Programa do espetáculo que estreou em Belo Horizonte, MG, 1962

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Gabriela Rabelo e Aziz Bakur

Nelson Leão e Gabriela Rabelo

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(INFORMAÇÕES DO PROGRAMA)

(Capa)

O  Teatro Universitário
apresenta

O NOVIÇO

de Martins Pena

(Verso da Capa – Foto do Prof. Dr. Orlando M. Carvalho – Magnífico Reitor da U.M.G.)

A história do Teatro Universitário da U.M.G. pode ser contada em muitos capítulos, desde que, em 1953, Vicenzo Spinelli, seu primeiro diretor artístico, encenou no auditório do Instituto de Educação um ato medieval e um ato de Pirandello. Sempre assistido pela Reitoria da Universidade de Minas Gerais, através de seus Magníficos Reitores, Drs. Pedro Paulo Penido, Líncoln Prates, e agora, Orlando M. Carvalho, o T.U. prosseguiu no seu lento trabalho de estruturação, com acertos e desacertos, com altos e baixos, mas procurando com tenacidade o melhor caminho para afirmar-se como uma verdadeira Escola de Arte Dramática.

Durante esse tempo a direção artística esteve entregue, sucessivamente, a Jean Bercy, a Carlos Kroeber e a Giustino Marzano. Atualmente, encontra-se nas mãos de Haydée Bittencourt, assessorada, na parte administrativa, por João Etienne Filho e Jota Dângelo.

Nossa Cidade, de Thorton Wilder (1957) e Crime na Catedral, de T.S. Elliot (1058), estão incluídos entre os seus maiores sucessos.

A atual diretora do T.U. não pretende ter atingido plenamente seus objetivos. Pelo contrário, continua convencida de que há de que há muito por fazer e tem consciência de que uma Escola de Arte Dramática só se organiza com trabalho metódico, sistematizado e experimental, num lapso de tempo que é difícil precisar. Mas, ao mesmo tempo, agradecendo a compreensão e o incentivo constantes do Magnífico Reitor, Prof. Dr. Orlando M. Carvalho, a atual Diretoria do Teatro Universitário reafirma sua disposição de continuar a desenvolver honesto esforço para engrandecer a iniciativa dos seus antecessores, no sentido de fazer do T.U. o centro de formação de atores e técnicos de que o teatro mineiro necessita.

(Página 01 – Foto: Haydée Bittencourt)

A encenação de O Noviço

A escolha de uma peça para um repertório profissional é já uma dificuldade, mas mais difícil se torna ainda escolher uma peça, quando esta deve preencher as diversas finalidades da apresentação de um grupo de jovens estudantes de teatro, e de uma escola como é o Teatro Universitário, que deve montar seus espetáculos como o resultado de um aprendizado no seu Curso de Formação de Atores, dando ao intérprete a oportunidade de seus primeiros contatos com o público, assim como a responsabilidade de formação desse mesmo público. Não se trata, como um grupo profissional, de escolher este ou aquele ator para determinado papel; trata-se, ao contrário, de escolher uma peça visando às possibilidades de cada estudante e a maneira de iniciá-lo nos diversos estilos da representação teatral, desembaraçando-o, para que ele não se sinta no palco um boneco fantasiado, e sim um ser humano capaz de realizar este milagre do contato entre uma época distante e a atualidade.

E foi por esta razão que escolhemos esta filigrana da comédia brasileira que é O Noviço, peça que podemos agora, sem gabolice, colocar entre as melhores do teatro nacional, texto de grande qualidade para qualquer repertório, seja amador ou profissional.

O perigo, entretanto, ao encenar as comédias de Martins Pena, é deixar-se levar pela comicidade aparentemente superficial da complicação das situações. Este fato pode levar o diretor e o ator inexperientes a se contentarem com um êxito fácil provocado unicamente pela trama da peça e pelo exagero da representação, caindo na “chanchada”.

Não é esse o resultado que gostaríamos de conseguir. Nossa ambição vai mais além: gostaríamos que o público sentisse no espetáculo a preocupação da alta comicidade que vem de uma análise profunda, de sugestões do próprio texto, que ali se encontram latentes à espera de um meio propício para brotar com vigor.

Embora “O Noviço” seja uma comédia, não deixa de ter os seus momentos sérios: uma crítica severa à organização da sociedade brasileira – “tudo está fora de seus eixos” (Carlos) -, desabafo de ente desajustado, que sonha com a proteção justa aos artistas de talento, enquanto definha na rotina de uma profissão que detesta e abomina – a do funcionalismo público – e uma observação à hipocrisia dos falsos católicos que abusam da Igreja para chegar aos seus fins: “julguei assim fazer um serviço agradável a Deus” (Ambrósio). Mas há também os inúmeros momentos ligeiros e maliciosos, que nos farão sorrir, e as situações da farsa pura, que nos farão rir às gargalhadas.

É Martins Pena o autor de O Noviço, infelizmente tão incompreendido pela crítica brasileira de até pouco tempo, que procuramos compreender e fazer reviver, com o carinho e o entusiasmo que merecem os homens e as obras de valor.

