A Bela e a Fera: mantendo a essência do conto original

Crítica publicada no Jornal do Brasil
Por Carlos Augusto Nazareth – Rio de Janeiro – 06.03.2005

 

 

 

 

 

Barra

Sem medo de falar do medo 

Embora se baseie em reconto de origem oriental, a versão em cartaz no Teatro Cândido Mendes para A Bela e a Fera preserva a essência do conto.

As questões existenciais de que trata o texto são os ritos de passagem, e a realização do eu. A autora Paula Giannini opta por dar ênfase a esta segunda questão. E com uma linguagem simples reconta a história, simplificando os temas abordados. A Fera, que parece muito assustadora, na verdade é um príncipe que precisa ser amado para que o feitiço se desfaça.

A direção de Renato Castro Barbosa buscou suas referências no Oriente, tanto na composição dos personagens, como na ambientação cênica. O espetáculo tem a qualidade de não ter medo de falar do medo para as crianças.  Porém começa num tom muito acima do que seria adequado, o que fez com que alguns dos meninos fossem embora, amedrontados. Colocar o medo em cena não significa necessariamente atemorizar a plateia.

O exíguo espaço cênico do teatro não permite voos maiores para a cenografia, que, no caso, é composta apenas por elementos orientais e um fundo de tecido translúcido, onde inúmeras cenas acontecem, com bastante força expressiva, por meio de teatro de sombras. A certa altura, a atual obsessão pela interatividade faz com que a direção recorra ao indesejado recurso do “programa de auditório”, desnecessário, já que a história vinha sendo bem contada. A luz de Ericeira Júnior é apenas correta e funcional. Patrícia Aguiar e Daniele Martins acertam no figurino da Fera e do criado, mas são desafortunadas nos figurinos da Bela e de seu pai.

A tentativa de atualização da história evidencia a permanência da relação entre os pequenos da era cibernética e os contos de fadas. A trilha sonora de Pedro Mendes é de boa qualidade, criando os climas corretos para as cenas que sublinha. A máscara da Fera é um trabalho em couro, de Marcílio Barroco, de forte efeito cênico.

Mas a direção de Renato Castro Barbosa se depara com o grande problema do espetáculo: a atriz Gisele Olive, que faz o pai da Bela e o ator Daniel Melo, que vive o criado. Suas atuações destoam da de seus companheiros, os corretos Leandro Tassi (Fera) e Márcia Liedke (bela).