Matéria publicada em O Globo, Segundo Caderno
Por Mànya Millen – Rio de Janeiro – 25.12.2002

Barra de Divisão - 45 cm

Um Ano Morno, marcado pela entrega de Prêmio

Teatro de qualidade para crianças ficou novamente representado por poucos espetáculos

Na fatia do palco destinada ao teatro para crianças 2002 repetiu, de forma pouco alentadora, a mesma peça apresentada em anos anteriores: um cenário que continua congestionado por uma massa gigantesca de espetáculos sem brilho e originalidade, em que poucos destaques carregaram novamente a responsabilidade de mostrar que ainda há excelência nessa área. A boa notícia é que eles realmente mostraram.

Tanto que quase todos acabaram premiados na primeira edição do Prêmio Maria Clara Machado de Teatro Infantil, criado pela prefeitura no ano passado e distribuído em agosto. A entrega do prêmio, aliás, acabou sendo uma das boas marcas do ano: o discurso de continuidade deu novo alento a uma classe que andava desestimulada, desestímulo que claramente vem se refletindo na produção.

Entre as gratas surpresas do ano estão peças completamente despretensiosas como Maria Borralheira, texto impecável de Augusto Pessoa e deliciosamente interpretado por ele e Rodrigo Lima, e A Menina que Perdeu o Gato Enquanto Dançava o Frevo na Terça-feira de Carnaval, pequena pérola dirigida por Demétrio Nicolau. Também mostraram fôlego superproduções como a ópera rock Eu e Meu Guarda Chuva, do titã Branco Mello e de Hugo Possolo, e a delicada versão operística de Tim Rescala para O Cavalinho Azul, xodó de Maria Clara Machado.

Humor, poesia e preocupação social 

Misturando bom teatro a um projeto educacional, O Jeca Voador e a Corte Celeste de Caio de Andrade, além de encher os olhos da plateia com um espetáculo de visual requintado, resgatou parte da rica história cultural e política do Brasil dos anos 20.

Cosquinhas, de Heloísa Perissé e Ingrid Guimarães, dirigido por Sura Berditchevsky, reafirmou o talento humorístico da dupla mostrando que um espetáculo cheio de graça também é capaz de botar os pequeninos para pensar.

A ordem é igualmente botar para pensar, embora de maneira bem diferente, no caso do belo A Ver Estrelas, que o autor e diretor João Falcão decidiu remontar depois de alguns anos. Mantendo a linguagem cheia de voos poéticos, o diretor revestiu sua peça com um irresistível apelo pop.

A poesia também esteve presente em O Mundo é Grande, da Cia. Dramática de Comédia, bonita história escrita e dirigida por João Batista sobre o abismo existente entre um garoto de classe média e um menino de rua. E os sonhos e ambições infantis ganharam um divertido retrato em Criança eu Quero ser Quando Crescer, projeto embalado com carinho pela dupla Rogério Blat e Ernesto Piccolo.