Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 07.05.1994

 

Barra

Para as crianças no auge de sua energia

Em 1993, quando Heloísa Períssé, a autora de A Chave do Tesouro Mágico estreou no Mistura Fina seu pocket show Ló abre o Jogo, ficou confirmado o fascínio que ela exerce sobre a classe artística. Armado sem muito compromisso, o espetaclinho se tornou um cult no meio teatral. No mesmo ano, Lug de Paula – que agora vive o Rei Felpudo na peça de Heloisa – apresentava no Teatro João Caetano o Show do Seu Boneco. O sucesso do personagem da TV obrigou a produção a fazer uma divulgação tímida, para reduzir o número de crianças que voltavam da porta do teatro em função da lotação esgotada. Logo, a reunião desses dois profissionais no mesmo palco certamente seria uma outra historia. Algo como o que os profissionais costumam chamar de “a alma do ator.”

Entretanto, a historia que os dois põem em cena é a de Pedro, um menino de sete anos que consegue, ao pronunciar algumas palavras mágicas, dar vida a seu brinquedo favorito, o Capitão Trovoada, e a boneca Filomena Filó, de sua irmã. Ai as coisas se complicam. Na trama, um pouco confusa, aparecem o Rei Felpudo seu fiel companheiro Cisquinho, dois fãs da sujeira que querem emporcalhar o mundo. Não contentes, eles sequestram a princesa Belle, a única que tem a chave do tesouro e pode salvar o planeta. E quem pode salva o espetáculo?

André Mattos, o diretor da montagem, poderia. Sem o excessivo efeito de fumaça e com marcações mais criativas, que não deixasse os atores amontoados no palco, o espetáculo ganharia a necessária leveza do tom era uma vez…proposto pelo texto.

Outro ponto complicador é o cenário de Pedro Drummond. Inexplicavelmente pobre – os irmãos dormem na mesma cama -, o quarto das crianças se transformam na caverna do Rei Felpudo depois de um longo, blecaute. Mas à volta da luz não revela maiores surpresas. Os pequenos entraves da peça, porém, passam despercebidos ao publico ao qual se dirige. Nesse espetáculo, a plateia participa com um entusiasmo que há muito tempo não se via.

Num elenco de boas performances isoladas; Lug de Paula mostra – ­se corajoso ao assumir o vilão da história, e Heloisa Períssé, conhecida por seu humor, dá vida a boneca Filó. Luciana Faria empresta sua bonita figura a princesa Belle, enquanto Walter Candido domina bem os gestos engraçados do capitã Trovoada. Num papel episódico, Fabio Andriolli não compromete como o Mago Ado. A surpresa acontece com a participação de Sarah Lavigne, como Cisquinho,um quase personagem de apoio que se revela.

A Chave do Tesouro Mágico é um evento para crianças no auge de sua energia. As falhas do espetáculo, por excesso ou omissão, serão percebidas pelos pais, assim como os decibéis a mais provocados pelo público mirim. É bom lembrar, no entanto, que existem muitos teatros dentro do teatro, e em algum deles a plateia tem que se divertir. Se era este o objetivo, foi plenamente cumprido.

A Chave do Tesouro Mágico está em cartaz no Teatro do Planetário da Gávea, aos sábados e domingos, às 18h. Ingressos a CR$ 4.000.

Cotação: 3 estrelas (Ótimo)