Crítica publicada em O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 09.05.1976

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Viagem Sideral: um mau caminho para uma boa ideia

Viagem Sideral procura unir o momento histórico dos grandes descobrimentos dos séculos XV e XVI à fase contemporânea das conquistas espaciais. A ideia é boa, desenvolve-se através de um inteligente humor e de computadores esquizofrênicos, destacando-se a cena da princesa e o momento em que os protagonistas tentam inutilmente, ser recebidos pelos donos do poder. Nem sempre, porém, o autor Benjamim Santos chega à altura desses instantes citados e a peça deixa claro que carece de efetiva ação dramática: seu desenvolvimento é lerdo, sem criar novos interesses. A ação, em termos cênicos, fica sempre muito limitada e é repetitiva. Há muita literatura e pouca ação teatral.

Entretanto, o espetáculo montado pelo próprio autor, apesar de ter caído no mesmo defeito do texto (a base da montagem é o diálogo sempre pródigo ao invés de uma ação cênica de sínteses) tem, a seu crédito, a seriedade do tom. Fica logo evidenciado que as crianças não são consideradas imbecis ou desinformadas. São tratadas como um público comum de teatro que merece um trabalho bem feito. Se os resultados não são tão bons como se pretendia, pelo menos fica patente a existência de uma filosofia correta como tratar o público infantil. O grande achado da direção está nos adereços, feito à base de panelas, escorredor de macarrão, talheres, jornais etc. Além de originais, os objetos carregam ainda, um quê de bom humor que colabora para a criação de um clima simpático e agradável. No elenco, muito desigual, destaca-se a dupla real (Paulo Ribeiro e Fernanda Amaral), além de Edgar Ribeiro, que interpreta a Bela Princesa. Esses três atores trazem uma contribuição pessoal ao espetáculo, curtem mais a peça e enriquecem a encenação. Os demais apresentam um padrão de neutralidade não enriquecendo nem comprometendo o espetáculo (apesar de se comprometerem como atores, pois, um trabalho de interpretação não pode ser neutro). A exceção fica a cargo de Ialmar Wolf, ator que não tem a necessária presença pedida pelo personagem, respondendo por boa parte do desenvolvimento capenga da encenação. Muito inexpressivo cenicamente, gesticulando com exagero, sem verdade alguma, Ialmar Wolf tem aquela falsa tranquilidade que encontramos em certos atores já experiência, mas sem muito talento, que passeiam anos e anos no teatro para adultos. Estes dificilmente melhorarão; já Ialmar é um ator novo e tem condições de aprender.

Os figurinos e os cenários são muito desiguais (de quem são?) e, às vezes, os resultados são bons (A roupa do Conselho); outras vezes, as misturas de cores deixam a desejar.

Viagem Sideral tem alguns altos e baixos. Não estando à altura das melhores encenações infantis ela constitui, entretanto, alternativa válida na programação do lazer de seu filho.