Cartaz, 1994

Programa, 1994

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(INFORMAÇÕES DO PROGRAMA) 

(Capa) 

Teatro Projeto Jovem Coca-Cola
apresenta

Um espetáculo de Luca Rodrigues

A BELA E A PELE DE ASNO

(Verso da Capa:  Anúncio Werner Tecidos) 

(Página 01) 

Desde 1991 Azor e Bela trilham um caminho cheio de encontros, perdas, buscas e reencontros.

Em A Bela e a Fera, Bela aprendia a amar a Fera / Azor, pondo fim a sua maldição. Em A Bela Adormecida, Azor morria e renascia durante vinte séculos até estar pronto para despertar Bela e assim fazer cessar o seu encantamento.

Agora, em A Bela e A Pele de Asno, Azor e Bela se buscam pelo mundo e ao final nós os vemos como rei e rainha de seus destinos. Aqui termina a “Trilogia do Despertar e do Encontro”.

Quase quatro anos ininterruptos de pesquisas, debruçado sobre centenas de histórias, suas inúmeras versões e as diversas interpretações de seus significados. Acompanhando a trajetória de uma mesma história pelos séculos e pelos povos, sempre a mesma, apesar de todas as abissais diferenças de contexto espacial e temporal.

Homens completamente e inteiramente diferentes a contar e recontar uma história com o mesmo desvelo de quem guarda a mais preciosa das joias. Assim está escrito num antigo rolo de papiros egípcios do Séc. XII A.C. – “Foi composto pelo escriba Ananias, possuidor deste rolo. Que o Deus Tot livre da destruição todas as obras contidas nesse rolo”.

Antes de pensar em realizar um espetáculo para esse ou aquele público, veio a paixão por essas três histórias e a partir dela, o compromisso de contá-las sob a forma de um espetáculo de teatro.

Promessa cumprida, quero apenas agradecer a sensibilidade e os olhares de confiança e cumplicidade que recebi durante todo esse tempo.

“Ouça bem essa história e no final você será uma outra pessoa”

Muito Obrigado.
                                        Luca Rodrigues

(Página 02 – Logos: Mar das Tintas, De Millus, Attellier de Maquiagem, J. Boueri & Cia, Caixa Econômica Federal) 

(Página 03) 

A Trilogia do Despertar e do Encontro 

A Bela e a Fera (1981)

Prêmio Coca-Cola de Melhor Produção: Luca Rodrigues

Indicações:
Melhor Cenografia: Dóris Rollemberg
Melhor Iluminação: Paulo César Medeiros

“A Bela e a Fera conquista a plateia com intrigantes diálogos e plasticidades cênicas”
                                                                                                                                           Lucia Cerrone – Jornal do Brasil

“A adaptação alcança bom ritmo através do diálogo informal, sem perder a carga poética e simbólica do texto original”
                                                                                                                                        Luciana Sandroni – O Globo

“O público que tem lotado o teatro todos os fins de semana mostra que, apesar da ênfase no aspecto psicológico da história, o espetáculo não se tornou difícil para crianças”
                                                                                                                                         Karla Marcolino – Veja Rio

A Bela Adormecida (1993)

Prêmio Coca-Cola de Melhor Produção: Luca Rodrigues

Indicações:
Melhor texto: Luca Rodrigues
Melhor Cenografia: Dóris Rollemberg
Melhor Iluminação: Renato Machado

“Amplamente competente em suas funções de autor, diretor, produtor e ator, Luca Rodrigues não se descuidou de nenhuma delas, e o que se vê em cena é o resultado de um trabalho obsessivo pela qualidade (…) perfeito nos mínimos detalhes, A Bela Adormecida é um espetáculo de tirar o fôlego”
                                                                                                                                         Lucia Cerrone – Jornal do Brasil

“Valendo-se de muitas lendas, Luca Rodrigues criou um espetáculo emocionante, indo além da leitura simplista que o conto original pudesse sugerir”
                                                                                                                                           Mànya Millen – O Globo

“A produção cuidadosa coloca a peça no nível das boas montagens para o público adulto”
                                                                                                                                           Karla Marcolino – Veja Rio

“Bonito e extremamente sedutor… uma das melhores e mais bem acabadas montagens em cartaz”
                                                                                                                                           Armindo Blanco – O Dia

(Página 04 – Logos: Native, Marco Sabino, Casa Pinto, Coty, Aguilera Silk Screen, Flora Margarida) 

(Página 05) 

