Sonhatos de Monteiro, um Sonho de Lobato: mais curto ficaria melhor

Crítica publicada no Jornal do Brasil, Caderno B
Por Eliana Yunes – Rio de Janeiro – 22.08.1987

 

 

 

 

 

 

Barra

Lobato no Palco

Os atos que constituem em cena os sonhos de Lobato têm o jeito de teatro para gente grande: a qualidade da cenografia (José Dias), dos figurinos, (Rosa Magalhães), da música (Wagner Campos) e da iluminação (Marcelo Barreto) não deixam a desejar. O próprio texto da peça Sonhatos de Monteiro, um Sonho de Lobato (Teatro Benjamin Constant) tem uma originalidade transposta do trocadilho e rimas do título: vida e obra do autor se mesclam de forma sensível e inteligente, com soluções dramáticas de grande nível.

O primeiro ato coloca os leitores/colegiais diante de Lobato/personagens em uma cena muda que valoriza a gestualidade, recurso expressivo forte também em outros momentos. Daí para o menino, em sua vida de fazenda, cercado pela mãe e o avô, que funcionam como prólogo da sequência. O próximo ato já transita para o sonho, com o nascimento das personagens lobatianas Visconde e Emília, além de outros do folclore brasileiro que ele recupera em sua obra. Em ambos os casos, a linguagem cênica é requintada a vida de Juca na cidade, o casamento e a faculdade são encaminhados com bastante economia de recursos verbais e plásticos que trazem grande impacto, como, na cena da morte do avô e da mãe.

Novo mergulho na fantasia da obra infantil do autor leva ao labirinto do Minotauro, ao pesadelo com a Medusa, ao herói Hércules, cujo perfil contraditório é explorado com humor, tanto no nível do texto quanto cênico, para contrabalançar a gravidade das cenas anteriores. Seguem-se ainda as Amazonas na expressão coreográfica do episódio do cinturão de Hipólita, antes da volta do plano real, com a defesa do “petróleo é nosso”, do que se parte para a mescla com o imaginário onde a Hidra leva enfim o escritor. O retorno à fazenda é em si o retorno à imortalidade pela vida das personagens.

O espetáculo é, sem dúvida, de grande qualidade. O trabalho dos atores tem pontos altos – destaque evidente para Felipe Martins e Ana Jansen – e o conjunto traz o cuidado das produções do Studio Nove.

No entanto, deve-se registrar que o espetáculo se torna extenso e por vezes cansativo, devido à lentidão de algumas cenas e o excessivo tom dramático de outras. Uma correção diminuiria o tempo de encenação e cativaria melhor os expectadores mais infantis.