Haydée Bittencourt – Diretora Artística do T.U.

(Página 02 – Foto: Luiz Carlos Martins Pena /1815-1848)

Luiz Carlos Martins Pena nasceu no Rio de Janeiro em 5 de novembro de 1815. Tinha razoável domínio de línguas (francês, inglês e italiano) e, ao contrário do que se possa depreender do desleixo com que escrevia, era aplicado na leitura dos clássicos. Além da obra dramática, escreveu folhetins de crítica sobre espetáculos líricos e teatrais (Jornal do Comércio, 1846-1847) , e uma novela – O Rei do Amazonas -, à qual não se referem os bibliógrafos, mas de cujos primeiros capítulos a Biblioteca Nacional possui os manuscritos

Viajando para Londres em 1847, como funcionário diplomático, viu-se na contingência de regressar ao Brasil no ano seguinte, por motivo de enfermidade. Faleceu em trânsito, quando de passagem por Lisboa, em 7 de dezembro de 1848.

Darcy Damasceno, que fez, para o Instituto Nacional do Livro, em 1956, por encomenda do então diretor, José Renato Santos Pereira, magnífica edição das Comédias (tomo I) e dos Dramas (tomo II) de Martins Pena, de onde extraímos estes dados, arrolou vinte e oito peças, algumas dadas a lume pela primeira vez. Quem ainda não ouviu falar de O Irmão das Almas, de O Judas em Sábado de Aleluia, de O Juiz de Paz na Roça, de As Casadas Solteiras, de Quem Casa Quer Casa, de O Noviço? Seria fastidioso enumerar aqui o julgamento crítico, de um José Veríssimo, de um Sílvio Romero, de um João Ribeiro, de um Tristão de Athayde, de um Ronald de Carvalho, todos atribuindo a Martins Pena papel de máximo relevo nos quadros da literatura brasileira e especialmente da arte dramática de nosso país, na qual é considerado o fundador de uma escola, a da Comédia de Costumes, que não desapareceu, nem deve desaparecer do nosso teatro, como muito bem disse Raimundo Magalhães Júnior.

(Página 03)

O Noviço

3 atos de Martins Pena

Elenco

Personagens (por ordem de entrada em cena)

José: Ildeu Araújo
Ambrósio: Pedro Miranda Ferreira
Florência: Iris Dalva Tecles
Emília: Neuza Rocha, Gabriela Rabelo, Maria Emília Lacerda
Juca: Nélson Leão
Carlos: Ezequiel Neves, Antônio Domingos Franco, Aziz Bajur
Rosa: Jacqueline de Paula
Padre Mestre de Noviços: Raimundo Farinelli
1º Meirinho: Necésio Rodrigues
2º Meirinho: Edmar Pereira
3º Meirinho: Brasil Almeida
Jorge: Helly de Oliveira
1ºAmigo: Júlio Varella
2º Amigo: Azir Bajur, Ezequiel Neves

Ficha Técnica

Direção Geral de Haydée Bittencourt
Cenários e Figurinos de Napoleão Moniz Freire
Música: Geraldo Maia
Assistente de direção: Júlio Varella
Ajudantes: Brasil de Almeida, Edmar Pereira, Necésio Rodrigues e Ildeu de Araújo
Confecções dos trajes femininos: Sras. Lurdes Caldeira, Maria Lúcia Gamallo, Mariana Farinelli, Selsa Rosa e Jesuína Gomes
Execução dos móveis: Walter Martins
Construção e pintura: Ari Caetano
Eletricista: Raimundo Bahia

Rio de Janeiro – Meados do século XIX

(Página 04)

Martins Pena: O Noviço

Temos a impressão de que todos os grupos amadores do Brasil deviam começar suas atividades apresentando Martins Pena, pois ele se recomenda por inúmeros motivos: sua construção dramática é justa, sua ambientação é inteiramente brasileira, suas situações e diálogos chegam com facilidade ao público, e assim por diante. Quando um documentarista da vida brasileira de século XIX é tão autenticamente teatral quanto Martins Pena, o lógico é que fosse apresentado em palcos por todo o Brasil de norte a sul, principalmente em colégios; mas justamente a ausência de tais espetáculos e a ignorância total da existência de Martins Pena, na qual deixam as escolas nossos colegiais, é que nos dá a medida exata do descaso com que tem sido considerado o teatro em todos os seus aspectos do Brasil.

O Noviço exemplifica muito bem a obra cômica de Martins Pena, e mais ainda o mistério Martins Pena, pois num país sem tradições teatrais como é o nosso (e o era mais ainda ao tempo do autor), como explicar o aparecimento de um homem com noção tão clara dos aspectos teatrais da dramaturgia? Os críticos literários que negam a Martins Pena qualidade teatral, por certo nunca o viram no palco, nem tinham a imaginação treinada para conceber o que poderia vir a ser, no palco, aquele texto que olhavam apenas como crônica do século passado.

O que surpreende é justamente a ideia de ação, de movimentação, que a maioria das comédias sugere, e por mais poliglota que Martins Pena fosse, e por mais teatro que ele tenha lido (e seu teatro indica que leu bastante) não explica o fenômeno de ter conseguido ele escapar ao meramente literário, e escrever realmente para o palco.

