Viajantes: Vânia Tribuno e Nelson Domingues

Crítica publicada no site do CEPETIN
Por Marília Coelho Sampaio (*) – Rio de Janeiro – 04.02.2008 

Barra

Um barco de sonhos e imaginação 

Até que ponto é preciso sair de casa para viajar? Até que ponto a nossa imaginação pode nos levar a conhecer novos mundos? Essas duas questões permeiam todo o texto de Viajante das Estrelas, peça de Silvana Lima, dirigida por Carlos Augusto Nazareth, em cartaz no Teatro SESI. A história se desenvolve a partir do encontro do menino Pirineu com o personagem Viajante, nos arredores de sua casa, na beira do mar.

Os dois travam um breve diálogo no qual fazem as apresentações de praxe, até que o menino se oferece para viajar em companhia de seu novo amigo. Enquanto decidem que rumo tomar, um barco de sonhos escapa no horizonte e resta aos dois buscar novos caminhos.

partir daí, nasce um diálogo entre os dois em que surgem questões como a necessidade de se estar sempre atento ao que se passa ao nosso redor, para que possamos “sair do lugar” e, consequentemente, amadurecer; do risco de se viver em lugares onde reina o autoritarismo, como na terra dos reis; da possibilidade de se criar novos mundos a partir dos objetos contidos em uma mala de viagem; da vontade de se transformar num fantasma para ganhar uma identidade; da possibilidade de desbravar o espaço e de conhecer as Três Marias, sem tirar os pés do chão; e das máscaras que somos obrigados a criar no dia-a-dia para sermos aceitos na sociedade em que vivemos. Enfim, temas que, em geral, não são levados ao público infantil e que se mostram imprescindíveis para que as crianças reflitam sobre sua forma de estar no mundo.

O diretor Carlos Augusto Nazareth demonstra enorme maturidade profissional ao encenar um texto que foge ao esquema tradicional do começo, meio e fim, investindo na capacidade infantil de embarcar no mundo da imaginação e nas diferentes viagens propostas por ele. Com mão firme, amarra o texto na cena e tira o melhor do seu elenco, formado por Nelson Domingues, Roberto Jerônimo e Vânia Tribuno – que, além de se dividir em diferentes personagens (a mãe, as Três Marias) é também responsável pela preparação corporal do grupo. O figurino de Ney Madeira reforça o clima onírico do espetáculo, assim como a iluminação de Rogério Wiltgen. A direção musical de Charles Kahn, o vídeo de Fred Martins e a maquiagem de Isabel Chavarri mantêm o nível de qualidade dos demais elementos do espetáculo.

Viajante das Estrelas é um trabalho muito bem cuidado, que agrada a adultos e crianças, levando-os a refletir sobre questões fundamentais nos dias que correm, entre elas, a necessidade de se manter viva e fértil a imaginação, por mais dura que seja a realidade que nos cerca.

(*) Mestre em Teatro, Crítica de teatro infantil por três anos do jornal O Globo