Catálogo, 1971

Carlos Wilson Damião

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Carlos Wilson (Damião), Sergio Maron, Thais Balloni, Gedemar Baptista, Lupe Gigliotti e Silvia Fucs

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(INFORMAÇÕES DO CATÁLOGO COMEMORATIVO DOS 20 ANOS DO TABLADO)

(Capa)

TABLADO 20 ANOS
1951 – 1971

(Verso da Capa – Anúncios Kosmos Engenharia, Tablado Decorações)

(Página 01 – Foto: Joel de Carvalho, cenógrafo-figurinista; Nelly Laport. coreógrafa; Maria Clara Machado, autora-diretora; e Ubirajara Cabral, compositor)

TRIBOBÓ CITY

1 Ato
Comédia Musical de Maria Clara Machado
Música de Ubirajara Cabral

(Página 02 – Foto: J. C. Santa Rosa Dea Fernandes, Luciano Maurício e Maria Clara Machado no “Moço Bom e Obediente” direção de Martim Golçalves, 1951)

Dezembro 1951

Prezado diretor Celso Kelly:

O senhor foi ver O Moço Bom e Obediente e O Pastelão e a Torta dirigidos por Martim Gonçalves e Maria Clara Machado no Patronato da Gávea?

Dr. Celso, o Sr. sabe como é difícil encontrar espetáculos dessa qualidade, apreciados igualmente pela juventude e pelos adultos. A apresentação do Tablado, neste sentido é de primeira ordem. Mas talvez o público ache o Patronato fora de mão. Não se encontraria outro auditório, onde essas peças pudessem ser representadas.

Não é um espetáculo para o Municipal; o intuito era criar um Teatro de Câmara para a adolescência. (Alias, até o maravilhoso espetáculo japonês da Companhia Italiana Gassmann-Torrieri teria lucrado como O Jubileu de Tchekov num cenário e com atuação realística) e A Guarda do Túmulo de Kafka (em estilo formal) vê-se que um auditório do tamanho da Escola Arcoverde seria mais adequado. O grupo trabalha com humildade e espírito cooperativo; todos sabiam que, como marionetistas, não iam “aparecer” e que deveriam aprender uma nova técnica em ensaios e preparos diários e exigentes. O espetáculo apresentado é a prova de que Tablado merece apoio construtivo da sua parte, Dr. Celso! Poderá contar com isso?

Claude Vicent, Tribuna da Imprensa

(Página 03)

Tablado 15 Anos

Já é tempo de encaixar esta linha nos livros de efemérides brasileiras: “1951, fundação do Tablado”. Isto absolverá 1951 do que de ruim haja acontecido em sua faixa, e que não interessa recordar.

O que interessa é saber que o ano inaugural da segunda metade do século foi também o de uma iniciativa quase ingênua de jovens amadores de teatro; que essa iniciativa pegou; que elaborou e difundiu entre nós um conceito novo de teatro infantil, campo onde tudo passou a ser diferente depois de O Tablado aparecer; que contribuiu para atualização do teatro nacional com suas experiências e pesquisas; que formou diretores, atores, cenaristas, figurinistas, técnicos e uma autora de projeção internacional de peças aplaudidas tanto em Buenos Aires, como Paris e Moscou. Enfim, o tempo foi fazendo do Tablado uma verdadeira e particularíssima escola de teatro, com espírito jovial e esportivo, alheio a toda espécie de comercialização e vedetismo: escola que oferece de graça, aos quadros profissionais, um instrumento precioso de seleção de valores, e ao público em geral a alegria de contato sem formalismo com o teatro vivo, em estado de crescimento, em ato constante de criação.

(…)

Isto é O Tablado, com a equipe capitaneada por Maria Clara Machado. 15 anos em teatro, qual o santo que resiste? Se alguém consultar os jornais de 1951, verá que nenhuma organização carioca daquele tempo continua a existir. Muitos conjuntos se fundaram nesse “curto período”, muita coisa bonita se projetou e se executou, houve grandes momentos de dramaturgia empolgando o espectador, mas ninguém, nada resistiu à passagem do tempo e à variação de condições econômicas, técnicas e culturais em três lustros: o teatro avançou, caíram os conjuntos. Somente a plantinha frágil de Clara e seus companheiros – estes se substituindo a cada ano que passa, mas com um grupo de “fiéis” visceralmente ligados à sorte do Tablado – somente esse arbusto de nada, em que ninguém fazia fé, continua vivo e verde que te quero verde: todo aberto em flor, depois de tanta colheita de frutos, de gosto que é uma gostosura.

Carlos Drumont de Andrade – Do Correio da Manhã, 1966

(Página 04 – Anúncios)

(Página 05)

Tablado 20 Anos

Enquanto a gente não se aposenta, é muito difícil falar de um trabalho que ainda se está fazendo. Estamos envolvidos nele, não temos nem distância, nem isenção crítica para julgá-lo. Mas um programa de 20 anos exige, por força da curiosidade de nosso público, algumas declarações.

No nosso espírito, sobretudo no daqueles que se mantiveram fiéis ao trabalho durante todos esses anos, misturam-se sentimentos de satisfação, de saudosismo, de ufanismo, de mágoas, de queixas, de alegrias, de decepções, mas, acima de tudo isto fica um saudável orgulho que este teatro, atrás do riozinho da Avenida Lineu de Paula Machado, nos deixa na alma.

É estranho, mas quando olhamos para trás – e temos muito pouco tempo para isso porque o presente nos engole com todas as suas exigências – nos vem muito mais a sensação de uma realização humana do que de uma realização teatral. E sentimos fortemente que o teatro foi maravilhoso meio de alargarmos nossas vivências através do encontro com outros. É fácil para um tabladiano de hoje ou de ontem misturar Shakespeare, seu Wagner, Maria Clara Machado, Eddy Rezende Nunes, Checov, Viroca, João Sérgio Nunes, Stélio Roxo, Virginia Valli, Cadernos de Teatro, Martim Gonçalves, Jorge Carvalho, Arrabal, Vânia Leão Teixeira, Ana Letycia, Pluft, Dona Lulu, Synge, Nem, Sonho de Uma Noite de Verão, tio Eurico, Goldoni, Napoleão Moniz Freire, Carola, Carmen, Silvia Murgel, Reginaldo de Carvalho, Betty Coimbra, Molière, Dalcina Anézia, O Cavalinho Azul, Serviço Nacional de Teatro, seu Benedito, Garcia Lorca, Ian Michalski, Lea Affonseca, Geraldo Queiroz, Kalma Murtinho, Belá Paes Leme… Seria uma lista infindável. Esta mistura pode não ser habitual, mas é verdadeira.

Nestes 20 anos já fomos modernos, inovadores, conservadores, fechados, ignorantes, orgulhosos, acolhedores, decadentes, atrasados, reacionários, infantis, tatibitatis e mesmo maravilhosos aos olhos dos outros. Foi muito bom quando fomos maravilhosos. Nesses momentos sempre achamos que tínhamos descoberto a chave do sucesso eterno.

Foi bem desagradável quando fomos atrasados, decadentes ou ultrapassados. Neste momento de vaidade ferida, testamos nossa fidelidade, nossa capacidade de sobrevivência, apesar de tudo.

E sobrevivemos.

Descobrimos que o teatro sempre viveu em crise. Que crise é símbolo de possiblidade de crescimento, de transformação de um mundo que o teatro reflete. Que o teatro anda paralelo com essa transformação. O que é hoje novidade amanhã é velho. Essa transitoriedade que reflete a vida, no teatro, é a essência de todo o trabalho.

A experiência artística só é valida quando enriquece a experiência humana, vivificando-a.

