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Não há teatro sem espectador. Não pode existir teatro sem a proposta de uma linguagem definida, comprometida com uma cultura, com objetivos claros de comunicação com o espectador contemporâneo. Não há público para o teatro! Então, não pode haver teatro. Há sim, público para o show, para o evento, para o acontecimento balofo, para o sucesso televisivo, para o divertimento do besteirol para besteirois, etc. etc. Não há espaço para um teatro de pesquisa, busca de linguagens, de novas interpretações, de concepções estéticas.

Do outro lado, há um teatro que se copia a si próprio, repetidamente, padronizado por estéticas importadas, enlatadas, pronto a consumir. Pronto a se aplaudir. Há uma formula teatral viciada, há um público cansado, há um desprezo e um abandono por parte do poder público, há um desacreditar constante, há um mercantilismo oportunista que transforma a arte num produto de prateleiras de supermercado elitista. Há um teatro pobre de ideias, há um teatro que luta por sobreviver à margem do mercado, teatro arte. Há um pessimismo implantado que se alastra desde a cultura estabelecida contra a cultura que se procura na renovação dinâmica de toda a evolução do homem e da sociedade. Há também uma moda cultural insustentável na sua própria superficialidade.

Não há investimento no teatro há sim, um investir constante no lucro econômico da produção. Investir no teatro é propor o desenvolvimento do ator e do espectador. Do criador e do público, da arte e da educação.

Teatro e Educação

Para que possa haver TEATRO, é necessário que exista um público educado e sensibilizado para a arte e a cultura. O teatro é, ainda, a arte do imaginário, para um espectador amante do imaginário. O imaginário se desenvolve, evolui, toma corpo e se transforma numa verdadeira necessidade humana, quando a escola é criativa. Mas o despertar da criatividade, só acontece quando acontece, na pré-escola ou durante o ensino primário. Depois, a escola é competitiva, discriminatória, economicista, pessimista, e o jovem, no pleno desenvolvimento do seu imaginário criativo, é obrigado a transformar-se num “adestrado social” programado com as funções estabelecidas do: produzir, procriar, enriquecer e morrer.

É esse o público que pretendemos levar ao teatro? É essa a realidade do público para quem se cria um teatro novo? Infelizmente é. O ato cultural é hoje assumido como um ato social. Um ato hipócrita que semeia uma cultura ligth, sem maior comprometimento ou compromisso. Ir ao teatro é um ato pequeno burguês, chato, pretensioso. Então, façamos um teatro de acordo e consonância com as exigências dessa plateia. O resultado é a produção de um teatro com preservativo. “O teatro com camisinha”.

A morte, já tão anunciada, do teatro, já assoma com a sua foice a cada abrir da cortina dessas produções “com camisinha”, produções executadas para o nada. Nada provoca porque nada tem para provocar. Nem pensamentos, nem sensações, nem emoções… Nada! Apenas o riso, o riso fácil, a gargalhada digestiva. – “Quer um digestivo? Vá ao Teatro!”-

Para esse teatro não nos atrevemos aconselhar nenhum jovem espectador. Para a maioria do teatro “infantil” que se apresenta rotulado por uma falsa ideia de didática, comercializado de forma oportunista e oportuna para algumas escolas, também não. Para que não digam que só criticamos, que só denunciamos que aparecemos como possuídos por uma verdade, que não pretendemos, propusemos a criação de um espaço onde o fazer teatral possa ser refletido, analisado, pesquisado e experimentado, não desde uma perspectiva fechada mas sim, aberta à participação de toda a comunidade, de todos os criadores.

O Centro Experimental de Formação e Pesquisa Teatral procura criar programas que facilitem a renovação do teatro não só desde dentro do teatro. Sem o compromisso e cumplicidade dos agentes da educação, ( Secretarias de Educação, Escolas, Professores, Pedagogos,etc.) dificilmente podemos atingir objetivos como a renovação de um público, necessário para um teatro novo.

Criamos assim o programa: Jornadas Pedagógicas do Teatro Para a Infância e Juventude, que procura reunir especialistas, criadores, professores, pedagogos e todos os interessados no desenvolvimento de novos métodos, técnicas e experiências onde associamos o teatro e a educação.

