Zigg, Zogg – A Mosca e os Jornais, no Sesi: simplicidade abre espaço para inventividade


Crítica publicada no Jornal do Brasil 
por Carlos Augusto Nazareth – Rio de Janeiro – 02.04.2005

 

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O outro mundo é dos clowns

Com rica linguagem visualZigg, Zogg exibe a força dos sons e movimentos

Encenado pela Cia. 2 de Teatro, Zigg, Zogg, a Mosca e os Jornais está em cartaz no Teatro Sesi. A companhia tem viajado pelo Brasil e pelo exterior, apresentando-se em Festivais nacionais e internacionais; este estreou no Festival Mundial de Teatro Popular, em Santiago do Chile, com o nome de Um lugarcito donde nace la luz. No palco, Zigg e Zogg estão perdidos em um mundo preto e branco, mas acabam descobrindo a alegria de viver através da criatividade. Este é o sétimo projeto da companhia, que tem como proposta realizar trabalhos relacionados à vida cotidiana, do homem contemporâneo, com suas contradições e desejos.

No palco, tudo é possível, mas nem tudo é teatro. Na peça não se conta uma história, não há conflito, não há trama. Sem texto, o espetáculo repousa nas linguagens visuais – dança, formas animadas, mímica, expressão corporal, artes plásticas, ilusionismo. Trata-se, pois de uma proposta que busca aglutinar, em um só momento, um número maior de formas de expressão do que aquelas que constituem em geral o tecido do espetáculo teatral propriamente dito.

Mas a linguagem base da Cia 2 é o universo do clown. Com um expressivo trabalho de corpo e uma utilização competente da mímica, os atores Frederico Magella e Gustavo Rizzoti – que também assina a direção, a trilha musical e a luz do espetáculo – realizam suas perfomances. O espetáculo é extremamente visual, mas carece de emoção. O humor e o lúdico apenas se fazem levemente presentes. E razão e emoção são polos essenciais que, juntos, constituem o drama.

A direção busca preencher este espaço da emoção com a trilha sonora, composta por músicas clássicas e experimentais e também trechos de ópera grandiloquentes, executados em som muito alto. Segundo os autores, a música seria o fio condutor do conjunto, o que definiria o espetáculo como sendo de movimento e dança.

Sem texto e sem trama, espetáculo é ideal para os mais pequeninos 

A luz não busca mágicas teatrais, apenas define o foco da cena. Os figurinos são simples malhas brancas, complementadas pela máscara do palhaço branco, assumido pelos atores. Poucos elementos entram em cena. O palco nu tem como cenário, apenas quatro pilhas de jornais que são transformados em objetos, animais e bonecos.

Esta simplicidade, que percorre todo o espetáculo, abre espaço para a inventividade, não só do grupo, mas da plateia. Segundo a Cia. 2 de Teatro, é um projeto para o público infantil, inserido numa linha própria de teatro, envolvendo pesquisas e experimentações que resultam em descobertas de novas possibilidades de expressão, oferecendo ao público, maiores possibilidades cênicas”.

No entanto, se o resultado que apresentam não é uma proposta cênica revolucionária, é, com certeza, um tipo de encenação pouco usual em nossos palcos, que acaba agradando ao público pelo inusitado.

Mesmo sendo um espetáculo de música e movimento, a dramaturgia pode emergir como subtexto desta sequência de cenas colocadas no palco, o que faria com que o espetáculo atingisse uma faixa etária mais ampla, prendendo a atenção do espectador que busca mais que uma sucessão de imagens.

Zigg Zogg, a Mosca e os Jornais agrada às crianças menores, que têm sua atenção voltada para as imagens que se sucedem em cena. E são poucos os espetáculos, hoje, destinados especificamente aos pequeninos. Os maiores se sentem menos atraídos, em função da ausência de história.