Matéria publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Roberto Cômodo – Rio de Janeiro – 24.02.1994

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Alice entre os atores e bonecos

São Paulo – a premiada companhia teatral paulista A Cidade Muda resolveu festejar seus dez anos de pesquisa estética com o  teatro de bonecos inovando sua linguagem. O grupo estreia hoje, no Teatro Ruth Escobar, o espetáculo Alice, baseado no irônico nonsense dos clássicos textos Alice no País das Maravilhas e Alice Através do Espelho, de Lewis Carrol. A caprichada montagem concebida por  Marco Antonio Lima, fundador do grupo, coloca pela primeira vez no palco atores e texto, contracenando com os bonecos do grupo.

“Até agora o nosso trabalho era de um teatro de animação, feito apenas com bonecos, sem a utilização da palavra”, diz Marco Antonio, 30 anos, criador dos aplaudidos espetáculos  Cidade Muda I II, Crack e Zark-zis, que em conjunto deram em 1991 o Prêmio Shell de pesquisa ao grupo. “O projeto da peça, Alice mergulha nas imagens oníricas do universo infantil, mas com uma temática reflexiva adulta”, conta Lima, que resolveu fundir os dois textos de Lewis Carroll, privilegiando a estranha alteridade de Alice no contrassenso de normas e etiquetas de um outro mundo, visto como  absurdo e paralelo.

A montagem do espetáculo, com direção conjunta de Marco Antonio Lima e Maria Mirtes Mesquista, é resultado  de um ano de pesquisas e onze workshops realizados na  Oficina Cultural Oswald de Andrade. Com iluminação de Guilherme Bonfati (Prêmio Shell por Paraíso perdido), coreografia de Sônia Galvão (parceira do bailarino Ivald Bertazzo) e figurinos assinados pela requisitada Ziria Oliveira Rosa, Alice, ainda tem cenários inspirados nos trabalhos do pintor catalão Joan Miro e do inglês Peter Max, o criador dos desenhos do filme Submarino amarelo, dos Beatles.