E descobrimos que, mais importante que o fracasso ou o sucesso, é o que deles tiramos para nosso enriquecimento individual.

Vamos ver se resistimos mais 20 anos.

Maria Clara Machado

(Página 06 – Foto: Kalma Murtinho em O Baile dos Ladrões de Anouilh, direção de Geraldo Queiroz, 1955 e Foto: Carmen Sylvia Murgel e Rubens Correa em Tio Vânia de Checov, direção de Geraldo Queiroz, 1955)

(Página 07 – Foto: Nelson Dantas, Fred Amaral e João Augusto se preparando para a festa dos 5 anos, 1956 e Foto: Festa dos 5 anos – Marta Rosman, Ivan Albuquerque, Adila Araujo, Nem, Sônia Camargo, Maria Clara Machado, Germano Filho, Carmen Sylvia Murgel, Kalma Murtinho e Claudio Correia e Castro, 1956)

O Tablado em Cinco Anos – 1956

O Contrarregra (lendo): A história saudosista, a história de cinco anos de Tablado, sua gente, suas emoções, seus sucessos, suas decepções, seu destino. O roteiro de dezenas e dezenas de apaixonados do teatro que, neste canto da Gávea, realizaram um pouco de sua ambição artística, quer neste palco quer naquela bilheteria improvisada, quer atrás destes bastidores – escondidos anônimos e modestos – quer na brigada não menos anônima que vestiu, veste e vestirá os nossos espetáculos. A verdade para encurtar conversar as razões, é que O Tablado foi fundado em 1951, conforme atesta esta valiosa fotografia de nossos arquivos implacáveis, tomada no instante solene em que os pioneiros selavam ante o passarinho do fotógrafo sua heroica decisão de bem servir ao teatro nacional. Ei-la (Sabino projeta uma fotografia de barbados). Anos e anos passaram (sai, foto e contrarregra imita o tom de Nossa Cidade), mas a ponte continua a mesma, assim como mesmíssimos continuam os mosquitos, o excessivo calor dos verões, o frio glacial dos invernos, a tradicional boa vontade do público. Na realidade, apenas uma coisa mudou em nossa lagoa: um vizinho tornou-se prefeito. E um vizinho de antecedente trágico em nossa história, duas vezes barrado por excesso de lotação nesta plateia.

Olhemos um pouco mais fixamente… Sim, lá está o Tablado 51… – bancos de igreja e cadeiras emprestadas rangendo – tímido e apavorado. Estamos no dia da estreia, quando juntamente se verificou um atraso imperdoável, por falta de luz, movimentando todo o engenho e arte de artistas e espectadores.

Mas o público era camarada e recebeu bem a nossa cara Lulu, vocação de commedia dell’arte, primeira e improvisada atriz d’O Tablado, no seu rolê de distribuidora de cafezinhos… (apaga-se a luz). Nem, o que foi que aconteceu com a luz? (Aparecem todos os atores disponíveis iluminando a plateia com flashlights, fósforos e lampiões e servindo café. Após o café volta à luz). Mas a luz já esta reestabelecida e o pano vai se abrir para a primeira peça do programa: A Farsa do Pastelão e da Torta (Entra Jorge Leão Teixeira, que se recusa apresentar, e conta uma piada, interpelado pela R.P.)

Contrarregra (impaciente): Perdoem este ar de tremendo amadorismo, de festinha colegial, mas a verdade é que mal começávamos inexperientes, bisonhos. Mas tudo tem um limite! Comecem! (Seguem-se cenas de paródia de peças já apresentadas).

(Página 08- Fotos: Vânia Velloso Borges em “Pluft”, 1955 / Carmen Sylvia Murgel em “Pluft”, 1955 / Eddy Rezende em “Pluft”, 1955)

O espetáculo de O Tablado, nas diferentes partes, merece franco aplauso. Eis um grupo amador muito bem orientado e consciente de sua legítima finalidade. Gostaria que seu trabalho fosse mais regular e alcançasse maior público. Na pantomima, Maria Clara Machado deve aprofundar-se sempre, iniciando verdadeiramente o gênero entre nós (como intérprete na peça japonesa, talvez cansada pelo grande esforço anterior, não teve o mesmo rendimento). O Tablado tem uma missão a cumprir em nosso teatro amador.

Sábato Magaldi – Diário Carioca, 12-51

Tablado começou reunindo-se na casa de Aníbal Machado, diante do entusiasmo de Maria Clara, e seus componentes chegaram a possuir um pequeno teatro de marionetes. Muitas das peças que hoje apresentam, foram já apresentadas pelos seus bonecos.

Eneida – Diário de Notícias, 1951

O Tablado me revelou uma maneira de fazer teatro que só conhecera com os jovens de Cambridge, os artistas de Vittorio Gassmann, os Pitoeff e alguns elencos ingleses. Durante duas horas assisti a um programa do qual constavam: A Escola das Viúvas, de Jean Cocteau, tradução de Willy Lewin; um ato de mímica pela artista Maria Clara Machado e O Moço Bom e Obediente, peça à maneira japonesa, de Betty Ba e G. Stevens, tradução de Cecília Meireles. Eu me arrependo de não haver ficado de pé e gritado “Bravos” no final do espetáculo do Tablado, domingo último. Ficará para outra vez. Mas pode haver outras estreias na mesma noite que nenhuma delas me deixará perder a próxima d’O Tablado.

Paschoal Carlos Magno – Correio da Manhã, 10-9-1952

Domingo, tive a maior alegria do meu ano teatral: bati palmas com centenas de crianças que tinham assistido a O Boi e o Burro. Maria Clara Machado deu às crianças de todas as idades, um presente de Natal inesquecível: a história de nascimento do Nosso Senhor em palavras de pura poesia, mas que a criança pega sem saber exatamente como. “O que é mistério, pai?” – perguntou um senhorzinho de seus cinco anos ao meu lado. No entanto, ao ver Nossa Senhora subir lentamente a estrada até o estábulo, carregando o Filho ainda não nascido, essa criança terá sempre gravado, na sua visão, o símbolo desse mistério…

Claude Vincent – Tribuna da Imprensa, 16-12-53

Quando escrevo minhas peças procuro imprimir as impressões mais vivas da minha infância, a fim de que sua ação e suas palavras toquem o mais perto possível a sensibilidade das crianças. Quando as dirijo, procuro antes de tudo a agilidade e a vivacidade nas marcações, já que o gesto, no teatro para crianças possui uma importância particular.

Maria Clara Machado – Correio da Manhã, 21-8-1954

Thornton Wilder, em sua peça Our Town indica vários hinos religiosos que deverão ser entoados no transcursi da ação dramática. O grupo d’O Tablado (que vem de estrear, no teatrinho do Patronato da Gávea, este clássico do teatro moderno) lutou com enorme dificuldade para obter a letra de duas melodias. Como a peça já estivesse pronta e não fosse possível arranjar os versos de uma delas, o escritor Aníbal Machado resolveu escrever uma letra, bem no estilo metodista. O Hino de Aníbal (conforme passou a ser denominado) está causando grande sucesso todas as noites no Tablado.

Do Correio da Manhã, 23-9-1954

A primeira pessoa a comprar cadeira cativa n’O Tablado foi a Sra. Anne Meek Logan, adido cultural adjunto da Embaixada dos Estados Unidos. Também estiveram presentes ao Baile dos Ladrões, adquirindo cadeiras, o Sr. Rodrigo Otávio Filho e família, o Sr. e Sra. Austegésilo Athayde, Sra. Paulo Sampaio, Dra. Regina Leal, de São Paulo, Sr. e Sra. Paulo Emílio Sales Gomes, escritor José Lins do Rêgo e família, Sr. e Sra. Carlos Perry e muitos outros.