O primeiro passo é despertar uma nova consciência nos agentes da educação para as necessidades de aprofundar o exercício da criatividade nas atividades do ensino, transformando o saber numa vivência sem a qual, dificilmente poderemos atingir o nível de uma verdadeira necessidade. Se as crianças e jovens, não sentem a necessidade da arte e da cultura, não desenvolvem vivências que lhes permita sentir essa necessidade, a criação de novos públicos e de novas plateias, o que significa a renovação social, está definitivamente comprometido.

Ações pedagógicas dirigidas às primeiras idades são frequentes, independente do nível de qualidade e exigência metodológica. Ações dirigidas para a adolescência e juventude, inseridas dentro dos programas de ensino, são poucas e os resultados, na sua grande maioria, carecem de comentários. Nessa faixa etária, as propostas de “vivência do imaginário” do “desenvolvimento da criatividade” são bem mais difíceis de implantar. O motivo não está no aluno. O aluno é consequência dos medos, receios, incapacidade, falta de vontade, o não acreditar… a “falta de tempo e espaço”…e um sem fim de razões que só condenam os professores.

Sendo assim, não nos resta alternativa se não a de apelar para as Secretarias de Educação que aceitem nossas propostas de associação ARTE (Teatro) ESCOLA para o desenvolvimento de programas que possam utilizar um saber criativo. Nesse sentido, nós os criadores, podemos contribuir sem o complexo de adentrar em searas que ultrapassam as nossas competências. O nosso objetivo é explicito e claro: Captação de Espectadores.

A nossa proposta, não significa uma aposta na criação de um repertório dirigido para um público específico (Infância ou Juventude ou terceira idade…). Não há teatro infantil. Somos contra essa denominação discriminatória da arte. Há teatro para todos os públicos!

Fazer teatro, nesta perspectiva e condições, significa a disponibilidade para o envolvimento com muitos setores da sociedade e experiência nas múltiplas formas criativas. No nosso projeto, procuramos associar todas as áreas da criação, (dança, música, artes plásticas, dramaturgia, etc.) interligando-as para atingir e beneficiar um objetivo comum: O Interprete.

Um novo Teatro = Um Novo Interprete. Um novo Espectador.

O fazer teatral comprometido com um novo espectador, obrigamo-nos a repensar as fórmulas inevitáveis que se utilizam em todos os processos de criação. (por muito que queiramos constantemente nega-las.) O processo aqui sugerido, implica um envolvimento e redescoberta das nossas raízes culturais, do seu entendimento e transformação em material poético, imaginário, teatral, que possa ser utilizado pelo ator, dramaturgo ou encenador e ao mesmo tempo, propomos que essa “escola do espectador” nos acompanhe nesse mergulho mágico.

Pesquisar dramaturgia, neste projeto, no Rio Grande do Norte, é mergulhar nas raízes ancestrais e atávicas desse homem nordestino. Com suas influências indígenas e ibéricas. Não somos cordilheira nem flautas andinas, não somos racionais como os nórdicos, não somos sulistas nem sambistas, nossa grande ópera não vem da Áustria ou da Itália ela é só um Pastoril, um Reisado. Somos profanos e acreditamos num diabo amigo, ainda louvamos a Tanajura que anuncia a chuva (com a mesma precisão que o departamento de meteorologia). Viva a Tanajura! Viva o saber popular!…

E como transmitir isto, sem que o discurso se transforme numa lição atravancada de tradicionalismo conservador, para os jovens, para o público que acreditamos possa vir a entender e aceitar o nosso teatro?

Não há contemporâneo sem ancestral. Não pode existir um teatro sem memória. Não há contemporâneo sem memória. Sem o entendimento profundo da linguagem que expressa a nossa mais pura identidade, nunca conseguiremos criar um teatro que possa comunicar de verdade com o homem contemporâneo.

A procura de uma linguagem do teatro do Nordeste, de um teatro com identidade própria, longe dos estereótipos produzidos de forma mumganguenta pelos artifícios comerciais televisivos, que absorvem do nordeste apenas o anedótico rústico, é a base central de toda uma pesquisa proposta, de onde inevitavelmente surgirá uma renovada dramaturgia cênica suportada pela verdade de um interprete consciente do seu teatro e da sua cultura.

Essa será, sem dúvida, a contribuição que este Centro, este projeto, poderá oferecer para o Teatro do contemporâneo, do Nordeste e sem fronteiras. Para um teatro que necessita urgentemente de uma maior cumplicidade entre o ator e o espectador.

