Na peça, as crianças também votam

Crítica publicada no Jornal Última Hora
Sem Identificação do Jornalista – Rio de Janeiro – 07.12.1985

Constituinte para Crianças

Em cartaz no Teatro Vanucci, há três semanas, o musical A Constituinte da Nova Floresta é uma das melhores opções do teatro infantil neste fim de ano. Sob a direção de Rodrigo Farias Lima, o musical é uma união da informação ao entretenimento. A história desenvolve-se numa floresta, onde os animais, revoltados com a incompetência e o autoritarismo do Presidente – Cavalo Manhoso – e do Ministro da Fazenda – Bode Galvão -, provocam a renúncia do Governo, com o apoio do repórter Justino Tigre, do jornal “O Diário da Floresta”. Visando  conscientizar as crianças quanto ao processo político que vivemos, A Constituinte da Nova Floresta é um passeio alegre, ameno e divertido através do panorama político brasileiro, que o autor assim define: “A intenção da peça é abrir o diálogo para que o público infanto-juvenil participe do importante momento que estamos vivendo, já que a elas pertence o futuro”.

Votação

Mas não é somente no palco, durante os 55 minutos de espetáculo, que está a atração da peça. Antes de saírem do teatro, as crianças têm direito de votar, escolhendo o bicho mais simpático da floresta. A apuração dos votos é fe3ita por um computador. Além dos programas, são vendidos bottons, livros e discos da peça. A responsabilidade deste trabalho cabe a seis crianças fantasiadas de grilos e joaninhas. Elas afirmam que “as crianças” curtem e as “vendas são muito boas”.

Rodrigo Farias Lima não aconselha este musical para crianças menores de quatro anos, mas garante que as observações destas três semanas de apresentações possibilitam afirmar que, a partir daquela idade, há um “perfeito entendimento do que é a Constituinte”;
“Não queremos que a criança saia politizada, mas no mínimo fascinada com o espetáculo”. Rodrigo, que dirige o espetáculo infantil, acredita que os adultos subestimam as crianças e não acham importante levá-las ao teatro. Então, para despertar no público o fascínio pela arte, optou por um início de espetáculo, no qual os atores estão se vestindo e se maquiando, no palco. Toda a transmutação ator/personagem acontece às claras, enquanto cada ator explica qual será o seu papel dentro da peça.
“É quase um trabalho dentro da escola de princípios de Monteiro Lobato, que foi quem mais respeitou a criança neste país” – diz Rodrigo.

“Este espetáculo tem o objetivo de encarar a criança como alguém capaz de entender e valorizar a grande questão de 86, que é a Constituinte.”

A Constituinte da Nova Floresta está em cartaz, às sextas, sábados e domingos, às 15:30 horas.