Da Tribuna da Imprensa, 18-5-55

O Tablado é uma instituição democrática. As decisões se discutem em sessão, e tanto as “estrelas” como os “contrarregras” trabalham para o sucesso da produção. Assim, às vésperas de Baile dos Ladrões, dirigido por Geraldo Queiroz, Carmen Silvia deixou o hábito de freira, no Teatro Copacabana (Diálogo das Carmelitas) por afazer serão com Kalma Murtinho e outras, costurando as saias justinhas a 1914, para a peça de Anouilh.

Claude Vincent – Tribuna da Imprensa, 17-5-1955

(Página 09 – Fotos: Kalma Murtinho em Pluft , 1955 / Bárbara Heliodora em A Bruxinha que era Boa de MCM,1958 / Paulo Mathias em O Jubileu de Checov, direção de Ivan Albuquerque, 1958)

Os melhores atores da peça (O Baile dos Ladrões) são os Dupont-Dufort père et fils Claudio Correia e Castro e Napoleão Muniz Freire, perfeitos como banqueiros sequiosos e sem imaginação, e Lord Edgard, interpretado por Nelson Dantas.

Tribuna da Imprensa, 20-5-55

O Espectador escreve:
“Amigos de O Tablado. Tivemos de sair no domingo p. p. já às 15 horas para podermos assistir ao seu magnífico espetáculo, às 18 horas, e só as 22 horas chegamos de volta em casa. Mas valeu a pena !!! Queriam maior elogio ?? Desde as primeiras emoções de Nossa Cidade esperei pela oportunidade de levar tôda a família ao seu teatrinho, usando este diminutivo só em relação às dimensões, pois, na verdade é um verdadeiro Schauspielhaus, que ajuda a inocular nos filhos adolescentes o interesse e o amor nas artes cênicas mais apuradas. Não haverá possibilidade de reprisar, mesmo por pouco tempo, esta tocante peça que é Nossa Cidade? Estejam certos, que ela se tornará novamente um sucesso. Gratos por duas horas de alegres sem vulgaridades”.

Philipp Minner e tôda a família. Niterói, 23-5-55

O Tablado está realmente com outra cara depois que instalaram aquelas 250 bonitas poltronas, perdendo muita daquele ar de acanhamento e improvisação – já é uma sala que pode rivalizar com muita casa em funcionamento no Rio de Janeiro. Naturalmente, o melhoramento esvaziou os cofres do grupo, onde mesmo o talento financeiro de Eddy Rezende (espécie de Joaquim Murtinho de saias) não conseguiu evitar a ameaça de déficit, logo enfrentada com a campanha para vendas de cadeiras perpétuas, à razão de Cr$ 500 (velhos). Trata-se, realmente de um excelente negócio e um emprego de capital que virá auxiliar um dos mais sérios grupos experimentais do Brasil. O dono de uma cadeira terá direito a comparecer a todas as estreias d’O Tablado.

Do Correio da Manhã, 28-4-55

Vai estrear nos primeiros dias de outubro a peça infantil de Maria Clara Machado, com cenários de Napoleão Moniz Freire e indumentária de Kalma Murtinho. MCM, encantada com o fantasminha que Hilde Weber desenhou para a primeira notícia da peça, recebeu de Hilde o original que guardou carinhosamente. Agora manda um recado, por nosso intermédio, pedindo a Hilde o direito de utilizar o desenho na capa do programa d’O Tablado. Pode ser, Hilde? Todos os fantasmas hão de lhe ficar muito gratos.

Da Tribuna da Imprensa – 22-9-55

Tablado nunca foi fundado. E só agora, depois de três anos, com oito peças montadas, é que nos atrevemos a dizer: O Tablado é uma experiência vitoriosa. Só agora é que podemos contar a sua história. O Tablado resultou de um bate papo na copa da casa do escritor Aníbal Machado, num dia de 1951, numa das suas tradicionais domingueiras. Bate papo entre dois jovens de grande conhecimento teatrais e, é preciso acentuar, de muito talento e muita vontade de vencer: Maria Clara Machado e Martim Gonçalves.

Napoleão Moniz Freire

Parece um exagero montar peça infantil com tanta beleza de figurinos, esse apuro no representar, essa magia plástica que é o espetáculo-padrão d’O Tablado. Criança não precisa tanto? Engano. O Tablado está sempre inventando novas bossas para cativar o pequeno espectador exigente, que reage espontânea e imprevistamente à margem da crítica, dos valores estabelecidos, da publicidade e do resto. E esse espectador aprova Maria Clara, aqui, na Argentina, em Paris, na Rússia, em qualquer parte. Correio da Manhã Napoleão Moniz Freire: O Tablado nunca foi fundado. E só agora, depois de três anos, com oito peças montadas, é que nos atrevemos a dizer: O Tablado é uma experiência vitoriosa. Só agora é que podemos contar a sua história. O Tablado resultou de um bate papo na copa da casa do escritor Aníbal Machado, num dia de 1951, numa das suas tradicionais domingueiras. Bate papo entre dois jovens de grande conhecimento teatrais e, é preciso acentuar, de muito talento e muita vontade de vencer: Maria Clara Machado e Martim Gonçalves. Carlos Drumond de Andrade: Parece um exagero montar peça infantil com tanta beleza de figurinos, esse apuro no representar, essa magia plástica que é o espetáculo-padrão d’O Tablado . Criança não precisa tanto? Engano. O Tablado está sempre inventando novas bossas para cativar o pequeno espectador exigente, que reage espontânea e imprevistamente à margem da crítica, dos valores estabelecidos, da publicidade e do resto. E esse espectador aprova Maria Clara, aqui, na Argentina, em Paris, na Rússia, em qualquer parte.

Carlos Drumond de Andrade – Correio da Manhã

Claudio Corrêa e Castro, o novo ator que faz o papel de Contrarregra de Nossa Cidade, no Patronato da Gávea, com o elenco d’O Tablado, dirigido por João Bethencourt, primo de Kalma Murtinho e Carmen Sílvia Murgel, além de ator estreante é um músico de valor, que encontra, neste seu primeiro papel, um contato extraordinário com a plateia. Nada tem de estreante.

Da Tribuna da Imprensa, 25-10-54

(Página 10 – Fotos: João Sérgio Marinho Nunes em Sganarelo de Molière, direção de Brutus Pedreira, 1952 / Marta Rosman em O Cavalinho Azul, 1956 / Rubens Corrêa em A Sombra do Desfiladeiro, 1956 Ana Letycia, quando terminava o cenário de Maroquinhas Frú-Frú, 1961)

No dia da sessão para a crítica (Baile dos Ladrões), a classe teatral também teve lá representantes: Gianni Ratto, Flaminio Bollini, João Bethencourt, Betriz Veiga, Nicette e Eleonor Bruno, Danilo Ramirez, Ana Edler e outros mais ainda.

Da Tribuna da Imprensa, 18-5-55

sobre a mise-en-scène que criou para a peça de Claudel: Uni minhas experiências no teatro de marionetes à inspiração japonesa e ao expressionismo, que já utilizara na Via Sacra, procurando realizar, com a participação de elementos plásticos, musicais e coreográficos uma tentativa de teatro total. Os principais intérpretes da História de Sara e Tobias são: Nelson Mariani, Beatriz Veiga, Napoleão Moniz Freire, Virgínia Valli e Osvaldo Loureiro. Os recitantes são: Paulo Araújo, Carminha Brandão e Ivan Albuquerque. A peça é ilustrada ainda por dois coros (masculino e feminino) e por dois mímicos: Oswaldo Neiva e Germano Filho. Geni Marcondes criou os efeitos sonoros.

