chegou ao SNT – era presidente de uma produção de teatro independente e foi chamado quando vagou a direção do Cacilda Becker – sua primeira e principal reinvindicação foi a de que o espaço do Cacilda Becker só fosse utilizado a partir de discussões, três projetos começaram nas três oficinas da sobreloja do teatro: Grupo Pau-Brasil – desenvolvendo projeto a partir de notícias de jornais. Grupo Teatro de Câmara, com proposta de teatro de rua e Grupo Niterói. “Dos três, o único grupo que se sentiu isolado foi o Teatro de Câmara, que se viu dentro de uma sala quando sua proposta era teatro de rua”, diz Almério Belém. “A retomada das discussões também se deu a partir desses grupos, era meu ponto de referência”. Os grupos, além das discussões, têm apresentado ensaios aberto e exercícios como uma troca de informação.
Chegar à jornada foi um processo difícil – segundo Amério Belém – que encontrou o brasileiro desacostumado a discutir, fato refletido nos encontros de terça-feira no centro. “Muitas vezes surgiam propostas e não eram discutidas”, conta.
Para Da Costa, do Grupo Pede Chinelo, não foi apenas à dificuldade de discussão que atrapalhou o ritmo de trabalho dos grupos alternativos.
– O alternativo vem provar que é possível haver profissional, sem relação patrão empregado, mas sim relações onde as ideias sejam socializadas, além da parte econômica programada para uma nova estética. Queríamos que as coisas acontecessem não isoladamente, mas inter-relacionadas num novo método de trabalho. Conseguimos montar ano passado quatro espetáculos dentro dessa linha e que provam os resultados que podem ser conseguidos a partir da continuidade das discussões. É uma novidade dentro da política de teatro que se faz no Brasil: grupos que se reúnem para trabalhar dentro de um espaço e propor uma política a partir disso”.
A jornada, para os grupos de teatro alternativo, é a retomada para o que já poderia ser um trabalho amplo e estabelecido. “É o resultado de uma experiência em processo de amadurecimento e de necessidades surgidas dessa experiência. Não quer dizer que após a jornada a política do centro estará formulada formalmente, mas sim o que poderá ser feito em 80, uma política que seja a mais flexível possível”, explica Almério Belém.
A abertura da jornada no Teatro Cacilda Becker, será com o debate Os Caminhos e Descaminhos do Teatro Alternativo e suas Perspectivas, entre Amir Haddad, Pessoal do Victor, Almério Belém, João Siqueira e outros. Trata-se da experiência de teatro feita por grupos que se juntam para desenvolver um trabalho prolongado e não apenas um espetáculo. Vários grupos de teatro alternativo apresentarão seus espetáculos: Grupo Asfalto Ponto de Partida, com Sobre Estes Últimos Dias, Grupo Dia a Dia, com Quanto Mais Gente Souber, Melhor, Grupo Zumbi Estrela Cadente com Infância dos Mortos, Grupo Minha Mãe não Vai Gostar com Jogos na Hora da Sesta, Grupo Pede Chinelo com a Estória dos Meninos de Ferro.