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(INFORMAÇÕES DO PROGRAMA)
(Capa)
O SANTO INQUERITO
Dias Gomes
Universidade do Rio de Janeiro (UNIRIO)
(Página 01)
O Autor
Alfredo Dias Gomes nasceu em Salvador, estudou no Rio e iniciou sua carreirta artística em São Paulo, no rádio, embora já tivesse estreado, como teatrólogo, na adolescência. Aliás é interessante notar que suas primeiras peças estão completando cinquenta anos. O sucesso começou em 1960: O Pagador de Promessas foi encenada pelo TBC e, logo depois transformada em filme por Anselmo Duarte, que ganharia a Palma de Ouro do Festival de Cannes.
Além dessa, as mais conhecidas são: Odorico, o Bem Amado e O Berço do Herói, adaptadas com enorme êxito para a TV, a segunda com o nome de Roque Santeiro, Campeões do Mundo e O Santo Inquérito. Recentemente estreou Meu Reino por um Cavalo, com direção de Antônio Mercadante, que recebeu comentários elogiosos de Flávio Marinho e Sheila Kaplan.
Em todas elas, o autor distingue-se pela sua permanente preocupação em criticar alguns valores humanos que caracterizam a realidade brasileira e, mesmo, a mundial.
Décio de Almeida Prado, no livro O Teatro Brasileiro Moderno, referindo-se à sua técnica, diz que “…crescendo em sua complexidade, nunca perdeu a capacidade de comunicar de uma maneira clara e direta. (…) Não sendo um escritor aventuroso nem experimentalista, serve-se, com habilidade, de todos os recursos, inclusive os mais recentes, integrando-os nesse tipo de carpintaria segura, de bom artesanato, característico do meio em que se formou.”
Para terminar, reproduzimos palavras do próprio autor: “No meu entender, não cabe ao teatro revelar ou ditar a verdade. Mesmo porque o placo é o reino da mentira. A verdade está fora dele. Mas o teatro pode conduzir a ela, armando o espectador para que ele possa, por si mesmo e fora do teatro, encontrá-la.”
(Página 02)
A Peça
É difícil não estabelecermos, de imediato, uma certa aproximação entre O Santo Inquérito e outras peças que, desenvolvendo o tema fulcral da intolerância, tenha, criticado certas posturas clericais. Há uma do próprio Dias Gomes, confessadamente um autor marxista. O Pagador de Promessas, que se prestaria, com perfeição, a um confronto.
Yan Michalski, no prefácio à edição da Civilização Brasileira, traça um paralelo entre os seus personagens principais, respectivamente Branca Dias e Zé do Burro: “dois seres puros em luta contra uma impiedosa conspiração, que não admite a pureza, que se aproveita dela, e que acaba por destruí-la (…) Têm em comum o seu admirável, simples e modesto humanismo. Ambos são cheios de vida, ambos têm uma espécie de solidez que lhes vem do íntimo trato diário com a terra e a natureza e ambos não pedem outra coisa senão viver com simplicidade, de acordo com os seus princípio, e cumprindo conscienciosamente, a modesta e despretensiosa missão que acreditam haver recebido…”
Arthur Miller, em As Feiticeiras de Salém, já explorara dramaticamente a analogia entre as perseguições religiosas do passado e as perseguições políticas recentes, buscando as causas psicológicas e sociais da intolerância.
Em O Santo Inquérito, Dias Gomes, partindo de um fato histórico, ocorrido na Paraíba, no século XVIII, resgata os processos utilizados durante a Inquisição, aproximando-os dos mecanismos de tortura explorados, com o know-how da tecnologia moderna, durante a ditadura militar, principalmente na década de setenta. Isto fica muito claro na montagem estreada em São Paulo, a 25 de agosto de 1977, sob a direção de Flávio Rangel, cuja abertura continha ruído de soldados marchando em pelotão, sirenes de viaturas policiais, etc.
Esta versão que agora é apresentada extinguiu qualquer tipo de referência espaço-temporal.
Parece-nos ter ganho, o espetáculo, em contrapartida, algo de universal e eterno.
(Páginas 03 e 04)
A Montagem
A primeira tarefa que se impôs foi transformar o texto da peça, muito discursivo, num material mais plástico, visual e sonoro, em que ação dramática seria reforçada pela conscientização de fatos apenas sugeridos anteriormente.
Perseguindo-se a obtenção de um drama “limpo”, estaria-se atingindo uma tragicidade maior.
