Parte do elenco de A Aranha … atrizes em ótima performance

Crítica publicada em O Globo – Segundo Caderno
por Marília Coelho Sampaio – Rio de Janeiro – 16.04.2005

 

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A Aranha Arranha a Jarra, a Jarra Arranha o Trava-Língua: Proposta original

Brincadeira divertida com a língua

A Aranha Arranha a Jarra a Jarra Arranha o Trava-Língua. O título do espetáculo da Companhia Pop de Teatro Clássico não é dos mais simples de serem pronunciado, nem de serem memorizados. Talvez por isso as pessoas cheguem na bilheteria do Teatro das Artes, no. Shopping da Gávea, e peçam ingressos para ver A Aranha…, título resumido pelo qual, certamente, a peça se tornará conhecida – e que também será utilizado neste texto.

Mas, além do curioso título, o espetáculo reserva outras surpresas, como revela a carta do diretor Demétrio Nicolau, enviada por e-mail: A Aranha… é um espetáculo sempre em mutação (… ) Temos cerca de 37 minutos a mais de cenas que não foram apresentadas neste fim de semana, e muitas cenas ainda sendo desenvolvidas junto com o elenco. Quase um outro espetáculo todo diferente.”As palavras do diretor nos levam a perceber que A Aranha… é um espetáculo em processo. Sendo assim, talvez seja indicado dizer que esta crítica se refere à apresentação do domingo dia 3 de abril.

Comunicação com a plateia é ponto alto da peça

O roteiro do espetáculo, também de Nicolau, é composto por diferentes trava-línguas – pequenos textos, rimados ou não, difíceis de serem pronunciados repetidas vezes – que se prestam a uma série de brincadeiras. Mas, na realidade, o que mais chama a atenção na montagem é a forma como o grupo utiliza esses minitextos para contar pequenas histórias e para, através da exploração da sonoridade das palavras, criar movimentos que podem ser embalados por músicas conhecidas do público. Como no caso de “Quem a paca cara compra paca cará comprará”, que é embalado pelo ritmo de “Parabéns pra você”.

Também se destaca na encenação o recurso utilizado pelo diretor para promover a interatividade palco-plateia: de uma forma sutil, e com muito humor, as atrizes vão se comunicando com as crianças e estimulando não só a reprodução dos trava-línguas, como também das coreografias sugeridas a partir deles. Nesses momentos, não se pode deixar de notar a primorosa direção de movimento de Nara Keiserman, fundamental para a boa receptividade da peça pelo público infantil – algumas crianças chegam a se posicionar na frente do palco para repetir os gestos de Ângela Fabri, Lucia­na Shirakawa, Marcella Dale e Stella Brajterman, todas ótimas em suas performances.

O palco, completamente vazio, é preenchido pelas cores do cenário: um painel de fundo composto por inúmeras fitas coloridas. No figurino, a cenógrafa Teca Fichinski opta pela mesma simplicidade, recorrendo apenas a fitas e retalhos de diferentes tons. Completando o visual das atrizes, nota-se a delicada caracterização de Mo­na Magalhães. A direção musical e a iluminação do espetácu­lo, de Demétrio Nicolau, estão bem sintonizadas com a pro­posta da montagem.

Trabalho de pesquisa minucioso da companhia

A Aranha… é um espetáculo muito original, que, sem dúvida, exigiu um minucioso trabalho de pesquisa de toda a companhia. O resultado agrada especialmente às crianças pequenas e a seus pais, que, em diferentes passagens, não conseguem ficar imunes à pro­posta interativa do grupo.