Elenco

Reino dos Francos

Azor: Luca Rodrigues
Rei Cronos: Flávio Bruno
Rainha Ino: Lenita Ribeiro
Fiel João: Paulo Carvalho
Iaquimo: Francisco Rocha
Cloten: Vicente Filho
Sicorax: Jaqueline Sperandio
As Bruxas: Andréa Bergallo, Claudia Radusewski, Ana Maria Vieira
Soldados Francos: Artur Portela, Marco Gerard,
Camponeses: Andréa Bergallo, Cláudia Radusewski, Cristina Montenegro, Flávio Bruno, Francisco Rocha, Lenita Ribeiro, Luca Rodrigues, Marco Razek, Vicente Filho
Assassinos: Artur Portela, Flávio Bruno, Francisco Rocha, Marco Gerard
Chefe dos Assassinos 1: Marco Razek
Chefe dos Assassinos 2: Vicente Filho

Reino da Fadas

A Rainha das fadas: Cristina Montenegro
Gênio: Paulo Carvalho
Fadas: Andréa Bergallo, Claudia Radusewski, Ana Maria Vieira

Reino de Bizâncio

Bela: Marcela Altberg
Rei Minos: Marco Razek
Nuala: Cristina Montenegro
Velho Bruxo: Flávio Bruno
Escravas do Rei, Servas do Velho Bruxo: Andréa Bergallo, Claudia Radusewski, Ana Maria Vieira
Rei dos Turcos, Sultão: Paulo Carvalho
Soldados Turcos: Artur Portela, Marco Gerard
Dançarinas do Sultão: Andréa Bergallo, Cláudia Radusewski, Ana Maria Vieira

Ilha dos Mortos

Nativos: Artur Portela, Marco Gerard, Mauro Sibanto
Fantasma de Minos: Marco Razek
Fantasma de Cronos: Flávio Bruno

(Páginas 06 e 07) 

Ficha Técnica

Texto, Pesquisa e Direção: Luca Rodrigues
Cenografia: Doris Rollemberg
Figurinos: Ney Madeira
Iluminação: Renato Machado
Músicas: Leandro Braga
Coreografia: Andréa Bergallo
Máscaras e Cabeças: Andréa Cavalcanti, Cláudio Ricciardi, Eduardo Andrade
Caracterização: Rose Moraes
Programação Visual: Paula Joory
Arte Final: Bell Araújo
Fotos: Guga Melgar
Assistência de Cenografia: Ângela Menezes
Cenotécnico: Humberto Silva e Equipe
Pintura de Arte: Clécio Regis e Equipe
Serralheiro: Sidney Pereira Marques
Assistência de Figurinos: Maurício carneiro
Adereços: Renato Silva e Edgley Cunha
Armas e Elmos: Francisco Rocha
Joias: Marco Sabino
Trabalhos com Flores: Maria Cândida Rodrigues
Turbantes: Lourdinha e Ana Maria
Costureira: Mara Lopes e Equipe
Assistência de Iluminação: Francisco Rocha
Equipe de Luz: Anderson Schneider, Cristiano Cássio, Francisco Rocha, Paulão
Assistência de Máscaras e Cabeças: Rogério Andrade
Studio: Chico Sá
Contra Regras: Mauro Sibanto, Pedro Ribeiro, Renato Silva
Operador de Som: Sergio André
Operador de Luz: Paulão
Administração: Maria Lúcia Ferro
Produção e Divulgação: Luca Rodrigues Produções Artísticas

(Página 08) 

Agradecimentos

Adriane Vieira, André Luis Fernandes Antunes, André Luis Nogueira Neves, Antônia Aurinda Fernandes, Célia Regina Várzea, Cláudio Moura, Denise Rover, Felipe Bedran Calil, Guga e Cláudia Melgar, José D’Ângelo, Klinger Prota, Laila Kopke, Luis Fernando Madella, Luis Roberto Loureiro, Mabel Tude, Marcelo Aguilera, Marco Sabino, Maria Cândida Rodrigues, Maria Lúcia Ferro e Antônio Elder Tavares, Odon Fernandes de Lima, Paulo César Boueri, Paulo Crown, Ricardo Brito, Rose Moraes, Silas Wenceslau, Valéria Nunes Elbert, Valéria Faro, Sargento Wilson Sabóia e Central Técnica de Inhaúma (FUNARJ).