Embora tivessem sido feitas incontáveis pesquisas sobre a Inquisição (no Brasil e no mundo), Bruxaria, Heresia, etc., não havia a intenção de se realizar uma peça realista, baseada em fatos históricos, bem documentados e comprovados. Buscava-se criar, mais, uma alegoria, um símbolo não localizável em tempo e/ou espaço, mas fugindo a qualquer tom mais “didático-pedagógico”, doutrinário ou moralizante, apesar de , por momentos, nos lembrar uma parábola.
De inicio houve uma ênfase especial quanto à necessidade de precisão, de terminalidade, de vigor, e de leveza em cada gesto, de rejeição ao meio-termo, ao não significativo, ao sujo, pois o objetivo preciso era o de se elaborar um espetáculo de acentuada preocupação formal.
Foi utilizado, na fase preliminar, vasto material sobre o Teatro Clássico Grego e sua “roupagem na Modernidade, enfocando a evolução sofrida pelo Coro: sobre o Nô – Teatro Clássico Japonês -, de onde foram enriquecedores para esboços coreográficos, buscando-se o entrosamento harmonioso das partes faladas com cantadas e as dançadas, em sucessivas interseções cênicas, não descurando do dinamismo e da expressividade e tendo em vista a “limpeza” e a simplicidade. O próprio Brecht e o distanciamento foram bastante pesquisados.
Logo de início, o diretor me posicionou com o responsável pela organização e unidade do espetáculo. Quanto aos atores, seriam também os criadores das músicas, dos solos e conjuntos coreográficos, e os portadores de sugestões para o desenvolvimento de cenas.
Foi um desafio ao mesmo tempo estimulador e preocupante pois, virando-se as costas ao fácil, ao feito, partiu-se do embrião – o texto após necessária poda – para um trabalho verdadeiramente coletivo, de criação, evitando-se o individualismo.
É difícil descrever as etapas que corresponderam ao levantar de cada pavimento dessa construção. Foi uma gestão muito árdua e exaustiva: por vezes chegou-se próximo ao desespero, como na ocasião em que nos foi participado que não contaríamos com o cenário inicialmente pretendido, onde cada ator se encontraria em perfeita integração de espaço e clima. Também surgiram ameaças de não ser possível fazer um vestuário dentro do figurino imaginado. Qual seria a solução? Que decisão deveria ser tomada?
Havia que ser levado em conta que, por se tratar de uma montagem de Faculdade, estaríamos sujeitos a circunstâncias e as condições especiais, com limites nítidos entre o que se desejava, o que se podia e o que se devia fazer, nunca perdendo de vista a permanência do tempo.
A aceitação de um número de alunos-atores que não era inicialmente desejado e a escassez de verba para a execução do cenário levaram a que se aceitasse o despojamento como a estética do espetáculo.
Evidentemente, muitas modificações tiveram de ser feitas na concepção primeira. Quanto ao resultado final, foi obtida uma unidade, após a interseção e a junção dos três núcleos de interpretes: – músicos,atores e dançarinos -, que, inicialmente destacados, vieram a se fundir.
(Verso da Última Capa)
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Vanessa Balallai: Branca Dias
Jorge Eduardo Costa: Pe. Bernardo
Renan Pompéia: Augusto
Carmela Soares: Visitador
Helena Tinoco: Notário 1
Beth Cudischevistch: Notário 2
Dançarinos
Flávia Pedrosa, Gilda Villaça, Lúcia Guimarães, Miguel Vellinho, Mona Ramalho, Sandra Valdetaro, Sérgio Almeida, Verônica Gewehr, Vilma Oliveira
Músicos
Adriana Santelli, Márcia Meneses, Margarida Bárbara, Paulo Raposo, Telma Leite
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Direção: Luiz André Cherubini
Assistente de Direção: Francisco Zwaiter
Assistente Teórico: Rosita Silveirinha
Assistente de Iluminação: Nina Pancevski
Cenário e Figurino: Elida Astorga e Elsie Calvet
(Última Capa)
Professores Orientadores
Direção: José Renato
Interpretação: Zeca Ligiero
Teoria: Angela Mousinho
Cenografia: Anísio Teixeira
Indumentária: Marie Louise Nery
Produção Executiva: Jane Celeste
Técnicos
Costureira: Marisa Motta
Contrarregra: Jorge Carvalho
Eletricista e operador de Luz: Domingos Souza Costa
Produção Executiva: Ismael Barros Mello
UNIRIO
Junho 1989





