“How many roads must a man walk down. Before you can call him a man?”

Bob Dylan

Em dezembro p.p. participamos do “2008 conta 1968”, evento realizado por um grupo jovem para rever a virada mundial impulsionada pelos que queriam “não apenas mudar de vida, mas mudar a vida”. Na ocasião relembramos o que então ocorria em todo o mundo:

Maio de 1968, na França: estudantes comprando briga com as autoridades, e grafitando, nos muros das cidades, idéias que vão ter enorme eco, criticando a sociedade, a tradição, a educação, e inclusive sua visão da sexualidade e do prazer:

“É proibido proibir”
“A imaginação no poder”.
“Ceder um pouco é capitular muito!”
“Ação não é reação, é criação.”
“É nas ruas que a política acontece” etc.

No Vietnã, camponeses de todas as idades enfrentando – e vindo a derrotar  – os Estados Unidos, com toda a sua potência militar e capacidade de destruição.  Em Estocolmo e Copenhague, Bertrand Russell e Sartre instalando pela primeira vez na História um  Tribunal Internacional de Crimes de Guerra, para julgar o que lá acontecia e discutir a possibilidade de abolir nas relações entre países a lei do mais forte.

Nos Estados Unidos e Inglaterra, outros jovens dando também seu recado com sua música – rock, blues, folk, gospel –  que vai correr mundo  e atingir mais de 43 países, multiplicando suas vozes no tempo e no espaço.

No Brasil, o movimento estudantil sendo ponta-de-lança das agitações e denúncias contra a ditadura militar – que faz pagar o preço correspondente: “Eles perguntam: Você é estudante? No que disser que é, toma porrada”, conta Vianninha em livro recém-lançado sobre ele. O que não impediu que o Teatro Universitário criasse centenas de grupos em todo o país, entre os quais o Tuca-SP e o Tuca-Rio.
Os exemplos, mutiplicáveis, permitem entender porque essa transformação mundial seria considerada “a maior, mais rápida e mais fundamental que a História registra”  e porque o período então aberto seria chamado de “a era de juventude.”

Uma Era ainda ( ou de novo) presente

A consciência da importância dessa faixa etária parece ter voltado à tona nos últimos anos:

  • com o Plano Nacional da Juventude ( de 2004), “reconhecendo a importância estratégica da Juventude ….até então esquecida na ação política e cultural” ( embora hoje situada dos 15 aos 29 anos, englobando os que vêem prolongados seus anos de estudo e/ou adiada sua inserção no mercado de trabalho):
  • com a Conferência Nacional da Juventude, que reuniu 58 organizações jovens em 2006, comprovando “o extraordinário crescimento dessa faixa na última década” e reconhecendo “a necessidade de convocar, valorizar, estimular iniciativas e mobilizações que tenham por foco essa fase e seus desafios”;
  • com a criação de uma Secretaria Nacional da Juventude, visando “colocar como prioridade absoluta os interesses e preocupações da juventude”, por serem “importante fator de crescimento, independência e realização social e cultural.”, bem como da “sempre necessária inclusão social”;
  • com a série de pesquisas então iniciadas (2007 em diante) visando traçar o Perfil da Juventude Brasileira Atual e todos os temas a ela relacionados (educação, inclusão, trabalho, (des)emprego, oportunidades, capacitação, criação e expressão  etc.)

Para o CBTIJ, não são idéias novas,

pois há 10 anos tem, entre suas preocupações, a de atingir essa faixa etária; de realizar uma política cultural coerente e consistente em termos de alcançar /mobilizar esses segmentos sociais que em geral têm estado afastados da ação/ produção cultural em curso; de levar-lhes atividades capazes de interessá-los, pela variedade e abrangência de ações e/ou linguagens propostas  (espetáculos, leituras encenadas, oficinas, debates, seminários, palestras, publicações, sites na Internet etc ); de assim realizar um trabalho permanente, visando a um trabalho progressivo e em continuidade exigido por toda e qualquer ação cultural que se pretenda verdadeira e eficiente, e não apenas um mero evento visando à recreação de um público consumidor e passivo.

Estão nessa linha o Projeto “Boca de Cena”, que mantém um trabalho contínuo em 6 Centros de Atividades do SESC Rio. Ou os Seminários de Teatro-Educação realizados. Ou o recente Concurso de Dramaturgia, que abriu um prêmio para textos voltados especificamente para essa faixa etária. Ou a atenção dada à manutenção de uma equipe interdisciplinar, que incorpora profissionais da Educação, Psicologia, Comunicação e outras áreas afins. Buscando fazer, do teatro e da cultura, meios de expressão e comunicação entre as diferentes camadas sociais, e entre os agentes sociais de hoje e do amanhã. E, atentos ao que ora se produz,  buscando também abrir espaço a grupos jovens e/ou alternativos que estejam fazendo um trabalho de qualidade, mesmo quando ainda pouco conhecido. E testar uma linguagem criativa e nova, do jovem para o jovem, em todas as fases  (pesquisa, escrita dramática e cênica inovadora e sugestiva, com humor e imaginação, seleção criteriosa de temas, impostação e veiculação multimídia etc. etc.)

Conscientes de que “os velhos mapas e cartas que guiavam os seres humanos pela vida individual e coletiva não mais representam a paisagem na qual nos movemos e…. não sabemos ainda aonde nos levará nossa viagem”. Mas que “cabe a todos nós trabalhar para que o mundo que vem ressurgindo dos escombros seja um mundo melhor, mais justo e mais viável.” (Eric Hosbsbawn, in A Era dos Extremos).

Maria Helena Kühner, 2009
Dramaturga e ensaísta. Autora, entre outras obras, de Teatro em Tempo de Síntese, Teatro Popular uma Experiência e A Menina que Buscava o Sol.