Matéria publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Página B3 (5 col. x 23 cm)
Por Ricardo Schöpke – Rio de Janeiro – 03.04.2010

A vez das Crianças em Curitiba

Diretor do festival, Leandro Knopfholz faz um balanço da mostra dedicada ao público infanto-juvenil

Em sua 19ª edição, encerrada no último domingo, o Festival de Curitiba apresentou uma nova filosofia de trabalho no que diz respeito à produção voltada para a infância e juventude. A criançada ganhou um evento especial dentro do festival, o Guritiba. Entre os destaques, shows como Adriana Partimpim, com a cantora Adriana Calcanhoto, e O Pequeno Cidadão, com Arnaldo Antunes e Edgar Scandurra, além do espetáculo Saltimbancos, de Chico Buarque. Aliada à diversão, a programação contribuiu também para a formação de um novo público. Esta é a intenção do diretor do festival, Leandro Knopfholz, para quem o Guritiba representa, a partir deste ano, um novo formato para os espetáculos infantis na capital paranaense.

Nesta primeira edição do evento, não houve uma preocupação em selecionar atividades que fossem apenas de teatro, mas espetáculos que transitassem pelo universo cênico infantil. Segundo Knopfholz, sempre foi intenção do festival realizar também uma mostra em caráter oficial para os menores, mas sempre esbarrava na dificuldade de um patrocínio exclusivo, o que ocorreu neste ano. O evento, como toda a novidade, foi crescendo aos poucos. Nos primeiros dias o público ficou aquém do esperado; contudo, no decorrer do festival o Teatro Ópera de Arame foi enchendo, e aos finais de semana todos os ingressos já estavam esgotados.

O Festival contou também no Fringe, em sua 13ª edição, com muitas atrações infantis. A mostra paralela foi idealizada por Knopfholz após uma viagem à Escócia, no festival de Edimburgo, que também contam com uma programação nos mesmos moldes. O Fringe se caracteriza por ser uma mostra sem curadoria, livre de seleção e que oferece uma oportunidade democrática para os espetáculos de todos os cantos do país e do exterior de participar do Festival de Curitiba, sem precisar de um convite da organização oficial.

– No fringe não entramos com dinheiro, mas fazemos as adequações dos espaços e fornecemos toda a aparelhagem: luz, sonorização e uma base de 95% a 90% da bilheteria vai para cada grupo participante, que se deslocam também, em alguns casos, com a ajuda da organização no transporte e hospedagem – ressalta Leandro Knopfholz.

Espetáculos do Rio ficaram entre as piores atrações infantis da mostra paralela Fringe 

A qualidade dos espetáculos da programação oferecida pelo Fringe infantil, contudo, foi abaixo da média técnica e artística. Praticamente todas as produções ainda buscam apresentar adaptações malfeitas de clássicos da literatura infantil , como Os Três PorquinhosBranca de Neve e os Sete Anões e João Maria, dos Irmãos Grimm; O Gato de Botas, de Perrault; A Nova Roupa do Imperador, de Hans Christian Andersen, e A Cigarra e o Formiga, de Ensopo. Três espetáculos do Rio de Janeiro – A Megera Domada para as Crianças e Chapeuzinho Vermelho Phantom, da palco Cia de Teatro, e A Descoberta dos Sentimentos, do Grupo Teatral Aslucianas – foram os campeões absolutos de desrespeito à inteligência das crianças: dramaturgia e direção inexistentes, cenários mal acabados, figurinos primários, trilha sonora equivocada. Algo muito diferente do ótimo trabalho da atriz e contadora de histórias Hérica Veryano, paulista radicada em Curitiba e integrante do Coletivo Joaquina.

Com a apresentação de dois belos trabalhos (Maria de uma Rima Só e Julieta de Bicicleta e Outras Histórias), a companhia foi a responsável por apresentar os únicos trabalhos de qualidade para as crianças no Festival de Curitiba, com dramaturgia refinada, direção bem conceituada para o universo da contação de histórias, inteligência cênica e uma delicada trilha sonora ao vivo.

O diretor do festival acredita que, com o tempo, as adversidades financeiras serão contornadas pela companhias, o que vai elevar o nível da programação infantil do fringe.

– A falta de uma estrutura forte de patrocínio e a ausência de uma figura centralizadora nesta área em Curitiba, sempre impossibilitou uma programação de qualidade regular para as crianças – lamenta Leandro Knopfholz.