Barra

Por muitos, classificada como sendo a primeira manifestação cênica, historicamente, registrada em diferentes comunidades, o Teatro de TITERES espelha as diferentes sociedades. Espalhados, mundialmente, os títeres são frequentemente atribuídos à antropologia, entretanto, não pertencem apenas a esta, e à tradição, mas, acima de tudo, ao teatro e à contemporaneidade.

Como dizia Sergei Obrasov ‘O títere não é a imitação de um ser vivo, mas uma imagem coletiva transformada numa alegoria‘… – uma figura plástica, inerte, que para representar uma personagem depende da interpretação de um ATOR para tornar-se uma imagem ‘movente’, diria mesmo ‘comovente’, pois busca e rebusca, no fundo d’alma, as lembranças, os sonhos e os mitos ou mesmo propicia, num distanciamento ‘bretchiano’, uma analise critica através do deboche, da ironia, da dramaticidade…

Peculiar às Artes, em geral, é o ato da criação e da identificação com a obra. Uma Obra de Arte só é reconhecida como tal através desse processo – um ato SUBJETIVO, ABSTRATO, compartilhado tanto pelo AUTOR como pelo seu público – o CATALIZADOR da mensagem, o CO-AUTOR.

Como afirmam os Javaneses ‘CRIAR e despertar a ALMA‘- por a ÂNIMA EM ACAO.- acordar o terceiro olho (órgão da visão interior).

Congregando conceitos de síntese, de transformação, de realização do impossível plausível, o Teatro de Títeres ou de Animação, Arte Cênica que é, se apropria também de todas as convenções teatrais.

Em seu livro “Towards an aesthetic of the puppet“, Steve Tillis – dramaturgo e pesquisador americano – comenta sobre a responsabilidade do titeriteiro em fazer com que seu publico se identifique com a alma de sua personagem, e que, acima de tudo, possui vida própria.

0 que diferencia a Arte do Títere das outras artes, afirma Tillis, é a ‘atribuição de vida própria ao inerte‘ – um simples ato de transformação do OBJETO em SUJEITO realizado pelo ANIMADOR (titeriteiro) que induz o PÚBLICO a acreditar na independência desse SER com ‘alma’ e ‘vida’ próprias.

Para tal transformação, o ANIMADOR não pode, apenas, ‘MANIPULAR’ – processo externo, ato frio de destreza – necessita INTERPRETAR – processo interno de busca da sua personagem – uma ação calorosa de envolvimento e amor. Pressupõe-se, então, que uma das convenções teatrais primordiais ao Teatro de Animação imprescindível na formação do ator-ANIMADOR (Titeriteiro) e a arte da INTERPRETAÇÃO. Só através desta pode o público, num processo de cocriação, acreditar na vida autônoma do títere.

É, pois, importante que o TITERITEIRO trilhe os caminhos do ATOR “HUMANO” (1) que, para compor a personagem, desenvolve um processo de pesquisa tanto psicológico quanto físico e apresenta a mesma em seu próprio corpo. Já o TITERITEIRO, ator que é, além da destreza do manipular, necessita desse mesmo processo de pesquisa para concretizar sua personagem, isto é ANIMAR (alma e energia) ao, até então OBJETO.- INERTE.

Barra

Bibliografia

OBRATSOV, Sergei – My Profession – Raduga Publishers, 1985, União Soviética.
TILLIS, Steve – Towards an aesthetic of the puppet- Puppetry as a Theatrical Art-Greenwood Press, New York, EUA.

Notas

(1) Termo empregado por Sergei Obratsov, em seu livro “My Profession” – pg. 27, em substituição ao, usual, “Ator dramático”.

Barra

Magda Modesto
Titeriteira, Professora, Consultora em Teatro de Animação. Pesquisadora e Colecionadora de Títeres de Expressão Popular

Barra

Obs.
Texto retirado da Revista FENATIB, referente ao 8º e 9º Festival Nacional de Teatro Infantil de Blumenau (2004 e 2005)