Programa / Cartaz do espetáculo que estreou em no Teatro Cacilda Becker, em 1979

Programa, 1979

Angela Dantas e Nádia Carvalho

Ivan Merlino e Marco Miranda

(INFORMAÇÕES DO PROGRAMA/CARTAZ)

(Frente)

COM PANOS E LENDAS

Musical Infantil de José Geraldo Rocha e Vladimir Capella

Angelo Dantas
Helena Rêgo
Ivan Merlino
Marco Miranda
Nádia Carvalho
Octávio César

Programação Visual: Toni Moreno
Execução de Figurinos: Anadir F. Cardoso
Execução de Bonecos: Renato Castelo
Execução Musical: Alfredo, Luisão, Nananho, Paulinho
Direção: Ivan Merlino e Vladimir Capella
Assistente de Direção: Angela Dantas
Direção Musical: Alfredo Machado
Cenário / Figurinos: Valnice Vieira e Nora Vianna
Iluminação: Aurélio de Simoni
Músicas: Vladimir Capella
Produção: Merlino Produções Artísticas Ltda.

Patrocínio: SNT – SEAC – Órgãos do MEC

(Verso – Anúncios: L’Option Moda Jovem, York Tapeçaria, Motta’s Cabelereiros, Lula Moda Masculina)

Merlino Produções Artísiticas
apresenta

Com Panos e Lendas

Musical Infantil de
José Geraldo Rocha e Vladimir Capella

Com Panos e Lendas foi quase um desafio”

Tudo começou com Ângela e eu montando uma firma, a Merlino Produções, simples e modesta, mas com um forte objetivo: produzir bons espetáculos. Espetáculos bem cuidados, sem improvisações, sem apelações e acima de tudo coerente com nossa força de trabalho, com nossa ideologia. Começamos a procura de um texto para adultos. Lemos e relemos dezenas deles e o texto não aparecia. Até que, de repente, veio a ideia de realizar um trabalho a partir das crônicas do Carlos Eduardo Novaes. Encontramos o Novaes e começamos a desenvolver o trabalho. Nesse meio tempo, a gente, com uma vontade de trabalhar que até Deus duvida, já Tava pensando também em montar uma peça infantil, enquanto a do Novaes não ficava pronta. Aí começou tudo de novo. Lemos mais um montão de textos. Desta vez, infantis. E nada. Não aparecia um texto que mexesse com a gente. Até que um dia, um amigo falou no “Zé” Geraldo: “olha o Zé Geraldo tá fazendo teatro infantil em São Paulo”. Fui a são Paulo e encontrei o dito cujo. (fomos amigos na adolescência e há uns dez anos não nos víamos).

Li o texto de Com Panos e Lendas e fiquei deslumbrado. Ele me levou prá vera peça. Nem sei como fiquei. Falei pra ele: “Zé, eu quero montar essa peça no Rio”. Fechamos mais ou menos e eu voltei pro Rio. Depois voltei lá com a Ângela e fechamos o negócio. Voltamos de novo pro Rio e começamos a trabalhar. Foram três meses (que mais pareceram três anos) de trabalho contínuo.

Tinha horas que dava mesmo vontade de largar tudo, de perder o que já tinha gasto (que não foi pouco), de desisitr até de fazer teatro. Mas a gente aguentou firme. E a peça tá aí, prá quem quiser ver. E eu tenho certeza: é um bom trabalho. E esse trabalho eu dedico, especialmente à Angela pela sua força e pelo seu trabalho.

Ivan Merlino

Com Panos e Lendas me levou de volta a Infância

Há muito tempo que eu não me via diante de brincadeiras de roda, hoje tão raras, em consequência (talvez) do pouco espaço que a criança tem para si. De estórias (que além de divertir, são também fontes de informação da nossa cultura e do nosso folclore, sem, contudo, serem didáticas) que deram aos enlatados e programas infantis de baixo nível.

