O Museu do Folclore revoluciona os meios de mostrar a arte popular às crianças

Crítica Publicada no Jornal do Brasil
Por Eliana Yunes – Rio de Janeiro – 06.06.1987
 

O Museu Está Vivo 

Quando alguém diz que “isto parece museu”, o interlocutor entende, sem dúvida, que o ambiente está em baixo astral, desanimado e desestimulante. Este tem sido o clima de muitos museus brasileiros. Mas, ao menos no Rio, há algo novo nos corredores, além dos objetos de carreira nem sempre bem tratada: pensando em cativar novos frequentadores a partir da mais tenra idade, o Museu do Folclore Edison Carneiro e o Museu Nacional de Belas-Artes estão se movendo.

Há um ano esta coluna começou a incluir entre suas sugestões a programação de museus como o da Chácara do Céu, Museu de Astronomia e Ciências Afins, Museu do Índio, Museu Histórico Nacional, além dos já citados. Alguns têm mesmo programado visitas e atividades especiais para crianças, levando-os a conhecer seus acervos de forma lúdica. Se em alguns momentos prevalecem o improviso e a falta de linguagem pedagógica para a empreitada, já há pelo menos a intenção de realizar um bom projeto que seduza pais e filhos.

Pensando nisto, a equipe de divulgadores do Museu do Folclore solicitou a um grupo de atores e músicos ligados ao Teatro Feliz-Meu-Bem uma proposta de visita animada, o que resultou em A Brincadeira do Boi Voador, por Sônia Piccinin, Tônio Carvalho, Ronaldo Mota, Cristiano Mendes e Vânia Alexandre. Eles criaram um passeio musical pelo acervo, que serve de guia para um improviso dramatizado em que a cultura popular segue sendo o centro de interesse do espetáculo.

A proposta é inteiramente revolucionária e tocante: não há como fugir às emoções criadas pelo enredo, que se desenvolve passando pelo inesperado das situações criadas pelas crianças. O bom humor, a descontração e o despojamento da condição popular mesclam personagens e visitantes, num

roteiro de experiências e manifestações de vida que a arte oriunda de camadas simples da população registrou com perspicácia.

A dança da cavalhada em sombras projetadas na parede, o cruzamento das bandeiras, a velha Fiá e seu tear, os ritos de passagem dramatizados, os arranjos e sonhos da gente sertaneja, guiados pelo mistério do Bumba-meu-Boi desaparecido, mostram o museu vivo, em que o cotidiano das gentes está flagrado.

Um programa indispensável neste domingo em que o trabalho, que já vem sendo feito com escolas durante a semana, será mostrado ao público em geral. Como há vagas apenas para 25 crianças, sem os pais, viverem a brincadeira durante uma hora de espetáculo, os interessados devem inscrevê-las hoje, ligando entre 15h e 18h para os telefones 285-0891 e 285-0441, ou arriscar chegar bem antes das 15h para disputar um lugar nesta gostosíssima, inteligente e bem humorada brincadeira.