Crítica publicada em O Globo – Rio Show
Por Mànya Millen – Rio de Janeiro – 08.02.1997

Barra

Viva o Zé Pereira: Viagem primorosa pelo Carnaval

Musical que dá samba, da produção ao ótimo elenco

A nostalgia pelos tempos bons que não voltam mais costuma ser uma faca de dois gumes, capaz de gerar tanto bobagens sentimentalóides quanto pequenas pérolas de encantamento. O musical Viva o Zé Pereira, de Karen Acioly, em cartaz no Centro Cultural da Light, se inclui com louvor na segunda categoria. Mais do que um espetáculo sobre carnaval dedicado às crianças, é uma belíssima homenagem à folia dos velhos tempos, marcado pela ingênua malícia das marchinhas e sambinhas assinados por mestres da música brasileira como Lamartine Babo e Pixinguinha.

A responsabilidade era grande: recuperar o passado da maior festa popular brasileira para mostrar ao público jovem, em apenas uma hora, que o carnaval é bem mais do que desfile no sambódromo,não é tarefa fácil.Mas o resultado deu samba. E dos bons. Com carinho e alegria que transparecem em cada cena, Karen recuperou a história do carnaval desde 1850 até o inicio dos anos 20, quando o teatro de revista ajudava a consagrar as marchinhas em disputados concursos. Um concurso, aliás, fecha o musical com a participação entusiasmada do público, que bagunça o coreto munido de confete e serpentina.

Um roteiro que, apesar do início didático, logo assume corpo de boa história, costura as cenas desenroladas ao som de dezenas de musicas inesquecíveis com Pelo Telefone e Tem gato na Tuba. Um elenco cantante de primeira (José Mauro Brant, Soraya Ravenle, Susana Ribeiro, Fernando Sant’Ana e Carolina Futuro) somando os músicos dublês de atores Oscar Bolão (impagável como português Zé Pereira, considerado o pai do carnaval de rua), Maria Teresa Madeira (piano), Josimar Carneiro (violão) e Márcio Bide (percussão) dão vida e música a tipos históricos como Donga e Tia Ciata.

O Primor do conjunto transparece desde a impecável produção (de Eveli Ficher) até os figurinos deslumbrantes de Ney Madeira, passando pelos cenários pintados por David Bartax. O conjunto lava a alma e enche os olhos de palterias de qualquer idade e reafirma a excelência de um teatro que, cada vez menos, pode ser chamado de “teatrinho”.