Clorys Dale, A sua Imagem, prog 1957

Programa, 1957

 

 

 

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(INFORMAÇÕES DO PROGRAMA)

(Capa)

TUCB

(Verso da Capa – Anúncio: La Danse)

(Página 01 – Gravura: Colisevs si ve Theatrym)

(Página 02)

Diretor Geral: Orlando Macedo
Primeiro Secretário: Wilson Chebar
Segundo Secretário: Clorys Mary Daly
Primeiro Tesoureiro: Ithamar Ridolph
Segundo Tesoureiro: Roberto Henri Guitton

Diretor Administrativo: Renato de Souza
Setor Comercial: Leonides Bayer
Setor Propaganda: Anthero de Oliveira
Setor Jurídico: Herbert Lins

Diretor Artístico: Orlando Macedo
Setor Cultural: Maria José Fragoso, Luiz Paulino
Setor de Relações Públicas: Ileana Aste, Luiza de Castro
Setor Técnico: Amaury Simas, Lilah de Albuquerque

(Página 02 – Foto: Negrão de Lima)

O teatro Universitário Cultural do Brasil é a vibrante expressão do idealismo de nossa mocidade. Antecipa, no que hoje realiza, o auge do desenvolvimento nacional, naquilo que mais importa à sobrevivência de uma civilização: a imortalidade e a beleza de uma grande arte. Congratulo-me com os organizadores do TUCB e participo da justa alegria que lhe causa a nova vitória.

Rio de Janeiro, dezembro de 1957

                                       Francisco Negrão de Lima, Prefeito do Distrito Federal

(Página 03)

O Teatro Universitário Cultural do Brasil

O Teatro Universitário Cultural do Brasil , T.U.C.B. é, nesta bela atividade concernente à arte cênica que agita o país de extrema expressão forte de planificação de esforços, em prol de um palco inspirado em propósitos construtivos. Firma-se o T.U.C.B. no sentido fundamental do Teatro como arte, e daí parte para a ação, a fim de o homem cada vez mais se dignificar.

É o T.U.C.B., pois, uma reunião de vontades movidas por idealismo realizador e, por isso, uma afirmativa de programa, onde o sadio impera, porque, de outro modo, se não pode trabalhar por um Brasil conscientemente forte, de todo integrado em sua alta missão histórica, por uma humanidade liberta dos males que a desagregam.

Os que formam o T.U.C.B. não são inexperientes da vida. Conhecem o amargor que há na existência e sabem por si próprios o que é lutar por objetivos. Desfraldaram, portanto, a bandeira desta organização, já possuidores da vontade caldeada pelas contingências do viver e daí o ânimo resoluto com que se lançaram nesta iniciativa.

Nada buscam para si os componentes do T.U.C.B. Todos nós, na existência, só nos tornamos dignos dela se, aos nossos encargos, juntamos um supremo, o de concorrer para a ascensão espiritual da espécie humana. Esse dever eles irão cumprir, por meio da maravilhosa arte cênica.

Sabem eles o quê de dificuldades terão de enfrentar. Estão assim, já dispostos a grande esforço. E será sempre de ânimo bem disposto que percorrerão este Distrito Federal e depois tantos recantos do Brasil levando-lhes, a seu turno, a beleza e a elevação a que o Teatro conduz.

Lopes Gonçalves

 À sua Imagem

Ficha Técnica

3 atos e 4 quadros de Pierre Lescure

Tadução de Gustavo A. Doria
Direção, Cenografia e Figurinos de Orlando Macedo
Assistente: Maria José Fragoso
Direção Musical: Armando Prazeres Souza
Caracterização: Prof. José Jansen
Eletricidade: Amaury Simas
Fotografia: Edison Batista

(Página 04 – Desenho do Teatro)

Teatro Universitário Cultural do Brasil
1957, Wilson Chebar Arquiteto
Executado pela Carpintaria Triagem Ltda.

(Páginas 05 e 06 – Anúncio: Oswaldo Tecidos e Portella Móveis, Agacê)

À Sua Imagem

3 atos e 4 quadros de Pierre Lescure
Tradução de Gustavo Doria

Elenco

Personagens por ordem de entrada em cena

Mesquita: Herbert Lins
Lorriaga: Wilson Chebar
Fernão de Magalhães: Amaury Simas
O Padre: Edison Batista
Juan de Cartagena: Teixeira Mendes
Ruiz: Leonides Bayer
Serrano: Anthero de Oliveira
Marinheiros: Ithamar Ridolfh, Armando P. Souza, Henry Guitton, Jorge Pacheco, José Augusto, Cesar Augusto, Carlos Alberto.

1º Ato: Cabine de Comando de Magalhães

2º Ato, 1º Quadro: Cabine de Comando de Magalhães
2º Ato, 2º Quadro: Praia ao Norte do Estreito
2º Ato, 3º Quadro: Cabine de Comando de Magalhães

3º Ato, 4º Quadro: Praia ao Norte do Estreito

(Página 07 – Fotos: Renato de Souza – Diretor Administrativo, e Luiz Paulino, Wilson Chebar – 1º Secretário, Jessy Menezes)

(Página 08)