Martim Gonçalves fala ao Diário Carioca, 10-7-55

No momento, ensaia O Tablado duas peças apesar do desfalque sofrido com a ida de três de seus elementos para os Artistas Unidos, onde figuram no Diálogo das Carmelitas: Maria Clara, Paulo Padilha e Carmen Sílvia Murgel. Martim Gonçalves trabalha incansavelmente na História de Sara e Tobias de Paul Claudel, que será apresentada numa tradução de W. Lewin durante 36o. Congresso Eucarístico. A outra montagem, quase concluída deverá inaugurar as reformas efetuadas no teatrinho e tem sua estreia fixada para o meio do próximo mês. Trata-se da comédia-balé de Anouilh – O Baile dos Ladrões – cujo o lançamento assinalará também o lançamento de mais um jovem diretor: Geraldo Queiroz, Aliás, o ano passado, O Tablado apresentou ao público outro diretor moço, João Bethencourt, cujo trabalho em Nossa Cidade foi credor de uma medalha votada pela crítica carioca. Geraldo contará com interessantíssimos cenários de Bela Betim Pais Leme, uma artista sempre ligada às boas e belas iniciativas do nosso teatro e com figurinos de Kalma Murtinho.

Do Correio da Manhã, 28-4-55

Senhoras e senhores do Rio de Janeiro, com filhos ou sem filhos: arranjem companheiros-mirins e tomem o caminho do Patronato da Gávea! No palco verão um sofá de casa pertinho do mar, onde, num baú grande, dorme o tio Gerúncio (Germano Filho), numa cadeira de balanço, faz tricô a Srta. Fantasma (Kalma Murtinho) e, brincando com uma caravela, vive Pluft (Carmem Sílvia), com medo louco de gente.

Claude Vincent – Tribuna da Imprensa, 4-10-55

(Página 11 – Fotos: Joel de Carvalho / Dirceu Nery, Cenógrafo com Marie Louise Nery de A Menina e o Vento, autor, também com Marie Louise das máscaras de Noé, 1957, os bichos do Cavalinho Azul, etc.)

Os Melhores do Ano – 1956

Espetáculo: O Macaco da Vizinha, comédia em 1 ato de Macedo, direção de Alfredo Souto de Almeida. O Tablado.

Melhor Cenógrafo: Anísio Medeiros, em A Sombra do Desfiladeiro n’O Tablado.

Melhor Figurinista: Anísio Medeiros, em A Sombra do Desfiladeiro n’O Tablado. Ivan Albuquerque: foi escolhido como um dos atores mais promissores do ano, pelo seu trabalho n’O Macaco da Vizinha, n’O Tablado.

Ivan Albuquerque: foi escolhido como um dos atores mais promissores do ano, pelo seu trabalho n’O Macaco da Vizinha, n’O Tablado.

Os Melhores para a Crítica Paulista

Melhor Autor Nacional: Maria Clara Machado, com Pluft, o Fantasminha, encenação d’O Tablado no Teatro Natal. Melhor Espetáculo Amador: Pluft, o Fantasminha, pelo grupo O Tablado.

Prêmios na Bienal (VI) de São Paulo

A III Bienal de Teatro concedeu menção honrosa ao Tablado pelas suas realizações no teatro infantil, com o cenário de Ana Letycia, os figurinos de Kalma Murtinho e os bichos de Dirceu Neri e Marie Louise Neri nas peças O Cavalinho Azul e Maroquinhas Fru-Fru. O Globo, 12-10-61

Menção honrosa ao Grupo O Tablado do Rio de Janeiro, pela realização do Teatro Infantil. Jornal do Comércio, 23-9-61

Falta coragem e senso de organização para que o grupo da Gávea possa ocupar o lugar que o teatro precisa que ele ocupe. N’O Tablado, o coração está no lugar certo, mas a cabeça está fora do lugar. Seus animadores parecem hoje dormir sobre os louros já conquistados. Trabalham cada vez menos.
Paulo Francis opina sobre O Tablado – Tribuna da Imprensa, 24-4-57

(Página 12 – Fotos: Paulo Araujo e Germano Filho em A Sombra do Desfiladeiro de Synge, direção de M. Clara Machado, 1956)

Coral do Tablado – Sob a regência de Roberto De Regina, o coral d’O Tablado dará três espetáculos públicos nos dias 18, 21 e 25 do corrente, no Patronato da Gávea.

Tribuna da Imprensa, 19-9-57

Em três de suas cenas mais recentes (O Embarque de Noé, Maroquinhas Fru-Fru e agora A Gata Borralheira) MCM deu clara indicações de se estar (inconscientemente) afastando do teatro infantil. O que é bom em a A Gata Borralheira é justamente o que é comedia de costumes; mas é preciso convir que todo o melhor diálogo passa muito acima da plateia realmente infantil.

Bárbara Heliodora – Jornal do Brasil

Os espetáculos infantis d’O Tablado têm uma animação pessoal e intransferível, baseada, em parte, no desenho animado americano – a maior influência cultural sobre a diretora MCM – numa tendência crescente para o movimento dançado e para a fusão de texto e música. O histrionismo é fortemente carregado de mímica. Em suma, O Tablado já dispõe dos ingredientes que poderiam resultar num estilo, mas, por motivos vários, não evolui; seu trabalho quase sempre sugere improvisação e mau acabamento. Isto se deve, até certo ponto, à não fixação de um elenco, ou seja, nunca se consegue aquela homogeneidade e coerência orgânica necessárias, a um conjunto: os atores, quando adquirem um certo prestígio, profissionalizam-se, deixando o grupo.

Paulo Francis – Última Hora

(Página 13 – Foto: Cláudio Corrêa e Castro e Maria Clara Machado em Tio Vânia de Checov, direção de Geraldo Queiroz, 1955)

Quando se escrever a história do Teatro de nossos dias, O Tablado figurará com merecido destaque. É na verdade o grêmio amadorista do Jardim Botânico um reduto de entusiasmo pelo bom teatro. Dentre as várias realizações meritórias d’O Tablado, os Cadernos de Teatro se incluem como das mais louváveis e úteis.

Edgar de Alencar – A Notícia, 25-11-60

O Tablado, no Rio, e O Teatro de Arena, em São Paulo, contribuíram em ponto menor para aliviar a situação, formando equipes de novos por sua conta, sem serem tributários do TBC.

Paulo Francis – Diário Carioca, 1-6-58

O Tablado e MCM estão de parabéns pelo sucesso alcançado no I Festival de Teatro Infantil, a feliz iniciativa de Edmundo Moniz e do SNT, que durante domingos levou crianças cariocas ao Teatro João Caetano. O júri do Festival Classificou A Bruxinha que era Boa como espetáculo hors concours, tais as qualidades exibidas pelo texto e pela encenação.

Do Correio da Manhã, 22-6-58

Kalma e o Anjo Carlos
Drummond de Andrade

Era uma vez um anjo,
por sinal mui ladino.
Ao ver o desarranjo
de seu traje mais fino,

que fez para evitar
o reproche divino?
Foi logo encomendar
a Kalma um figurino.

E assim todo elegante
anjo mesmo alinhado,
pairou por um instante
abençoando o Tablado.

O bom Jesus-Menino,
agora, a toda alma repete,
ao som do sino:
Figurinista? É Kalma.

