Matéria publicada no Diário Esportivo
Sem Identificação – Rio de Janeiro – 17.08.1950

Barra de Divisão - 45 cm

Um cenarista Vitorioso

Conversa rápida com Nilson Penna, a revelação do Teatro do Estudante

Nilson Penna é um jovem de tradicional família brasileira que, desde tenros anos vem acompanhado de perto a evolução do teatro nacional, pelo qual tem se dedicado inteiramente.

Coube a Paschoal Carlos Magno trazer ao público brasileiro esse jovem de grande sensibilidade e cultura. Foi no, Hamlet que Nilson Penna teve a sua tão desejada oportunidade, interpretando com grande sucesso o Luciano da pantomima. A crítica festejou a estreia, e Nilson Penna ficou muito contente.

Sua vocação, porém não era a interpretação e como jovem inteligente soube perceber isso a tempo. Dedicou-se ao “décor”, no qual se revelou a pujante força criadora de geração. Na verdade excepcional é o gosto e a propriedade cênica dos cenários de Nilson Penna.

Seus costumes, além da fidelidade histórica – Nilson é um estudioso – possuem uma combinação de tons de gosto refinados equilibrado.

Depois da vitória completa do Teatro do Estudante, os profissionais passaram a solicitar presença e colaboração do novo valor. Atendendo ao convite de M. Morineau, Nilson ingressa no elenco de “Os Artistas Unidos”, para trabalhar nessa grande montagem que foi Uma Rua Chamada Pecado. A seguir, o mesmo elenco lança definitivamente Nilson Penna como cenarista, por instâncias de M. Morineau, cuja confiança no jovem estreante fora sempre um grande estímulo para ele, desenhando os cenários de Casaco Encantado, de Lúcia Benedetti, que lhe valeu o premio de maior revelação em cenografia de 1948, doado pela A. B. C. T., por unanimidade. Continuando sua ascensão: Sonhos de uma Noite de Verão dirigido por Ruggero Jaccobi, no festival Shakespeare do T. Estudante, com uma sucessão que o consagrou definitivamente.

Para o “Ballet”, Nilson Penna possui trabalhos também excelentes, como Bodas de Aurora e Copélia, para o Ballet Society na temporada que aquele conjunto realizou no Teatro Municipal e Fênix. Dedicado inteiramente ao décor, nunca deixou, entretanto de fazer pequenas excursões pela ribalta, interpretando certos “roles” com agrado. Ele próprio foi quem explica dizendo que o “mettier” do teatro obriga a tentar a essa versatilidade – uma sentença a que Barrault confirma nesta última temporada.

Atualmente, Nilson é o cenógrafo mais solicitado do Rio teatral. Trabalha nos cenários de Lúcia Benedetti, com os quais Branca de Neve e os Sete Anões, pretende dar continuidade ao seu esplêndido trabalho de Casaco Encantado.

Apronta também trabalhos destinados ao Teatro Folclórico Brasileiro.

Indagamos ao jovem cenarista, quais eram os seus plano se estava satisfeito com a sua situação atual. Ele responde:

“Realmente, não posso me queixar. Sinto, entretanto que não possuímos o desenvolvimento necessário, nem escolas que possam ampliar o que em mim é por ora apenas vocação cênica.”

J. L. .Barrault quando nesta capital teve a gentileza de apreciar meus trabalhos e teve para comigo palavra de grande estímulo. Aconselhou-me a viajar pela Europa e se possível estudar com Paul Collin em Paris.

Talvez possa um dia realizar esse meu sonho e adquirir na França os conhecimentos que me farão dar pleno desenvolvimento a minha vocação e voltar ao Brasil com real bagagem para melhoria da cena nacional.

Certamente que Nilson há de conseguir, pois é persistente, estudioso, moço e tem talento suficiente.