A história da família canina, apesar da encenação um tanto confusa, diverte as crianças

Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 11.06.1994

 

 

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Um musical bem-cuidado

Não são poucos os autores que ficam mais à vontade ao desenvolverem os seus enredos a partir de tramas já conhecidas e aprovadas pelo público. Marcelo Saback, autor de A Família Ducão, não contraria as estatísticas. Em seu espetáculo anterior – A Dama e o Vagabundo, de 1992 -, a história consagrada pelos estúdios Disney ganhou versão tão inspirada e acrescida de personagens que chegou ao palco irreconhecível. O subtítulo – O Amor é um Osso Duro de Roer – explicitava o humor da encenação.

A Família Ducão, talvez o número dois da trilogia canina iniciada em 1992, repete Saback no texto e na direção, mas o argumento desta vez é do produtor dos dois espetáculos, Marcos Montenegro. O resultado não é tão feliz. Uma típica família classe média baixa, onde o dinheiro não está chegando até o final do mês, se vê as voltas com uma súbita herança da vovó. Mas esta só será entregue ao próximo neto que nascer (ela já tem dois). Para a alegria e todos, o bebê nasce, mas a vovó some. Após quilômetros de texto e muitos personagens sem funções objetivas (como o síndico, a vizinha e o açougueiro), a paz é restabelecida e a mensagem dada.

A direção de Saback aposta na agilidade física do elenco e em alguns momentos as cenas ficam bastante confusas. O excesso de falas e o estado de euforia presente na plateia acabam prejudicando o entendimento de passagens importantes do enredo.

O esforçado elenco – Andréa Veiga, Anderson Muller, Stela Maria Rodrigues, Regina Restelli e Rosana Garcia, entre outros – procura cumprir sua tarefa da melhor maneira possível. O personagem mais interessante, Júnior Ducão, um adolescente bastante contestador, fica com Kiko Mascarenhas. Aproveitando bem o espaço no palco destinado ao horário infantil, o cenário de Alexandre Murucci se revela criativo. A visão distorcida de portas, móveis e objetos móveis produz um efeito bem-humorado. Os figurinos de Cláudio Tovar contentam a plateia, não abusando da linha estilizada. Graças à maquiagem usada pelo elenco, só reconhecem os atores aqueles que têm em mãos a ficha técnica. Se era essa a intenção, a proposta é coroada de êxito.

A Família Ducão tem ainda músicas de Nico Resende, coreografias de Ana Kfouri e iluminação de Paulo César Medeiros. Todos estão, mesmo sem grandes inovações, perfeitamente integradas à encenação.

Mesmo com alguns elementos complicadores, o espetáculo agrada ao público a que foi destinado, ficando registrada a ativa participação deste. No mínimo, é animado.

A Família Ducão está em cartaz no Teatro Leblon, aos sábados e domingos, às 17h. Ingressos a CR$ 5.000.

Cotação: 2 estrelas (Bom)