Critica publicada em O Globo – Segundo Caderno
Por Mànya Millen – Rio de Janeiro – Out 1997

Barra

Uma Professora Muito Maluquinha: Adaptação preserva a afetividade do Livro

Doce Imagem Congelada na Memória

Melhor do que adaptar para o teatro o livro de um escritor é adaptar o livro de um escritor desenhista. Ao transformar em peça Uma Professora Muito Maluquinha, de Ziraldo, o diretor Marcello Caridade explorou não apenas o texto como as próprias ilustrações que compõem o livro e indicam um caminho cênico a ser seguido. Uniformizando a linguagem do espetáculo, em cartaz no Teatro do Leblon, Caridade também buscou evidenciar as mesmas matérias-primas usadas pelo escritor em sua narrativa literária: o lirismo, a nostalgia e a afetividade.

Tanta proximidade não significa, porém, que o espetáculo não tenha uma identidade própria. Caridade seguiu um dos muitos caminhos sugeridos pelo livro -há uma ótima e inusitada de um grupo de Belo Horizonte, por exemplo, que privilegiou somente o grafismo do livro, botando em cena uma história toda em preto e branco – e construiu um espetáculo redondo, com boas idéias, sem exageros e encenado sobre um terreno conhecido e prazeroso para ele: o dos musicais. Aliás, as boas canções ajudam bastante, mas não brigam em importância com o texto.

A história, que se passa nos anos 40 e traz muito da infância do próprio Ziraldo, recupera, através da memória de uma turma de amigos, a imagem de uma professora diferente, tão bonita quanto maluquinha, que teima em só mostrar o lado divertido dos estudos para seus pupilos.

O acerto da peça tem muito a ver com a escolha da protagonista, Stella Maria Rodrigues, que encarna uma autêntica professorinha saída dos sonhos de muitos miúdos (ou graúdos): bonita, sempre sorridente e disposta a distribuir beijos e não catiripapos. E Elvira Ellena, no papel da diretora megera, usa todo o seu talento cômico para fazer o contraponto exagerado da mestra.

Com um grupo afinado de atores, em que se destaca também André Falcão, multiplicando em vários papéis, do Padreco ao namorado da professora, o espetáculo ganha a platéia fácil. Afinal, quem não tem uma doce imagem dos tempos de escola congelada num canto da memória?