Equipe do Teatro Nélson Rodrigues – Conjunto Cultural da Caixa Econômica, Elida Cândida, Gilberto Barbosa, Laís Maciel, Luís Gonzaga, Maria Helena Barbosa, Mário Gil, Paulo Emílio, Rita de Cássia, Sérgio Murilo, Sidney Cordeiro e Yeda Dantas

(Página 09) 

A Bela e A Pele de Asno

“A Bela e a Pele de Asno é uma peça quase um filme que não vai sair em vídeo. Os fãs sejam do teatro ou do cinema devem comparecer.”
                                                                                                                                      Lucia Cerrone – Jornal do Brasil

“Luca Rodrigues mostra um primoroso exercício de direção e respeito ao público infantil”
                                                                                                                                        Mànya Millen – O Globo

Texto – O Espetáculo

Durante a pesquisa para a elaboração do espetáculo algumas ideias surgiram por pura intuição e, de distantes entre elas e sem nada que as relacionasse, acabaram por se tornar unas

1 – A época 1180/1220 Idade Média – Europa = O Mundo dividido em três pares: Ocidente / Oriente-Bizâncio / Oriente/islã

2 – As Cruzadas = As primeiras grandes viagens, o início da descoberta do mundo

3 – O Pré-Renascimento do século XII e XIII a partir de tradução de obras árabes e gregas descobertas a partir do contato Ocidente / Oriente

4 – O sonho de reunificação do Império Romano do Oriente e do Ocidente que determinaria o declínio da igreja

4.1 – A Lenda do Graal – A busca da taça que contém a água da vida = A Idade Média aguardava o herói do Graal para que o Chefe do Sagrado Império Romano se tornasse uma imagem ou manifestação do Rei do Mundo, para que vigorasse uma ordem solar, o imperador invisível numa nova Idade de Ouro

4.2 – Os fiéis do amor = corrente iniciática, da qual fazia parte Dante Alighieri, e também uma organização secreta que apoiava a cauda do império, contra a igreja. Seus símbolos mais constantes eram o anel talismânico (O anel que os amantes trocavam como jura de fidelidade) e a rosa (simbolizando o renascer, o fazer florescer). Dante busca Beatriz, a mulher e o amor têm um caráter iniciático

5 – Ritos de Iniciação

5.1 – A Jornada do herói = Para vir a ser um homem, o filho precisa primeiro tornar-se filho pródigo, sair de casa e viajar sozinho por um país distante. A terra estranha antes da reconciliação. Não pode haver regresso ao lar sem ter havido uma partida

(Página 10) 

5.2 – A separação = Arrancado dos braços da mãe e lançado à sociedade viril dos homens. Em muitas tribos os homens raptam os meninos e levam-no para viver na sede do clube dos homens, onde os mais velhos os sujeitam a torturas, disciplina e ensino

5.3 – Morte / Renascimento = intervalo de retiro durante o qual são encenados os rituais destinados a apresentar o aventureiro da vida às formas e sentimentos apropriados ao seu novo estado. Quando for chegado o tempo de regresso ao mundo normal, o iniciado terá praticamente renascido

6 – O teatro do peregrino – A dramaturgia de Ibsen (Peer Gynt) e Strindberg (A Viagem de Pedro) = ininterrupta peregrinação em busca de um centro, de um paraíso continuamente sonhado, ainda que sempre inalcançado

7 – O teatro elisabetano = o que a época requeria era expansividade, liberdade. Não havia cenário – A imaginação do espectador era invocada sem reservas para entrar no jogo. Não há nenhum vínculo de lugar, nem de tempo à ação dos personagens. O quadro pode mudar ao gosto do poeta que transporta a ação para onde quiser mesmo em poucas frases

” De um lado a cena representa a Ásia, e de outro a África; os reinos são tantos que o ator, ao entrar, necessita absolutamente começar por dizer onde está… Se passam três damas colhendo flores, é necessário imaginar-se que a cena representa um jardim; mas imediatamente no mesmo lugar, se fala de um naufrágio e então reconhece-se a praia. E agora se aproximam dois exércitos, representados por quatro espadas e ouros tantos escudos – e quem será tão desconfiado que não veja ali uma batalha desordenada”

8 – Contos de Fadas – Histórias de camponeses = Relações com os desejos e aspirações dos servos = a dor da camponesa de não poder se fazer bela para ser amada pelo cavaleiro, ou o servo pela castelã. “Sou feio, um monstro” – e esse monstro ama tanto que é amado e se torna belo. Salvar todas as vítimas – a criança surrada pela madrasta, a filha caçula desprezada, maltratada. Descobrir um tesouro que porá fim a sua miséria

9 – A Arte Gótica

9.1 – O Teatro Medieval – o “Drama em Filme” = o espectador está, por assim dizer, à beira de uma estrada em que a vida colorida, incansável, caminha sempre sem desânimo para frente, desenrola-se perante os seus olhos, e ele não só acha extremamente interessante tudo quanto ali acontece, como, também se encontra envolvido por toda essa vida e atividade. A paisagem móvel é a forma básica de concepção deste mundo. Repetidas vezes a arte do último período gótico pinta o vagabundo, o viajante, o andarilho, sempre que tenta despertar a ilusão de uma viagem, sempre que as suas personagens são impelidas pela insistência de estar sempre a caminho. Os quadros passam perante o observador como cenas de uma procissão constantemente em movimento = a expressão do dinamismo da época.

