Zé Vagão da Roda Fina e Sua Mãe Leopoldina, a nova peça infantil de Sylvia Orthof, em temporada no Teatro Senac

Crítica publicada no Jornal do Brasil
Por Ana Maria Machado – Rio de Janeiro – 27.09.1975

Barra

A Supermãe Vai ao Palco

Depois do enorme sucesso de A Viagem de Um Barquinho, a Casa de Ensaios de Sylvia Orthof traz agora outra peça que insiste no tema da viagem, Zé Vagão da Roda Fina e Sua Mãe Leopoldina. Agora, em vez de um barco são dois trens. A procura da afirmação individual através da liberdade de trilhar seus próprios caminhos continua sendo uma das preocupações dominantes da autora. Agora o tratamento é menos genérico e poético, concentrando-se num problema bem concreto e comum, acessível a todas as crianças; a dominação materna e a evolução das gerações, inclusive apresentando a tradicional cumplicidade afetiva entre avós e netos. Como assunto, é muito interessante e muito próximo da realidade emocional vivida pela criança em seu dia-a-dia. O acabamento teatral é de primeira qualidade, com os atores soltos e à vontade, Laís Dória criando uma marcante Bruxa Jubilosa. Os bonecos e figurinos são muito bons. A música fornece um apoio sólido ao andamento da narrativa, com a vantagem de ser ao vivo, coisa cada vez mais rara nas produções para crianças.

Outro elemento que se destaca, principalmente por comparação ao restante das peças infantis, é a iluminação, bem cuidada, integrada no tom geral do espetáculo. De início, a história se desenvolve um pouco lentamente, e o ritmo geral se ressente um pouco disso, mas logo o espetáculo se levanta e dá a volta por cima. Vale a pena ir assistir a essa viagem em busca de si mesmo, com a ajuda da emoção, que fez o Zé Vagão da Roda Fina.

E é fascinante a bruxa Jubilosa, saindo dos estereótipos de bruxa-má e bruxa-que-se-recusa a ser-má, eternos clichês de nosso teatro infantil desde que Maria Clara Machado criou sua notável Bruxinha que Era Boa.