Mariana Leoni, que vive Cotinha, entre Bernardi Marinho e Milena Lemos, que são Carlos e Clara

Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B                      
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 06.03.1999

 

Barra

Uma bem-cuidada produção 

Havia um tempo em que se acreditava que o público participativo do teatro infantil era o que acompanhava a peça dialogando com os atores no palco. Outra estratégia, que faz parte da arqueologia desse gênero teatral, é a de também “agradar aos adultos que estão na plateia”. Isso tudo veio se modificando com o cuidado que as produções têm tomado nos últimos 10 anos de fazer teatro infantil para crianças. A proposta parece redundante, mas de vez em quando exageros são cometidos. O resultado são as peças infantis cabeça para crianças quarentonas, ou as que subestimem o espírito criativo do público e se entregam ao teatro show de desfile de personagens.

Neide Lira, autora e diretora de Brincando de era uma Vez, em cartaz no Teatro Clara Nunes, entre as muitas opções, aposta num teatro de fácil digestão, sem espaço para maiores reflexões. O que acontece está no palco. Não é para levar para casa, nem para pensar depois. É visual.

Na trama, os irmãos Clara e Carlos (Bernardo Marinho, ótimo no personagem) são obrigados pela sua mãe a arrumarem o quarto. Para melhorar a tarefa, resolvem fazer isso brincando. Assim, ganha vida no quarto de brinquedos o palhaço Plin-Plin, o mesmo que faz o plin-plin da televisão.

Os três personagens saem em busca da Terra do Era Uma Vez e encontram uma porta e um portão que querem participar de um festival de música, a professora Cotinha (interpretada com muito humor por Mariana Leone), os personagens Zona Norte e Zona Sul, que não sabem que rumo seguir, uns primos distantes do 101 Dálmatas e do Rei Leão, a Vaca Tatá, que não é parente de ninguém do cinema, e um bruxo que agora quer ser um elemento da natureza: o fogo. Fechando a trama, a mãe da criança também brinca de era uma vez e se transforma em Marylin Monroe para dançar com Chaplin, James Dean, Scarlet O’Hara e Shirley Temple.

Apesar do enredo confuso, o espetáculo ganha força pela produção bem-cuidada que apresenta. Os cenários e figurinos de Ronald Teixeira são de incrível beleza. Revestindo o palco com tecidos de recortes superpostos, o artista não deixa a plateia esquecer que está no teatro. Desse teatro de pano saem todos os outros ambientes, também criados em tecidos coloridos em tons pastéis. Para os figurinos foram usados tons suaves com outros mais vibrantes, que caracterizam bem os personagens.

A iluminação de Aurélio de Simoni colore o palco das cores mais incríveis, levando a plateia a não desgrudar o olho do palco. Finalmente, as músicas de Gui Tavares e a coreografia de Débora Secco fecham a ficha técnica com chave de ouro. Brincando de Era Uma Vez, é um espetáculo bem-intencionado, de produção bem-cuidada, que está tentando acertar o tom. Tem chance. É só acreditar na importância de se contar uma história. É acreditar que mesmo sem os personagens dos filmes de sucesso, e sem as vinhetas de TV, o teatro dá conta.

Cotação: 2 estrelas (Bom)