(Página 14 – Foto: Napoleão Moniz Freire, Nelson Mariani e Beatriz Veiga em Sara e Tobias de Paul Claudel, direção de Martim Gonçalves, 1955)

O Tablado está de cara nova depois do incêndio modesto e bem humorado que há meses tentou, mas vê lá se podia, acabar com o teatrinho à beira-rio, na Gávea. Aliás, modesto e bem humorado é tudo quanto aquele grupo amadorístico faz, o que não exclui, antes acentua a dignidade de sua orientação artística e a aplicação profunda que põe na elaboração de seus espetáculos. O cadeiral novo, o pano de boca, a decoração de Jorge de Souza Hue, tudo está dizendo que se pode fazer, brincando, uma coisa séria, e que um conjunto sem capital, sem intuito mercantil, sem pretensão à glória é capaz de produzir 19 peças, de Molière a Thornton Wilder, apurando gradativamente seu estilo.

Carlos Drumond de Andrade – Correio da Manhã, 30-5-57

(Página 15 – Foto: Geraldo Queiroz, Belá Paes Leme e Kalma Murtinho num ensaio de “O Baile dos Ladrões” de Anouilhe, 1955)

O Cavalinho Azul, a nova peça infantil de MCM, que O Tablado estreou esta semana, tem um papel muito importante dentro da obra da autora e no panorama geral do teatro para crianças no Brasil. Maria da Penha (4 anos) fala d’O Cavalinho Azul: – Gostei do Cavalinho Azul. Eu tenho um, mas é preto.

Rubem Rocha Filho

Leitura de Os Justos, n’O Tablado dias 22/26: Nos próximos dias 22 e 26 do corrente, O Tablado promoverá em seu teatro, na Av. Lineu de Paula Machado, 795, Jardim Botânico, às 21 horas, com entrada franca, leituras da peça Os Justos, de Albert Camus, sob direção de Ian Michalski e com a participação de Jacqueline Laurence, Ana Maria Magnus, Antero de Oliveira, Pedro Pimenta, César Tozzi, Milton José Pinto, Ivan Junqueira, Luís de Afonseca e Delson de Almeida.

Diário de Notícias, 9-8-60

Um moço vindo de São Paulo, com vários cursos de teatro feitos na Europa, chamado Sérgio Viotti, é o diretor da presente apresentação do Tablado: D. Rosita a Solteira. É homem dotado de espírito profundo das coisas que dizem respeito ao teatro, com uma visão total de todos os problemas da cena. Sua versão de Rosita promoverá seu virtual ingresso no quadro de diretores de melhor quilate da atual geração de jovens realizadores em atividades no Rio.

Haroldo Holanda – Mundo Ilustrado, set./1960

O Tablado continua mostrando o abc do palco com mais eficiência do que muita escola de teatro. Os recursos de MCM, além da seriedade que ela imprime a tudo o que faz, são inteiramente práticos. Os estreantes, nos meses de ensaio e nas aulas de improvisação diárias, estão sempre em cena praticando. Assim, em cada peça (como no atual Androcles e o Leão e no Sonho de Uma Noite de Verão, em 1964) há dezenas de jovens que acabaram de aprender a projetar a voz e a se movimentarem no palco, possuidores das noções básicas do ator e imbuídos de uma mentalidade de trabalho ainda escassa em nosso ambiente. O Tablado, talvez porque publique a revista Cadernos de Teatro, e porque não existe órgão estatal competente, faz as vezes de um centro cultural e informativo de teatro. Diariamente, de todo o Brasil, chegam pessoas e cartas querendo saber como se monta uma peça, que repertório se escolhe, como se prega e pinta um cenário. Dentro desse objetivo didático se enquadra o curso para professores que MCM organiza nas férias, visando a orientar gente do interior que pensa principalmente utilizar o teatro dentro da escola.

Rubem Rocha Filho – O Estado de S. Paulo, 24/12/66

Nos seus dez anos apresentando atores, diretores, cenógrafos, e figurinistas, formando plateias jovens e consolidando uma dramaturgia, o Tablado causa inveja a qualquer instituição governamental dedicada a cultura do teatro.

Rubem Rocha Filho – Estado de S. Paulo, 1966

(Páginas 16 e 17 – Foto: Joel de Carvalho e Raquel Levy em O Embarque de Noé de Maria Clara Machado, direção da autora, 1957 / Napoleão Moniz Freire, Kalma Murtinho, Maria Sampaio, Germano Filho, Ivan Albuquerque Corrêa em O Tempo e os Conways, direção de Geraldo Queiroz , 1957)

O Tempo e os Conways. O Tablado. Dia 27 de maio de 1957. Patronato da Gávea. 1o. Intervalo – Chuva (como em quase todas as estreias d’O Tablado) e casa lotada. Gente de pé pelos corredores, apinhada na escada e nas portas. Entre os presentes: Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Belá Paes Leme, Gianni Ratto, Ziembinsk, Milor Fernandes, Brutus Pedreira, Mário da Silva, Paulo Francis, Aníbal Machado, Sarah e José Cesar Borba, Van Jafa e Adriano reis, Agostinho Olavo e José Maria Monteiro, Célia Biar (elegantíssima), Maria Helena, Beatriz Veiga, Leonardo Vilar, Beila Genauer, Milton Morais, Sebastião Vasconcelos, Paulo Araujo, Gracinda Freire, Zilka Salalerry, Waldir Maia e Sra., Ivan Cândido, Francisco Serrano, Paulo Goulart e Nicette Bruno, Nestor Montemar, Nilson Pena (vestido de “diabo cospe vermelho”), Adila Araújo, Edson Silva, Silvana Dorneles, Nelson Mariani (muito bem sentado), Paulo César Sarraceni, Maria Pompeu. Simpática a decoração de Jorge Hue. A chuva fez a piada: o mau tempo e os Conways.

2º.Intervalo – O público querendo continuar no clima do 1o. ato, rindo demais, atrapalhando um pouco. A chuva aumenta e os atores parecem falar mais baixo. A sala também parece ter ficado mais cheia. Maria Sampaio elogiada pelo seu final de ato. Ziembinski entusiasmado (via pela primeira vez O Tablado), disposto a dirigir uma peça com a turma da Gávea. Alguns acham Pristley o Pedro Bloch da Inglaterra. A maioria achando que foi a melhor direção de Geraldo Queiroz. Belá Paes Leme conversa sobre os cenários que fará para a próxima peça de MCM: O Embarque de Noé. Bárbara Heliodora, Lia da Costa Braga e Julinha Pena da Rocha heroicamente assistindo de pé, espremidas contra a parede.

3º. Intervalo – Depois do choque do 2.o ato, o público acalma-se um pouco, conhece mais os personagens e preocupa-se com o “em que dará essa volta”. Reage completamente atingido. Choros, lenços, pigarros na platéia. 8 cortinas (1 para Maria Sampaio). Depois do espetáculo, convite para reunião chez Sônia Camargo. Previsão: uma boa carreira para a peça. E mais um sucesso para O Tablado.
João AugustoTribuna da Imprensa, 29-5-57

(Páginas 18 e 19)

TRIBOBÓ CITY

Elenco

Pianista-Juiz Surdo-Mudo: René Reis Braga
D. Cafeteira Rochedo: Lupe Gigliotti
Senhorita Caixa Registradora: Vânia Velloso Borges
Homem do Bar: Ronald Fucs
Al Gazarra, um Bandido: Bernardo Jablonski
Joana Charuto, a Pistoleira: Silvia Fucs
Mocinho de Souza: Ricardo Filgueiras
El Mexicano, um Cearence: Carlos Wilson Silveira
John Maronete, Advogado: Sérgio Maron
Gedemar White, Prefeito de Tribobó: Gedemar Baptista
Cow-Boy: Joseph Michelucci
Marly Marlene: Silvia Nunes
Maria Belezoca, Falsa Marly: Thais Balloni
Dançarinas, Bandidas em Potencial
Baby Aracy: Lilá Sant’Anna
Baby Arlete: Anamaria de Castro Moreira
Baby Nenem: Marília Boabaid
Baby Bombom: Ernestina Filgueiras

Índios Mescaleros:
Milton Dobinn, Sura Berditchevsky, Ricardo Neumann, Beto Hannequim, Joseph Michelucci, Eduardo Tornaghi, Lucia Casoy, Walf Maya, Ronaldo Formiga, João Carlos Motta, José Jorge, Rosângela Azeredo, Renato Guimarães, George Diab e Mario Gomes.