9.2 – A catedral gótica = eleva-se grandiosa e majestosa numa oferenda coletiva que faz ascender até Deus. É um hino coral do povo inteiro, invocando a graça; a monumental afirmação da própria força e confiança = A representação concreta de um ideal de sistema político perfeito, a luz para todos = “Que a alma busque a luz seguindo a luz” (São Bernardo), “Aproximamo-nos de Deus na medida exata em que ele se aproxima de nós, dando-nos a luz e o calor de seu amor”. (Abelardo) = Pelo fogo do amor, a alma escapa ao obscuro, flameja na luz do pleno dia. Eis porque a catedral, morada de Deus, se quis transparente, o grande vitral substituindo as paredes. Tudo o que podia romper a unidade do espaço interno é abolido. Este se torna homogêneo, uniformemente banhado por esses raios que são a um só tempo conhecimento e caridade. Nesse momento chega ao seu término o lento movimento de insurreição. A construção das catedrais pela metade do séc. XII acompanha a história, a evolução social do momento e a nova cultura. A Idade Média, com tudo quanto de místico, inculto e violento ela comportava, encaminha-se para o fim.

10 – A Borralheira = O conto de fadas mais divulgado e popular do mundo devido à grande atração consciente e inconsciente que exerce o seu significado mais profundo.

10.1 – O desejo de ser amado, e mesmo ser a parceira sexual do pai do outro sexo, que no começo do processo edípico parecia natural e inocente, é vivenciado como “mau” e “reprimido” no final deste período. Mas, enquanto o desejo em si é reprimido, o mesmo não acontece com a culpa quanto a ele e aos sentimentos sexuais, e isto faz a criança sentir-se suja e sem valor. Ela então precisa acreditar que no final será resgatada desta degradação e elevada a uma posição digníssima – o casamento com o príncipe.

10.2 – A Borralheira tem que elaborar suas profundas decepções edípicas, para voltar a uma vida exitosa no final da estória, não mais como criança, mas como uma mulher preparada para o casamento.

11 – O filho mais novo ou desprezado que se transforma em senhor de poderes extraordinários = o rejeitado = o inconsciente = onde são guardados todos os elementos da existência rejeitados, não admitidos, não reconhecidos, desconhecidos e subdesenvolvidos.

12 – O anel talismânico, resultante do encontro da alma com a sua metade, representa o fato de o coração estar consciente da necessidade do herói de reunir seus dois mundos. Azor experimentou de perto a bem aventurança do sono profundo, com um talismã tão eloquente que foi capaz de manter a sua autoconfiança diante de todas as desilusões conformadoras. A história do herói é um relato da luta por um destino que foi convocado a viver. Nem todos têm um destino, apenas o herói que estendeu a mão para tocá-lo e conseguiu retornar trazendo o anel.

13 – A dramaturgia = inspirada nos contos de fadas de Grimm (A Água da vida, A Dama e o Leão, Pele de Bicho, A Donzela Malvina, A Guardadora de Gansos do Regalo e a Órfã Protegida das Fadas), Perrault (Pele de Asno), Apuleius (Eros Psiqué), e as histórias de As Mil e Uma Noites (A historia do príncipe Kamar Al Zaman e da Princesa Budura), nas peças de Calderon de La Barca (A Vida é Sonho) e Shakespeare (Cimbelino e Rei Lear) e no romance Tristão e Isolda em suas várias versões.

14 – Pele de Asno = Origem no folclore religioso, mais precisamente nas raízes primitivas do carnaval – Vista a pele de asno e suje seu rosto com as cinzas da lareira assim você estará protegida.

14.1 – A máscara = sob ela a personalidade deve ficar secreta (a pele de asno). O sacrifício de animais – os celebrantes de Dionísio vestidos com peles de bodes.

14.2 – As cinzas = A quarta-feira de cinzas = o costume de sujar os celebrantes com cinzas para isolar os espíritos perigosos, purificar as vítimas sacrificiais. Ambos os rituais vinculados às cerimônias de fecundação da terra.

15 – O carnaval = o reino utópico da universalidade, liberdade, igualdade e abundância. A renovação universal – A morte do velho rei e o nascimento do novo rei = A esperança popular num tempo melhor, num regime social e econômico mais justo, uma nova verdade = A festa oficial olha para o passado do qual se serve para consagrar a ordem social. A visão carnavalesca do mundo destina-se ao novo, ao que virá = O drama da imortalidade e da indestrutibilidade do povo.

(Verso da Última Capa – Logos: O.S Studio Fotográfico O.S. Ltda., Minister Arte Gráfica, Cia Têxtil Guimarães, Fink)