O elenco de Uma Professora Muito Maluquinha: atores demonstram preocupação com o humor

Crítica publicada em O Globo – Segundo Caderno
Por Marília Coelho Sampaio – Rio de Janeiro – 14.02.2003

 

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Uma Professora Muito Maluquinha: Homenagem singela aos que nasceram com vocação para o ensino

Espetáculo simpático sobre a escola

Quem nunca teve uma professora especial no curso primário? Aquela que fica na memória e é sempre lembrada com carinho? O espetáculo Uma Professora Muito Maluquinha, adaptação de Sérgio Abrita para a, obra de Ziraldo, em cartaz no Centro de Referência do Tea­tro Infantil/Teatro do Jockey, sábados e domingos, às 16h30m, pode ser visto como uma singela homenagem às pessoas que nasceram com a vocação para o ensino.

A história da peça se desenrola a partir da memória de cinco ex-integrantes de uma mesma turma da escola primá­ria, que lembram como foram felizes na pequena cidade do interior em que passaram a infância, principalmente no ano em que foram alunos da Professora Maluquinha – como a protagonista era chamada carinhosamente por todos na escola. Para dizer a verdade, de maluquinha ela não tinha nada. Ela era, sim, muito criativa, ao passar o .conhecimento para seus alunos da forma mais prazerosa possível. E talvez seja esse o segredo de todo professor que conquista o coração de seus pupilos.

Adaptação fiel ao tom poético de Ziraldo

Em sua adaptação, Sérgio Abrita se manteve fiel ao tom poético que caracteriza a obra de Ziraldo, criando diálogos curtos e adocicados, que podem ser facilmente assimilados pelo público infantil. Faltou apenas, um corte ou uma atualização de certas cenas que parecem muito distantes das crianças de hoje em dia ­ em especial, das que vivem no Rio – como a da solteirona que se recusa a ir ao cinema ou a do padre que condena a leitura de gibis em sala de aula, alegando que os alunos estão cometendo um pecado.

O cenário é muito simples: um quadro negro, algumas cadeiras de plástico e uma mesa de madeira, tanto que na ficha técnica só aparece o nome de Marcelo Aouila como responsável pelos adereços de cena. A iluminação, criada pelo diretor da peça, Luiz Roberto Pinheiro, também não tem nenhuma sofisticação. O figurino de Juliana Esmeralda é eficiente, até porque os atores ficam praticamente o tempo todo de uniforme.
escolar – só mudando de roupa nos momentos em que vivem os pequenos personagens que cortam a trama.

Quem troca mais de figurino é a professora, o que não parece essencial num espetáculo que não dispõe de muitos certamente recursos financeiros: as mudanças poderiam ocorrer com a simples troca de peças de uma mesma roupa ou com a utilização de endereços. As músicas de Marconi Henrique estão de acordo com o ritmo do espetáculo e são corretamente interpretadas pelos atores, assim como as coreografias de João Bragança.

Direção cria alguns bons momentos

Como a participação da ficha técnica é discreta no espetáculo, aumenta a responsabilidade dos atores na composição de seus personagens. A Professora Maluquinha é interpretada por Sônia de Paula, que valoriza o tom meigo da personagem. Nesse sentido ela se sai muito bem, mas bem que a atriz poderia usar um pouco mais seu talento cômico para revelar o lado “maluquinho” da professora, o que certamente daria mais graça à montagem. Os atores que interpretam os alunos já demonstram uma preocupação maior com o humor. Naísa Magdália, como Ana Maria Barcellos, a líder do grupo, tem uma ótima voz e uma boa presença no palco, precisando apenas tomar cuidado com a dicção. Na cena da rima, o público algumas vezes não entende o que a atriz fala, porque ela abaixa o tom nó fim das palavras. Fernando Campos, o Luizinho, Rodrigo Corrêa, o Wanderson, e Simone Pyll, a Ângela, saem-se bem em seus personagens. Já Leonardo Ferreira, como Antônio e como funcionário do Banco do Brasil, poderia dosar o sorriso que exibe durante todo o espetáculo, o que ajudaria o público a diferenciar seus personagens.
A direção de Luiz Roberto Pinheiro cria alguns bons momentos, como a cena do cinema e aquelas em que os alunos leem versos ritmados. No todo, o diretor transforma Uma Professora Muito Maluquinha num espetáculo simpático, principalmente para as crianças que estão entrando na escola.