Assim, a nossa proposta não é a criação de um determinado repertório ou dramaturgia para a Infância e Juventude, isso será, acreditamos, conseqüência de todo este trabalho conjunto que procura envolver Teatro e Educação. O nosso projeto artístico e teatral o que propõe é: Vivencia cultural. Vivência artística. Vivencia no imaginário poético. Vivência de experiências artísticas e pedagógicas. Vivência para um saber que necessita renovar-se e que só poderá ser transmitido de verdade com: Vida.

A Título de Informação: Nosso projeto

O projeto do CEFPT – Centro Experimental de Formação e Pesquisa Teatral surgiu no ano passado, com um convite da Fundação José Augusto de Natal-RN ao encenador e pesquisador do teatro ibérico Moncho Rodriguez, então diretor artístico do Teatro Oficina de Guimarães/ Portugal, para que, o encenador, elabora-se um programa teatral que pudesse servir como ponto de partida para uma renovação das artes cênicas no Rio Grande do Norte. O encenador propôs a criação de um Centro Experimental que pudesse reunir todos os criadores, diretores, atores, músicos, bailarinos, coreógrafos, cantores, artistas-plásticos etc.etc., com disponibilidade para repensar o fazer teatral, os objetivos da construção teatral desde o momento da criação à produção e execução.

Não é nem nunca será da competência de nenhum governo interferir na essência da produção cultural: na criação. Mas sim, é responsabilidade do Estado, o interferir nos processos da formação facilitando os meios para o desenvolvimento da cultura, da arte e da educação do seu povo. Cabe ao estado a responsabilidade maior, a de proporcionar um bem estar cultural digno e em consonância com as necessidades de evolução do seu povo, pela criação de estruturas, programas e projetos que revertam em benefício de toda a comunidade. (da apresentação e justificativa do projeto apresentado ao Governo do Rio Grande do Norte)

As nossas oficinas estão acontecendo em módulos, atendendo sempre as principais carências que encontramos entre uma e outra ação. Neste sentido conseguimos estabelecer uma continuidade no fortalecimento da formação através da pesquisa. Para a execução deste programa, contamos com a colaboração de alguns especialistas e pesquisadores que comungam da mesma ideia desde perspectivas diferentes.

A nossa proposta para este ano de implantação tem, por exemplo, as participações dos seguintes especialistas:

Na área do teatro de bonecos ( ou marionetes, ou robertos, ou mamulengos, ou títeres, ou…) temos a colaboração do bonequeiro José Ramalho – Marionetas de Lisboa – que desenvolve um trabalho de sensibilização, construção e utilização das “expressões e formas”.

Parte dos resultados dessa Oficina são utilizados pela artista plástica e figurinista portuguesa Cristina Cunha, numa outra oficina de construção de Máscaras e Adereços, onde a primeira experiência é enriquecida por uma nova forma de criar, construir e utilizar.

A pesquisadora e dramaturga sergipana Aglaé Fontes de Alencar, encontra-se neste momento, dirigindo um outra oficina: A Construção do Conto. Tomando como ponto de partida os elementos do Romanceiro Ibérico e Romanceiro do Nordeste, estimulando a percepção do imaginário popular como contribuição para o desenvolvimento de uma dramaturgia nordestina.

Ainda para este ano, o Centro tem previsto, dentro desde programa, a participação de outros colaboradores como: Ronaldo de Brito – Dramaturgo e pesquisador da cultura popular; Pedro Ferre – especialista no Romanceiro Ibérico (prof. Da Universidade Nova de Lisboa); Luiz Matilla – da Espanha, especialista nas linguagens da IMAGEM…

As Jornadas Pedagógicas do Teatro Para a Infância e Juventude, estão inseridas dentro de um programa de ações previstas no projeto geral do CEFPT que contempla:

Montagens Teatrais Didáticas (Experimentais)
Descentralização de Formação e Informação Teatral
Exposições Didáticas Itinerantes
PensArte ( fórum de debates e exposições sobre o Teatro e a Cultura onde os criadores podem conhecer o pensamento e a visão de pessoas que não se encontram ligadas a produção cultural.)

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Moncho Rodriguez
Encenador e Coordenador do Centro Experimental de Formação e Pesquisa Teatral

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Obs.
Para quem deseje contatar ou obter mais informações sobre o Centro Experimental de Formação e Pesquisa Teatral pode fazê-lo escrevendo para:

Centro Experimental de Formação e Pesquisa Teatral
Av. Hermes da Fonseca, Bairro do Tirol, Natal-RN
Telefone: (84) 212166 – E-mail: monchorodriguez@uol.com.br