Dayse Pozzato (E), Marcos Acher e Paula Sandroni: atropelo nas trocas de aventura

Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 02.12.1995

 

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Trilha dos quadrinhos fica na intenção

Tic-Tac-Buum é um texto de Leonardo Simões (o premiado autor de O Mistério de Feiurinha) e Márcia Eltz, feito sob encomenda para fãs de histórias em quadrinhos dos anos 50 e 60 sem dúvida alguma a época em que os autores começaram a se interessar pelo assunto. No entanto, o que era atraente nas páginas não chega ao palco com o mesmo apelo. A carência de personagens mais definidos, e a ideia de juntar num mesmo bloco diversas aventuras que se interligam para propiciar um desfile de tipos prejudica a linha dramática do texto e, por muitas vezes, seu entendimento.

Com heróis muitos bem-comportados, como os detetives Paçoca e Minduin, concebidos à imagem e semelhança dos detetives de filmes noir, revisto pelos desenhistas dos Estúdios Disney, a história, um tanto nebulosa, gira em torno de um roubo de moedas antigas na casa da Senhora Braun. A velhinha surda tem seu tesouro surrupiado pelo nada ameaçador vilão Sombra.

Cabe aos detetives, não se sabe bem porque, viajar ao velho oeste, ao antigo Egito e a Chicago de 1920, onde deverão resgatar a moeda da sorte de All Cafona, o dólar furado de Kid Sgrazzia e a moeda de ouro do Faraó Ulisses ll.

De interessante no enredo, as inserções do superdisfarçado chefe, que aparece nos mais diferentes objetos, confeccionados com apuro por Marcelo Abreu. Suas aparições lembram as do agente 86, e suas mensagens como em qualquer seriado que se preze, estão prontas a explodir em cinco segundos.

Como não poderia deixar de ser, o espetáculo, concebido por Djalma Amaral, usa para esses personagens vindos de outras histórias todos os clichês dos desenhos animados e filmes de detetives dos seriados da TV. Mas como o quadro do teatro superdimenciona a ação tão bem adequada aos quadrinhos da revista alguns momentos do espetáculo se alongam desnecessariamente, como, por exemplo, a passagem da velhinha surda que percorre todas as épocas, tentando saber quem bateu a sua porta. A piada encenada, toma precioso tempo além de desviar a atenção do espectador para o que realmente importa.

O elenco inexplicavelmente composto em sua maioria por atrizes interpretando papéis masculinos, não responde a altura a proposta da direção. Personagens tão fortes como gângsteres italianos, e bandidos de saloon, perdem a sua força nas interpretações femininas. Dayse Posato, com registro vocal muito baixo dá pouca veracidade aos papeis de All Cafona e Kid Sgrazzia. Em melhor estilo aparece com a senhora Braun e Mammy. Paula Sandroni, no entanto, controla bem o gestual da dançarina de Saloon Galdys.

Destacando-se do restante do elenco, Marcos Acher e Geraldo Madera nos papéis de Paçoca e Minduin. Os detetives tiram partido do gesto quebrado dos personagens dos quadrinhos, e não deixam o tipo mesmo nas cenas de conjunto.

Os cenários e figurinos de Hélia Frazão, criativos e bem executados, têm destaque nos disfarces usados pelos detetives. Principalmente o dos cactos no Velho Oeste.

Com a estética das HQ levada às últimas consequências, só falta ao espetáculo, um ritmo mais acelerado para que a história se conte como foi idealizada pela direção.

Cotação: 2 estrelas (Bom)