A trama de O Noviço é tão viva, tão bem planejada, que ao ser posta num palco a peça ainda sozinha e vence praticamente qualquer falha do espetáculo.

O que mais encanta em tudo o que escreve o autor (em comédia) é o sabor brasileiro; e por mais transformados ou exagerados que nos cheguem os incidentes pela necessidade de se amoldá-los a uma apresentação dramática, há qualquer coisa que podemos sempre identificar com as recordações de avós, parentes ou conhecidos, de idade muito avançada; porém o que mais impressiona é o alto índice de rendimento na transposição dramática daquele ambiente apresentado. O plano de O Noviço com as fugas de Carlos do convento, o aparecimento da primeira mulher do pseudo-honrado chefe de família, a deliciosa ideia de se vestir o filho mais novo de frade desde a infância, para que se vá acostumando desde cedo à ideia de uma vida monástica, as inúmeras confusões sobre a identidade de quem deve ser agarrado pelos soldados que entram repetidamente à cata de Carlos, e – muito particularmente – a proporção, a medida, com que Martins Pena trabalha, tudo isso é o que mais impressiona. Todos esses elementos são conduzidos com uma segurança absoluta, e por intermédio de um diálogo fluente, inteligente, alegre, em que mesmo o que se sente ser malicioso é de tal forma puro e ingênuo que realmente sentimos que naquela época a escola era risonha e franca…

Muito se tem falado nos últimos anos a respeito de um teatro brasileiro, de uma interpretação brasileira e assim por diante; estamos nós convencidos de que Martins Pena será sempre o primeiro passo de um caminho que possa conduzir a essa verdadeira autenticidade brasileira, porque ele é brasileiro, dramático e autêntico, dentro de uma consciência de que não se sobe num palco para agir como se age cá fora.

Barbara Heliodora – Transcrito de O Jornal do Brasil de 11.10.61

(Verso da Última Capa – Foto: Napoleão Moniz Freire)

Napoleão Moniz Freire

Nasceu no Rio. Diplomou-se pela Escola Nacional de Arquitetura. Começou a fazer teatro com o grupo O Tablado, revelando então suas múltiplas aptidões para o teatro, representando como ator, ou desenhando cenários e figurinos.

Como ator representou vários papéis de destaque em Tio Vanya, de Chekov, e o Tempo e os Conways, para o Tablado; O Dilema de Um Médico, de Shaw, para a Companhia Nacional de Comédia; Luta Até ao Amanhecer, para a sua própria Companhia, e O Mambembe, de Arthur Azevedo, e A Profissão da Sra. Warren de Swaw, para o Grupo dos Sete.

Como cenarista ganhou vários prêmios, tendo recebido em 1959 o prêmio da Associação Paulista de Críticos Teatrais de São Paulo pelo seu trabalho como figurinista na peça Os Perigos da Pureza, encenada pela Companhia de Cacilda Becker. Nesse mesmo ano ganhou, no Rio, o prêmio da Associação de Críticos do Rio de Janeiro, pela beleza dos trajes de O Mambembe, cujos figurinos havia desenhado.

Napoleão Moniz Freire, a convite do Teatro Universitário, presta sua valiosa colaboração como cenarista e figurinista da peça O Noviço, de Martins Pena.

(Última Capa – Fotos:Prof. João Etienne Filho – Diretor Administrativo do T.U. e Jota Dangelo – Diretor Administrativo do T.U.)

Diretoria

Direção Artística: Haydée Bittencourt
Direção Administrativa: João Etienne Filho e Jota Dângelo

Corpo Docente:
Geraldo Maia: Empostação de Voz
Francisco P. Paula Lima: História do Teatro
Klauss Vianna: Ginástica Rítmica
Almir Figueira: Esgrima
Etienne Filho: Português
Haydée Bittencourt: Dicção – Interpretação – Maquilagem
Jota Dângelo: Improvisação – Interpretação

Corpo Discente:
Altamirando Nogueira Passos, Antônio Domingos Franco, Aziz Bajur, Brasil Winston de Almeida, Derly de Cêa Pereira, Edmar Araújo Pereira, Ezequiel Moreira Neves, Gabriela Castro Rabelo, Helena Diógenes Vidigal, Helly Batista de Oliveira, Helvécio de Souza Ferreira, Hugo Bouissou, Ildeu de Araújo, Iris Dalva Tecles, Jacqueline Cavalcanti de Paula, Joaquim de Aguiar Soares, Joni Faria Lima, José Antônio de Sousa, José Ulisses de Oliveira, Júlio Márcio Varela, Maria Amélia Dornelles, Necésio Rodrigues de Azevedo, Nelson Leão Júnior, Neusa Rocha, Névile Duarte Almeida, Pedro Miranda Ferreira, Raimundo Farinelli, Watfa Abrahão Tannus.

Funcionários

Luiz D. Pugliese: Secretário, Raimundo Bahia de Oliveira: Eletricista, Walter Martins Fabiano: Marceneiro.

Próximo Espetáculo

O Pagador de Promessas – Dias Gomes