Ficha Técnica

Direção: Maria Clara Machado
Cenário e Figurinos: Joel de Carvalho
Direção Musical: Ubirajara Cabral
Coreografia: Nelly Laport
Assistente de Direção: Amicy Santos
Direção de Cena: Renê Reis Braga
Iluminação: Jorge Carvalho
Contrarregra: Sura Berditchevsky, George Diab
Sonoplastia: Lucia May
Execução de Figurinos: Odalea Manso
Cartaz: Elber Duarte
Execução de Cenário: Wagner dos Santos
Programa: Virginia Valli

A letra das músicas É Preciso Trabalhar e É Melhor ser Pistoleira são de Lilá Sant’Anna.

(Página 20 – Foto: Fernando José e Ian Michalski em O Rapto das Cebolinhas de Maria Clara Machado, 1954)

O Tablado apresenta

O Mal Entendido, de Albert Camus
Estreia Amanhã, às 21,3
Av. Lineu de Paula Machado, 795

O Tablado estreou ontem, em sessão destinada aos proprietários de cadeiras cativas, O Mal-Entendido, de Camus, na direção de Ian Michalski, com Jacqueline Laurence, Marta Hosman, Maria Clara Machado, Hélio Ari Silveira e Paulo Nolasco.

Da Tribuna da Imprensa, 21-9-61

Música de Carlos Lira n’O Tablado – A música de Carlos Lira é valiosa contribuição para o êxito de Maroquinhas Fru-Fru. O cenário de Ana Letícia, executado por Jardel, ingênuo, funcional e em consonância com o espírito da peça. A iluminação é de Fernando Pamplona.

A Notícia, 30-8-61

O Tablado tornou-se um autêntico celeiro provedor do teatro brasileiro. Atores, artistas e técnicos surgiram e foram lançados pelo Tablado. E mais importante ainda, gerou outros grupos, permanecendo fiel e abnegado à sua missão. Sua missão consiste em emplumar os pássaros, ensinar-lhes a voar e deixá-los ganhar novos horizontes.

Van Jafa – Correio da Manhã, 4-5-61

Nos dez anos de existência d’O Tablado, muitos foram os artistas que ali se formaram artistas que, hoje se destacam no teatro profissional. O Tablado não é apenas um grupo amador ou um teatro-escola. É o único teatro experimental que possuímos no Rio e, das experiências que se atreveu, a mais ousada constitui êxito completo: foi o fato de ter selecionado peças modernas e virtuosas (no velho sentido latino da palavra virtude), e textos que contêm esperança e dão vontade de viver.

Zora Seljan – O Globo, 3-5-61

Arlequim, Servidor de Dois Amos – Um ótimo espetáculo, que diverte e instrui. Recomendamos com entusiasmo. Artistas: Flávio de São Tiago (Arlequim), Olnei Barrocas, Celina Whately, Regina Gudole, Leila Renato, Sérgio Maron, Pedro Proença e outros. Como sempre, ótimas as máscaras de Dirceu Neri.

Acioly Netto – O Cruzeiro

(Página 21 – Foto: Acir Castro, Flavio de São Thiago, Djenane Machado, Ana Maria Ribeiro e Aminta Duvivier em Sonho de uma Noite de Verão de Shakespeare, direção Maria Clara Machado, 1964)

O Tablado agradece:
Ney Barrocas, Tecelagem Moderna, Luzeletro, Cigarros “Souza Cruz”, Charutos Suerdieck

(Página 22 – Foto: Celina Whately e Flávio de São Thiago em Arlequim Servidor de Patrões de Goldoni, direção de Maria Clara Machado, 1965 / Anúncio: Chaplin Sandwiches)

O Tablado prossegue na sua tarefa de formação de uma plateia juvenil, que aqui poderá tomar contato com um capítulo da história do teatro ao qual dificilmente teria acesso através de uma produção profissional. Mas este espetáculo talvez o mais específico para jovens que MCM já tenha feito, se ressente do caráter intermediário da idade do público ao qual predominantemente se dirige: o Festival Medieval tem muito do teatro infantil; e pode sem susto ser visto por adultos, mas não chega a ser teatro para adultos. Ora, o teatro para crianças tem suas características próprias e o teatro para adultos também; mas o teatro jovem – pelo menos aqui – não as tem: é apenas um meio-termo, um produto um tanto híbrido e indefinido.

Ian Michalski – JB, outubro 67

(Página 23 – Foto: Claire Isabela e Antero de Oliveira em O Cavalinho Azul de M.C.M., 1960)

(Página 24 – Foto: Carlos Augusto Nem e Claude Haguenauer em Barrabás de Ghelderode, na direção de Maria Clara Machado, 1963)

Maria Clara realiza n’O Tablado um espetáculo visual de rara beleza. Seu teatro infantil tangencia a obra de arte e é muito mais do que um espetáculo para crianças. A montagem ambiciosa (no bom sentido), o cuidado na execução geral do ambiente, a simplicidade intencional, tudo confere a O Cavalinho Azul um lugar de destaque no nosso panorama teatral. Ana Letycia está de parabéns pelo cenário e pelo cartaz. A luz de Fernando Pamplona funciona milimetricamente, A música é a melhor que até hoje ouvi em espetáculos de teatro. Uma delícia de simplicidade, de sugestão de modinha, sublinhando com perfeição o que desenrola. Parabéns a Reginaldo de Carvalho. Marie Louise e Dirceu Neri fazem os bichos, lindos – aqueles elefantes me alegram a alma, a fantasia é como um bálsamo, a dança dos elefantes me comunicou a salvação.

Walmir Ayala – Revista Leitura

Se lhe faltassem quaisquer outras qualidades, O Cavalinho Azul, com a sua produção de excepcional qualidade plástica, serviria como exemplo dos mais positivos do que o teatro pode ser como adestramento estético do público infantil.

Bárbara Heliodora – JB, 28-5-60

Na interpretação do Cavalinho Azul há uma quase uniformidade, com dois desempenhos excepcionais: Claire Isabela e Virginia Valli.

Walmir Ayala – Revista Leitura

O CUQT (Círculo Ultraindependente de Críticos Teatrais), grupo de artistas d’O Tablado que se reúne anualmente para premiar seus próprios componentes, também festejou Shakespeare, apresentando uma sessão comemorativa, com discursos, show e uma homenagem especial ao bardo, que teve seus quatrocentos anos apresentados numa história em quadrinhos por Virginia Valli. Na mesma ocasião, o Clube dos Sete ou Oito Amantes de Shakespeare, ofereceu à Sra. Bárbara Heliodora um diploma de honra.

De O Globo

E O Tablado continua a lançar a gente moça no teatro. Com Androcles e o Leão, foi lançado Carlos Vergara como cenógrafo

(Página 25- Foto: Jacqueline Laurence, Ivan Albuquerque e Germano Filho em O Jubileu de Checov, direção de Ivan Albuquerque, 1958)

(Página 26 – Foto: Oswaldo Neiva, Virginia Valli, Kalma Murtinho e Paulo Padilha, na Via Sacra de Henry Gheon, 1953)

Sem muita publicidade em torno do seu novo Lançamento, de maneira bastante discreta, O Tablado acaba de estrear um dos seus melhores espetáculos, pelo menos dos últimos anos, com a peça de MCM Maria Minhoca. Se nas obras da autora sempre houve um equilíbrio entre uma poesia de indiscutível qualidade (cheguei a falar aqui de Saint Exupery, a propósito de Pluft, O Fantasminha e O Cavalinho Azul, por exemplo) e uma graça viva e inteligente, que temperava aquela outra componente, nas peças mais recentes, sem abandonar de maneira alguma sua veia lírica, que continua do mesmo nível, MCM tem desenvolvido mais ainda um lado humorístico.