E de um espetáculo conduzido de uma forma dinâmica, alegre e criativa, que não só diverte as crianças, como também envolve os adultos e os deixa com a gostosa lembrança da infância.

Foram todas essas, as razões que nos levaram a montar Com Panos e Lendas. Eu e o Ivan fizemos tudo para que todas essas impressões, sejam sentidas por todos vocês.

Angela Dantas

Letras da Músicas

1 – A Origem do Mundo

Não tinha gente não tinha casa
Não tinha bicho não tinha nada
Não tinha peixe não tinha espada
Não tinha fogo não tinha água
Não tinha dança não tinha festa
Não existia o céu e não havia sol
Não tinha chuva não tinha raio
Nem papagaio nem plantação
Nãotinha palha não tinha vento
Naõ tinha poço nem avestruz
Nem alvorada nem passarela
Não existia a luze só a escuridão
Não tinha cobra nem colibri
Não tinha gente nem avião
Não tinha estrela não tinha rua
Não tinha mata não tinha lua
Era o começo e não tinha nada
Não tinha bicho nem madrugada
Não tinha pó não tinha pão
Não tinha vento não tinha chão

02 – Carú e Rairú

Carú inventou o céu
Rairú criou o sol
E do buraco nasceu o homem
Que vai plantar na terra
Prá nascer a fruta e a flor
Prá nascer a vida…
e vai criar arara bem-te-vi
Gavião, cutia, João de barro e urubu
e vai criar tanto bicho por si
Bicho ruim e bicho bom
de cantar e de correr
E vai criar a cobra e o sagui
capivara, assum, o peru e o tatu
O sapo e a onça
e o jabuti

03 – Canaim

Canaim morreu de susto
Com a mordida do sapo bobo
Rolou por terra o corpo moreno
Morreu de medo e não de veneno

E seu amado cobriu a índia
Chorou do lado uma semana
Regou de pranto a terra macia
Fazendo dela nascer a cana

E de tristeza ele virou pedra
Dormindo ao pé do pé da cana.

04 – Tutu Marambá

Tutu Marambá
Não venha mais cá
Que a mão da criança
Te manda matá

Dorme neném
que a cuca vai pega
papai foi na roça
mamãe no cafezá

Boi, boi, boi
Boi da cara preta
Pega esse menino
que tem medo de careta

Agradecimentos Especiais

Clube ASA, Sr. Moisés Bohn, Ana Maria Assis Ribeiro, Yara Dantas, Jaques Breitman, Marcus Augustus D”Arho Alves

Críticas da Montagem realizada em São Paulo

Relembrando Antigas Brincadeiras de Rua

“ Em Com Panos e Lendas os atores fazem uma trajetória entre o começo e o fim do mundo como mestres de cerimônia, contadores de histórias ou simplesmente como atores que são, passando por costumes, crendices, cantos, bichos e brincadeiras, contos e cores brasileiras, num clima que se pretende seja uma festa dançada e cantada pra todo mundo ver”.

É isso aí. É bom, (e raro) poder concordar com um “release”, em gênero, número e grau.

Nesse espetáculo do Grupo Pasárgada, “o que se pretende seja uma festa dançada e cantada” é exatamente isso: no exíguo espaço da pequena arena do Teatro Eugênio Kusnet acontece uma festa, uma suíte, uma sequência ritmicamente encadeada de cenas representando dezenas de jogos, cantigas, acalantos, “casos”, figuras reais e fantásticas, personagens, até Macunaíma dá o ar de sua graça…, muitas histórias, fábulas, lendas, folclóricas, “mestiças”, tão brasileiras.