O Teatro de um Jovem Autor

O que representa À Sua Imagem (A Son Image) na literatura dramática atual? Apenas a contribuição de um jovem autor, para muitos. Acontece porém, que esse jovem autor, Pierre Lescure, estreou em teatro com o pé direito porque, antes de ter sua peça oferecida em espetáculo à plateia parisiense recebia, espontaneamente, de Jean Louis Barrault, o seguinte testemunho: “A peça sobre Magalhães revela possibilidades dramáticas seguras e uma fascinante personalidade. E, se não tivéssemos montado justamente na mesma ocasião, no Marigny , o admirável Cristovão Colombo de Paul Claudel, seria para nós um dever ao mesmo tempo que um motivo de satisfação colaborar mais diretamente com o trabalho de Pierre Lescure, incluindo-o conscientemente ao nosso repertório”. Aliás, não é somente aí que o nome de Claudel aparece ligado ao de Pierre Lescure, quando da apresentação do seu original. Por parte da crítica houve quem sentisse a influência, ainda que remota do poeta de L’Otage, influência que talvez encontre sua justificativa somente no sopro de lirismo que que a envolve, pois que o sentido filosófico que parece animar esses dois poetas, tão distantes entre si pela formação, pela idade e sobretudo  pela maneira de realizar teatro, parece-nos bastante discordante.  Enquanto Claudel procura sempre evidenciar a redenção pela fé, elemento que considera inerente à formação de todos os indivíduos e por isso mesmo amaldiçoa com a danação e o sofrimento os que a ignoram. Pierre Lescure, aparentemente trilhando o mesmo caminho, chega a um fim diverso. O navegador de Claudel toma o rumo do desconhecido, como quem procura Deus, sabendo que a rota até Ele é áspera e difícil. Os personagens de Pierre Lescure perdem-se no desconhecido para fugir às suas próprias vidas. O homem, em Claudel, acaba por compreender que sem a solidariedade nada se constrói de sólido, de permanente. Os personagens de Pierre Lescure cedo verificam que a amizade é uma atitude, quase apenas um gesto. Nunca um sentimento, pois que eles a um determinado momento se encontram irreparavelmente sós, imersos numa solidão terrível, num fim irremediável.

Parece-nos pois que não estamos diante de um mestre e um discípulo, porém diante de dois poetas dramáticos, um já com a sua obra consolidada, consagrada, como das maiores entre os seus contemporâneos, o outro iniciando a jornada, e que somente têm como traço comum o sopro de lirismo que os anima através dos diálogos. Além do que, em Claudel há sempre uma preocupação literária que não encontramos em Pierre Lescure, onde a poesia brota da linguagem rude e cotidiana do homem.

Jacques Lemarchand , com a responsabilidade de ser uma figura proeminente na crítica teatral parisiense conclui, em seu comentário, que o grande mérito do autor de À Sua Imagem é saber fazer o público pensar , pois que mostra o indivíduo imerso na solidão, ele realiza um trabalho fraterno, evidenciando a que ponto o egoísmo, a ambição, a falta de coragem para enfrentar situações, pode levar o indivíduo.

Assim pois, À Sua Imagem, que retrata instantes da expedição de Fernão de Magalhães, não pretende absolutamente ser uma peça histórica, ou evidenciar a autenticidade do fato histórico. A expedição de Magalhães representa apenas um pretexto como um pretexto foi a compreensão de justiça, entre os habitantes de Salém, de que lançou mão Arthur Miller em As Feiticeiras de Salém ou a demonstração do que pode fazer aquele que detém o poder nas mãos, quando pretende exterminar um seu semelhante, que Montherlant pretendeu realizar com A Rainha Morta, tomando por empréstimo os amores de Pedro e Inês de Castro.

Estamos diante da peça de estreia de um jovem autor francês, peça que mereceu a subvenção oficial para a sua montagem, por parte do governo, através do Comitê de Ajuda à Primeira Peça, numa decisão unânime de todos os seus membros. É a peça que, quando de sua estreia, em Paris, em 1955, mereceu larga discussão, o que parece salientar que “não lhe falta originalidade nem interesse”. Se não encontramos ainda um autor plenamente realizado não estamos também, por outro lado, diante de uma simples promessa. Orlando Macedo escolhendo-a para apresenta-la com um elenco de estudantes não pretendeu usar a juventude através da juventude, mas servir ao teatro por meio de um original que além de ser de uma grande seriedade, ajusta-se, como raros outros, a um exato trabalho de equipe. Mesmo porque, dentro da insatisfação em que mergulham seus personagens, reflexo de toda uma geração do mais recente após-guerra, há, como foi salientado, uma advertência, um tema para fazer pensar. E justamente esta qualidade é que marca as grandes obras.

 Gustavo Doria

(Página 09 – Fotos: Teixeira Mendes, Maria José Fragoso, Herbert Lins; Luiza de Castro, Orlando Macedo – Diretor Geral)

(Página 10 – Foto: Leonides Bayer, Ileana Aste, Ithamar Ridolph – Tesoureiro, Neidson Miranda)

Sem a dedicação e o valioso apoio do Exmo. Sr. Embaixador Francisco Negrão de Lima. D.D. Prefeito do Distrito Federal, não nos teria sido possível a realização deste espetáculo. Assim sendo, expressamos o nosso sincero e leal reconhecimento a S. Excelência.

O Teatro é a mais fina e nobre expressão da cultura. Imortaliza em arte o momento dramático da vida.

Rio de Janeiro, dezembro de 1957.

                                                  Pedro Calmon, Reitor da Universidade do Brasil

(Página 11 – Fotos: Anthero de Oliveira, Virginia, Edison Batista; Clorys Mary Daly – 2º Secretário, Lilah Albuquerque, Amaury Simas, Henri Guitton – 2º Tesoureiro)

(Verso da Última Capa – Anúncio: Real Moda)

(Última Capa – Anúncio: Emiene Hi-Fi)