Henrique Oscar

O espetáculo conta com um cenário daquele extraordinário gosto que Ana Letycia acostumou todos a esperarem de seus trabalhos. Suas roupas são muito boas, algumas com detalhes engraçadíssimos. A coreografia de Nelly Laport completa a valorização desse espetáculo animado, movimentado, com suficiente ação para assegurar o interesse do público mais jovem, mais sem a condenável exacerbação, o tumulto que é lamentavelmente comum nas nossas representações rotineiras para crianças.

Diário de Notícias

(Página 27 – Foto: Excursão a Maceió, com a Via Sacra de Henri Gheon, direção de Martim Gonçalves, 1953. Oswaldo Neiva, Paulo Padilha, Willy Keller, Virginia Valli, Carlos Augusto Nem, Carmen Sílvia Murgel, folclorista Téo Brandão, Kalma Murtinho, Maria Clara Machado, Napoleão Moniz Freire, Luiza Barreto Leite, Lia Costa Braga, Labanca e um amigo de Maceió).

(Página 28 – Foto: Ian Michalski em O Embarque de Noé de Maria Clara Machado, direção da autora, 1957)

Nos bons velhos tempos d’O Tablado, seus integrantes cultivavam uma superstição – corroborada por provas concretas irrefutáveis – segundo a qual chuva em dia de estrela dava sorte. A escrita voltou a funcionar na chuvosa quinta-feira da semana passada, quando do lançamento de Maria Minhoca, que merece, creio eu, ser colocado ao lado dos maiores e já legendários triunfos do grupo de Maria Clara Machado. Proponho, para efeitos de apreciação, que não se considere Maria Minhoca como peça infantil, mas como comédia tout court: as expressões teatro infantil ou teatro juvenil conservam, por motivos que não cabe examinar aqui, uma conotação de gênero menor, que costuma ser encarado com uma atitude de superior complacência.

Ian Michalski – JB, 21-5-68

Quinze Anos – O Tablado comemora o seu décimo-quinto aniversário de maneira extremamente auspiciosa, com este bom espetáculo de duas peças em um ato. Uma delas nos coloca em contato com um autor talentoso, cruelmente lúcido, e que sabe usar o paradoxo como uma arma dotada de terrível pontaria e de irresistível eficiência teatral: Fernando Arrabal. A segunda nos traz a revelação de uma nova MCM que, depois de encantar o público infantil, anos a fio, com as suas deliciosas peças para crianças, surpreende todos com a sua obra As Interferências – provavelmente a primeira peça brasileira satisfatoriamente realizada dentro dos conceitos de uma das mais importantes correntes teatrais da atualidade: o angustiado teatro do absurdo.

Ian Michalski – JB, 22-7-66

(Página 29 – Foto: Napoleão Moniz Freire e Hélio Ari em O Médico a Força de Molière, direção de Maria Clara Machado, 1962 / Anúncio: Conhaque Praianinha)

(Página 30- Foto: Sérgio Mauro, Acyr Castro, Antonio Bivar, Fernando Resky e Paulo Nolasco em Sonho de uma Noite de Verão de Shakespeare, 1964)

Estamos sinceramente convencidos de que Maria Clara Machado estava, por afinidade e por temperamento, predestinada a encenar Sonho de Uma Noite de Verão, mais do que qualquer outro diretor brasileiro. A criadora de um mundo no qual fantasminhas, ventos, gente e cavalos azuis coexistem com a maior naturalidade e bom humor saberia forçosamente lidar com um texto cuja grande dificuldade consiste em encontrar um mágico tom de harmonia e harmonia para as peripécias de dois casais de jovens apaixonados, de um grupo sobrenatural, de duendes e fadas, de um sexteto de pobres artesãos que resolvem montar uma peça de teatro, e de um duque ateniense e de uma noiva em preparativos para as bodas. Por outro lado, um certo espírito ao mesmo tempo lúdico e poético que caracteriza a peça, constitui também um traço marcante da personalidade da diretora d’O Tablado. Por isso era fácil prever que MCM seria capaz de visualizar o espetáculo que o texto pede e oferece, e não ficamos decepcionados com o resultado: um vento de suave inspiração e magia sopra no palco d’O Tablado.

Ian Michalski – Jornal do Brasil

Depois de amanhã, 8 de setembro, a temporada teatral carioca atingirá um dos seus pontos mais altos, com a primeira apresentação de Sonho de Uma Noite de Verão, de Shakespeare, n’O Tablado. Esse acontecimento adquire as proporções de uma verdadeira façanha se considerarmos que já estamos quase na metade do segundo semestre deste ano shakesperiano, e que todos os projetos de montagens comemorativas, feitos e apregoados aos quatro ventos por pessoas, companhias e entidades que disporiam de meios incomparavelmente mais importantes do que o modesto teatro do Patronato da Gávea, foram há muito tempo por água abaixo.

Ian Michalski – Jornal do Brasil

(Página 31 – Foto: Lucia Marina Accioly e Henrique Mujica em A Menina e o Vento de M.C.M., 1963)

Com A Menina e O Vento, O Tablado entra numa nova fase: a criação de seu teatro para a juventude. Em treze anos de atividade, na busca de uma expressão artística através do teatro, passando por uma inestimável experiência humana – a sobrevivência de um grupo de teatro durante anos seguidos – O Tablado encontra-se agora numa espécie de obrigação para consigo mesmo: dar continuação ao que melhor produziu nestes últimos anos – o seu teatro para crianças.

Do Correio da Manhã

(Página 32 – Foto: Ney Barrocas e Hélio Ari em Maroquinhas Fru-Frú de Maria Clara Machado, 1961. Foto: Roberto de Cleto, Carmen Sylvia Murgel, Paulo Padilha e Hugo Sandes em Pic-Nic de Arrabal, direção de Ivan Albuquerque, na festa dos 15 anos do Tablado em 1966)

(Página 33 – Foto: Elenco e técnicos de O Living Room de Graham Green, direção de Alfredo Souto de Almeida, 1959 – Sagrillo, Vanda Tôrres, Joel de Carvalho, Eddy Rezende Nunes, Ana Maria Magnus, Edelvira Fernandes, Maria Clara Machado, Vânia Leão Teixeira, Marta Rosman, Carlos Augusto Nem, Rosita Tomás Lopes, Ian Michalski, César Tozzi, Alfredo Souto de Almeida, Fred Amaral, Nelson Mariani e Helena Xavier)

(Páginas 34 e 35, 36)

20 Anos Presente

Revendo esses milhares de recortes ou esses vinte anos de notas – notícias – críticas – crônicas – programas – cartazes – fotos, embaralham-se na memória grandes nomes, nomes sem sobrenome, apelidos, personagens e pessoas de carne e osso. Quero me lembrar de todas, não esquecer nenhuma, nem as próximas-agora, nem as próximas-ontem ou as distantes-hoje e as definitivamente ausentes. Luís Oswaldo, Dina, Luciano Maurício, Darci, Sérgio Cathiard, Brutus Pedreira, Sérgio Belmonte, José Lima, Saroldi, Miguel Angel Rotondaro, Isá Bicalho, Heloisa Guimarães, todos se fundem, confundem e refluem num movimento de roda e redemoinho, que cresce nos dias de montagem e nas vésperas de estreias, quando a sala de costura – que é também sala de redação dos Cadernos, secretaria, camarim, sala de visitas – as coisas, roupas, sapatos, pessoas e papéis se misturam a ponto de saber mais se tenho que acabar a coroa de Titânia para o Sonho de Uma Noite de Verão ou traduzir O que sabemos a respeito do palco isabelino para a revista.