E “panos” – os panos são os cenários sucintos e principalmente os figurinos, em superposições e transformações ininterruptas, criando efeitos surpreendentes de coisas, gentes e bichos. E bonecos pequenos e bonecos enormes, muito engraçados. E os jovens atores talentosos, entrosados, atuando, cantando e dançando (bem), tocando seus instrumentos, se multiplicando em cena, brincando com o público, desde antes de começar o espetáculo, ilustrando as letras e as canções, mostrando e como que recuperando velhas e quase esquecidas brincadeiras-de-calçada: ciranda e cabra-cega, pula corda e amarelinha, pegador, caxangá, dona Sancha – até dá uma nostalgia em quem vivenciou isso na rua mesmo, no tempo em que rua era lugar de brincar…

E toda essa sarabanda nunca é barulhenta ou excitada: tudo é de bom gosto e boa qualidade, de nível geral homogêneo. Produção relativamente modesta em termos materiais, mas ricamente criativa, esteticamente bem elaborada, com criteriosa seleção de assuntos e de músicas e inteligente e dinâmica direção musical e geral.

Com Panos e Lendas é um espetáculo inteiramente recomendável, lúdico e enriquecedor, tanto pela informação, de folclore e cultura popular, como pela mensagem singela e poética, com suas ideias e sugestões, livres de impingidas implicações “ideológicas”. E com elementos para despertar o interesse, prender a atenção, divertir e agradar a crianças de todas as faixas etárias.

Tatiana Belinky – Folha de São Paulo

Teatro Infantil

Há um bocado de tempo que o teatro não oferece ao público infantil um espetáculo tão completo. Não é sem razão que recebeu cinco prêmios, em seu tempo de palco. (posteriormente recebeu mais prêmios).

Produto de uma pesquisa cuidadosa do nosso folclore, começa procurando explicar a gênese do mundo, como se criaram o céu, o sol, como apareceram os homens. Surgem em seguida os animais. Seguem-se cerca de dez quadros, onde se mistura folclore gaúcho com indígena, entre outros, terminando com um “pot-pourri” de cantigas infantis.

Mas se um espetáculo montado a partir de lendas nossas já justifica, por si só, uma visita ao Teatro, é através dos panos que essa visita se torna obrigatória. Pois, transpondo com muita originalidade e criatividade, um dos grandes obstáculos do espetáculo infantil (sua vinculação ao cenário do Teatro para Adultos, levado no mesmo palco, em outro horário) este espetáculo concebe o espetáculo a partir da dinâmica da peça. É pelo jogo dos panos, na utilização engenhosa dos sacos de estopa, lenços coloridos, trapos, que produz a rápida e interessante substituição dos personagens e cenário. Uma longa tira de pano é o mar, duas meta desde coco, colocadas à guisa de orelhas, fazem o macaco. O Jabuti usa uma peneira como casco. E a simulação é tão perfeita que se torna quase desnecessário o diálogo para definir o personagem. O resultado final é lindo.

Um terceiro aspecto muito positivo é a alta dose de humor (inteligente, sadio, acessível a várias faixas etárias) e a alegria, bem distribuídos ao longo da peça.

Na seleção do material, duas evidências dignas de aplausos: a preocupação em evitar o escabroso, o violento, a malícia adulta e de não incorrer na tentação – de empurrar para o público modelos de boa conduta, regras edificantes, lições de moral.

Com Panos e Lendas não é aborrecidamente didática. Em momento algum. A ênfase no sentido de atingir a sensibilidade através do domínio da linguagem teatral: a movimentação perfeita, os diálogos ágeis, a excelente presença dos atores e dos músicos se revezando entre inúmeros personagens. O resultado é um espetáculo alegre, descontraído, com atmosfera bem brasileira, uma efervescência de cor, música e gestos que transcedem o racional, produzem o racional, produzem o mágico.

Mirna Pinsky – City News (São Paulo)

Prêmios conquistados pela peça Com Panos e Lendas em 1978 na montagem realizada em São Paulo

APCA
Melhor espetáculo infantil

SNT
Os cinco melhores espetáculo

Mambembe
Melhor Produção Infantil
Melhor Figurino
Melhor Texto

Molière
Para Vladimir Capella, pelas músicas do espetáculo

Prêmio Governador do Estado
Texto e Figurino

Obs.

Em janeiro de 1980, o espetáculo estreou no Teatro Vanucci