Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 28.03.1992

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Convite aos bons tempos dos anos 60

Finalmente, o público infantil, tão apreciador de vampiros, lobisomens e outras estranhas e divertidas criaturas, ganha o seu Rocky horror showzinho e já pode cultuá-los, como fazem plateias adultas do mundo inteiro, quando levam para o teatro e o cinema o arroz do casamento de Janet Weiss e Brad Major, o jornal para se abrigarem da chuva que cai em frente a tenebrosa mansão de Frankfurt, ou a vela que acendem na canção There’s a light.

A Família Monstro, em cartaz no Teatro dos Quatro, tem todos os ingredientes dos cults de terror, e condições propícias para se tornar a mais nova mania deste outono no Rio de Janeiro.

Resgatando elementos dos seriados de tv dos anos 60 – Os Monstros e A família Adams-, o texto de Leão Leibovich e Márcio Trigo se vale de uma linguagem cinematográfica para contar a história da “linda e loura” Mary, que por esse pequeno defeito é a vergonha da família. Composta pelo vampiro Vovô, por Herbert, pela Criatura, pelo pequeno lobisomem Eddie e pela morta-vivíssima Mimi. Achar um marido para a “feiosa” da família se torna um problema, ainda mais quando ela insiste em se casar com um pobre mortal. Pela mansão desfilam os mais esquisitos pretendentes, como os primos Quasimido e Id. Mas Mary ama Bob, e aí tudo pode acontecer.

A histriônica direção de Leibovich leva ao palco um espetáculo muito bem humorado, com cenas ousadas de nu e brincadeiras com serviços telefônicos da cidade, entre outras citações. Tudo com muito rock, blues e criativas coreografias, num jogo de movimento e ritmo poucas vezes conseguidos nos nossos palcos.

Além da brilhante atuação do elenco, onde todos, sem exceção, desempenham os seus papéis com desenvoltura, a parte visual da encenação – luz, cenários e figurinos – permite a criação de cenas ágeis, principalmente quando o texto solicita o uso do feedback, ou dos diversos elementos surpresas que são apresentados, como a mão da Coisa, que aparece nos mais diferentes pontos do cenário.

A Família Monstro ultrapassa os limites do palco, ocupa integralmente o teatro com a participação ativa das crianças na plateia, que torcem, riem, dançam com os personagens, sem deixar de ocupar também o coração nostálgico dos adultos apreciadores da televisão preto e branco, da revista Intervalo e do Hully-gully. É um convite irresistível Let’s twist again.

Cotação: 3 estrelas (Ótimo)