Aglaia, Falseti, Otácio e Cristina: Monte Azul mostra problemas.

Cartaz do espetáculo

Matéria publicada na Folha de São Paulo
Por Irene Belo – São Paulo – 21.04.1989

Barra

Grupo da periferia mostra Que Vida no Ventoforte

“O próprio padrão de vida faz as pessoas da periferia se tornarem marginais e a televisão contribui para que isto aconteça. É preciso recuperar a dignidade humana, disse o diretor do grupo teatral Monte Azul de São Paulo, Amauri Falseti, ao falar da peça Que Vida, em cartaz hoje e amanhã, às 20h30, no Teatro Ventoforte (rua Brigadeiro Haroldo Veloso, 150 – Itaim Bibi). A peça retrata as angústias, frustrações e sonhos de uma família de migrantes que mora na periferia da cidade. O texto é criação coletiva e cada ator elabora o seu personagem.

O espetáculo não se limita apenas em enfocar o quadro social. Aprofunda a abordagem psicológica, revelando os conflitos de valores existentes entre pais migrantes e seus filhos que nasceram na Capital. Mostra, ainda, o que acontece na periferia de uma cidade grande, convidando o espectador a refletir na função da ação transformadora da realidade.

O grupo de teatro surgiu na Associação Comunitária Monte Azul, em uma favela no bairro do Campo Limpo. A entidade existe há 10 anos e trabalha em favor do menor e da saúde da população carente. Possui ainda uma oficina que oferece curso profissionalizante para crianças.

Falseti conta que sempre houve atores na associação interessados em promover a cultura para aquele bairro. “Como eu já participava da entidade e atuava em teatro há muito tempo, resolvi através de um processo de escolha, montar esse grupo. Dessa forma, ensaiamos durante o ano de 88 (nos fins de semana) com o intuito de mostrar o trabalho também para outras comunidades”, disse. É nessa perspectiva que se insere a apresentação de hoje e amanhã no Ventoforte.

Segundo o diretor, em função do bom desempenho do grupo, ele foi convidado pelo Ventoforte para participar de um seminário que ocorrerá em maio próximo, naquele teatro. “Para nós, este convite significa o resultado de um trabalho feito com muito carinho para a população carente que não tem acesso aos grandes palcos”, afirmou.

Participam da peça: Aglaia Pusch, Octácio Santiago, Maria Cristina da Silva, Carlos Martins, Tereza Maria, Luiz Ernesto, Donizeti e Jairo, além do próprio Amauri Falseti. Ingressos: Ncz$ 3,00.