Zé do Vagão da Roda Fina e Sua Mãe Leopoldina: último fim de semana no Teatro Senac

Crítica publicada no Jornal do Brasil
Por Ana Maria Machado – Rio de Janeiro – 13.12.1975

Como Presente de Natal, a Mais Minhoca das Minhocas

As crianças cariocas recebem no palco do Tablado um inesperado presente de Natal: a nova montagem de Maria Minhoca. A plateia se vê diante de um espetáculo que a respeita profundamente, pela qualidade do trabalho teatral e pelo excelente nível do resultado desses esforços. A peça já é conhecida do público, em sua estrutura lírico-humorística na melhor tradição da comédia de desencontros ao alcance das crianças. Os cenários de Ana Letícia mais uma vez comprovam sua funcionalidade, bom gosto e sensibilidade. O ritmo da encenação é ótimo, seguro, garantindo um espetáculo fluente que prende o tempo todo. Os atores estão muito bem, com destaque especial para os mais tarimbados: Germano Filho compõe um divertidíssimo pai Buldogue, Carlos Wilson Silveira mostra um novo aspecto de seu talento encarnando o conquistador Capitão Quartel e Bernardo Jablonski está inteiramente à vontade. A música merece um destaque especial: raras vezes se vê num palco, para adultos ou crianças, uma adequação tão grande entre a música e o espírito da montagem: há momentos em que não há texto e apenas a música e a coreografia conseguem narrar, emocionar, divertir. Os figurinos são cuidadíssimos, a direção é para ninguém botar defeito.

Além da autoridade paterna posta em questão por Maria Minhoca, uma peça se despede este fim de semana do público carioca, discutindo o protecionismo materno, também tolhedor da liberdade filial: Zé Vagão da Roda Fina e Sua Mãe Leopoldina. Não deixe de ver, que vale a pena, pois é um espetáculo muito bonito e divertido.

E não esqueça que, além de Maria Minhoca, o Tablado continua apresentando às seis da tarde um excelente espetáculo, recomendado para os maiores de 10 anos: O Dragão, uma peça inteligente, sensível e que faz pensar.