O busto de Churchill já recebeu das mãos de Fred Amaral, a sua nova maquiagem. É que a noite das feras se aproxima. A plenitude de tudo, as mãos cheias de tecido-agulha-pincel-linhas-arame-contas-cordões-correntes-missanga-flôres e tinta, a mente entupida de falas memorizadas, o corpo já na postura agachada de locabé, que logo mais será esganada em Barrabás. Fábio, Jacqueline, Ariel, Arlindo Rodrigues, Nelson Mariani, Cherques, Judas, eu e as luzes do Cristo-Nem, nas grades da prisão, com Claude Haguenauer. Ou são estes vinte colchetes a abotoar e desabotoar de novo em cada segundo de entrada e saída de cena, na Gata Borralheira (Kalma Murtinho me paga!)?

Tantas tarefas – suas minucias, seu sacrifício, sua fatura dorida e, após, somos “atriz tatibitati”, “estilo infantil d’O Tablado”, “buraco cênico” e “bebê concupiscente”! Pobre Sônia Gabi! Sérgio Viotti, vindo direto da Inglaterra, não é mais que “um gozador veneziano e um pândego romântico” a dirigir Rosita a Solteira. E nós? E eu que só fui a Niterói? Aí, já não dói mais. Não se lê mais crítica, não se entende nada. Sucesso?! E todos, combinadinhos, aplaudindo tudo, até o errado. E um prêmio, só um horsconcurs-zinho para A Bruxinha que era Boa. Prêmio mesmo, só viajando. São Paulo – sucesso-Pluft-ganhando-todos-os-prêmios.

Um descuido… Adeus sucesso de antanho! Assim, “Noé’ naufraga no palco d’O Tablado” – diz um. “Tire essa peça de cartaz, faça como fez Silveira de Sampaio”. Clara se apavora e tira. Depois, não dou dois anos, e se desdizem: “Embarque de Noé” é a melhor peça que MCM já escreveu. Essa Maroquinhas é uma nulidade, para não dizer pior…” Ah! Maroquinhas Fru-Fru! Jaca-Paulo Nolasco-Marta Rosman! Nós cantando modinha. Ah! Carlos Lira e o Lira’s Club (de onde saiu o CUQT) nascendo dos bastidores A festa em casa de Viroca, o violão, todo mundo na bossa do Lira, cantando baixinho no terraço… E eles não querem que o artista se divirta. A regra da comédia é esta mesmo: todos se divertindo. “Os artistas d’O Tablado se divertiam em cena como se não tivessem mais nada a fazer” – diz a crítica. Rarará – rio eu. Rimos nós todos e continuaremos rindo, em cena, na comédia – Eles não sabem… Germano Filho – Bruxo-Pior, fazendo bolhas num copo de aniz, todos rindo e a cena parada dois minutos. Até que a bruxa-chefe, dona Bárbara Heliodora, rindo e desmaiando na coxia! No fim, os aplausos – nosso cachê! Palmas – o pão do artista! Queremos pão com cuba-libre, não queremos biscoito! Brioche para Jacqueline Laurence, que é francesa-maria-antonieta. As passeatas. As flores de crepon. Túmulos.

E as noites gloriosas do ÇUQT, a avalanche de prêmios, mancheias e estatuetas, uma Joana Castiga para Napoleão Moniz Freire! Medalhas e diplomas para todo mundo. A Joana-Castga-Castiga / Que vivia no Império / Não diga, não diga! / A Joana é vedeta muito antiga / etc., etc… / Não é como Saci / Pererê-Pererê / Não é como Ventura / Não tem cacunda / É bunita, é bunita… / Nosso hino, em música de Fávio São Tiago, cantando e dançando em reunião fechadíssima só para artista e gente. Hélio Ari glorioso, de fraque – porta-voz de nossa indignação! Nós, de plumas, pailletés e leques! Vânia Veloso Borges e Leão Teixeira também, coberta de vidrinhos e raiva! O nosso desabafo! O nosso desafio! O desafio d’O Tablado. Bem brasileiro. Começa do nada. Cresce, inventa, ensina, informa, aprende. Monta autor montável, inventa autor brasileiro, inventa cenógrafo, inventa figurinista, iluminador, aderecista. Sem dinheiro, sem subvenção, sem palco, sem plateia, sem poltronas, sem gambiarra nem urdimento, sem bilheteria, sem fachada. Um nome pintado no muro: O Tablado! (Que coisa mais miquelina! Ó Maria Clara, um gás-neon, por favor!). Tudo de brinquedo. Os grandes, os importantes, os entendidos, todos vem olhar. Não acreditam. Querem ver de perto essa loucura. Inventaram fazer arte de verdade. Não é que conseguem? Sucesso atrás de sucesso (às vezes não). Baile dos Ladrões! A Via Sacra! E as mangas de lamê do anjo Osvaldo Loureiro, onde estão? A História de Sara e Tobias não sai mais. Saiu sim. Geni Marcondes regia o som e o coro, da coxia.

Depois inventaram fazer uma revista. O Ibecc mandou dizer que ajuda. A gente faz. “Não chega até o número 5; revista no Brasil não medra” – Diz um mal-humorado. Isso foi ainda quando O Tablado morava na sala da frente, nem tinha mesa de verdade (Lulu depois deu uma), só uma tábua de pingue-pongue, improvisada em mesa de costura, de leitura, de reunião, etc. Clara, depressa, escolheu os redatores (será que eles têm, ao menos, curso ginasial?). Não tinham cursos, mas todos queriam escrever na revista. Clara impôs o lema: Remember Amapá! O Remember Amapá! funcionou. A revista era simples, objetiva, ensinava a todo mundo, que lia e entendia. Quem não lia, apreciava os bonequinhos de Ana Letycia. Nesse remember amapá difícil – que só nós relembrávamos, na altura do n. 20 ou 30 dos Cadernos de Teatro, o Ibecc já esquecera a promessa. Eddy Rezende Nunes, que o diga.

Nº 40, O Tablado, já na dele, ou na sua… Crise, como usa sempre, falou pela boca da Vânia. “Do 42 não passa.” Então MCM escreveu cartinha nos despedindo dos leitores. Viram a choradeira que deu no Brasil inteiro? Teve gente que escreveu oferecendo 20 cruzeiros para a revista não acabar. Professora até se suicidava se a revista morresse… Então O Conselho Nacional de Cultura acordou e salvou a pobrezinha. Saiu o n. 43, bem alentado, com Yets e muita poesia e nós suando na revisão do difícil que era… Criamos alento. Felinto Rodrigues Netto garantiu os números 44-45-46. Quando chegou a vez do 47 – todos esqueceram que papel se compra, linitipista come e redator-chefe não é faquir. O Amapá não é mais lembrado? Não faz mais parte do Brasil?

Virginia Valli

Atividades d’O Tablado

Publicação da revista Cadernos de Teatro

Curso de Iniciação Artística para crianças sob a orientação de Edelvira Fernandes e Araci Machado Mourthé, com aulas de modelagem, pintura, cerâmica, carpintaria, além de atividades recreativas, excursões e danças.

Curso Permanente de Improvisação e Jogos Dramáticos, ministrados por Maria Clara Machado. Cursos de Férias, para professores e educadores, sob a orientação de Maria Clara Machado.

(Verso da Última Capa – Repertório)

(Última Capa – Anúncio: De Millus)