Crítica publicada em O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro  – 10.02.1979

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A Branca de Neve e os Sete Anões

Branca de Neve: uma evolução?

A primeira observação a ser feita sobre este A Branca de Neve e os Sete Anões, de Jair Pinheiro, refere-se ao nível de produção. Este espetáculo está a uma enorme distância dos Três Porquinhos, do mesmo produtor, que analisamos pouco tempo atrás e que também esteve em cartaz no Teatro Tereza Rachel. Desta vez, há os cuidados básicos. Não mais as improvisações com cenários e figurinos. As melhorias, entretanto, não param no nível da produção. Se não existe, quanto à interpretação, nada de excepcional, há um avanço imenso quanto aos trabalhos anteriores de Jair Pinheiro. Neste A  Branca de Neve e os Sete Anões, os atores não são tatibitates e interpretam sem os eternos vícios de representação, sem apelar para gestos e inflexões clichês. É verdade que, ao final, o Príncipe declama (o verbo é esse mesmo!) a mensagem final da peça com a mão no coração, mas esse detalhe não chega a invalidar o resultado positivo. Ressalte-se, ainda, o trabalho de Verônica Berardo, como Rainha: firmeza, nuances, boa voz.

Neste espetáculo nota-se uma maior preocupação com o aspecto visual (com a luz, figurinos e cenários) e, também, com a música. Além de se aproveitar o sucesso de Laranja Mecânica, na trilha sonora, ainda há músicas especialmente compostas para a peça (de quem?).

Houve uma grande melhoria deste espetáculo para os demais que surgiram no panorama carioca sob o nome de Jair Pinheiro (não sei até onde vai a influência do diretor Alexandre Lambert). Isso, se não significar uma tentativa isolada que morra nela mesmo, poderá ser a expressão de que um dos produtores de maior fôlego da praça está reformulando seus conceitos e preocupando-se em evoluir neste campo tão complexo que é o teatro para crianças. Torçamos para isso.

Das observações acima não se deve concluir, entretanto, que A Branca de Neve e os Sete Anões seja um ótimo espetáculo. A direção de Alexandre Lambert deu à encenação um sentido mais teatral, procurando explorar os elementos que compõem a linguagem do palco. Mas a boa intenção entrou em conflito com a pouca experiência. O espetáculo é muito frio, as cenas são frouxas, sem as devidas ênfases (ver, por exemplo, a entrada dos anões) e o diretor trabalha apenas sobre as necessidades mais óbvias. As mudanças de cenário são mal resolvidas; os momentos musicais não têm a menor criatividade.

Esperamos que A Branca de Neve e os Sete Anões represente, na realidade, uma evolução nos trabalhos de Jair Pinheiro. Para isso, muito ajudaria uma melhor seleção de textos, para que se deixassem de lado adaptações de histórias da carochinha que são, apenas, uma redução da trama; e para que se abandonasse aquelas peças que pregam um (mau) bom comportamento, que estimula apenas à passividade e ao conformismo.