Os criativos figurinos atendem bem às diferentes personagens mostradas nas histórias

Crítica publicada em O Globo – Segundo Caderno
Por Marília Coelho Sampaio – Rio de Janeiro – 18.09.2005

 

Barra

Theatro das Virtudes: Um espetáculo que faz o público infanto-juvenil refletir sobre a ética

Quando a diversão também educa

No espetáculo Theatro das Virtudes, em cartaz no Centro Cultural Telemar, Sura Berditchevsky encena 19 textos para fazer o público infanto-juvenil refletir sobre um tema atualíssimo: a ética. A montagem, livremente inspirada no “Livro das Virtu­des para Crianças”, de William J. Bennett, marca a estreia da companhia da autora e diretora, integrada por crianças e adolescentes.

O roteiro da peça inclui nomes de autores como Artur Azevedo, Machado de Assis e Manuel Bandeira, além de textos do folclore judaico, selecionados por Lúcia Cerrone e pela própria Sura. E essa mistura de referências resulta num espetáculo bastante heterogêneo, que mescla longas histórias com outras nem tanto, e alguns poemas, naturalmente curtos.

Ótimas, mas muitas histórias alongam demais a peça

Entre as histórias escolhidas pela diretora, algumas estabelecem maior empatia com as crianças, não só pela forma como são contadas, mas também pela originalidade do seu conteúdo. Como no caso de “O Pequeno Herói da Holanda”, que fala de sentimentos como a coragem e a perseverança; Alguém está Vendo Você, focada na honestidade;  A Galinha Ruiva, divertida fábula sobre a recompensa de trabalho bem feito; “Por Favor”, sobre a importância da gentileza nas relações humanas; e as curiosas “Sábio por um Dia” e “A Esperta Filha do Hoteleiro”, adaptadas do folclore judaico. Outras histórias, apesar de visualmente muito bonitas, como, por exemplo, “A Estrela”, não prendem a atenção das crianças, que se mostram bastante inquietas nas últimas cenas Talvez isso aconteça pelo cansaço provocado pelos 80 minutos de duração do espetáculo. Um roteiro mais enxuto, com as melhores histórias, poderia agradar em cheio ao público infantil.

No elenco, 16 jovens atores se empenham em viver da melhor forma possível seus diferentes personagens. De uma forma geral, precisam ter cuidado com a projeção da voz: algumas vezes os intérpretes falam muito alto em cenas que exigiriam apenas um tom autoritário. Fora isso, todos ainda terão muito tempo pela frente para desenvolver seus precoces talentos.

A parte técnica de Theatro das Virtudes é muito bem resolvida. Os criativos figurinos de Flávia Leão atendem muito bem às diferentes personagens mostradas nas histórias, assim como a iluminação de Paulo César Medeiros; que cria os ambientes propícios para cada uma delas. A coreografia de Ana Soares é adequada aos jovem atores, e os elementos cenográficos e adereços, de Antonio Pedra, bem utilizados por eles. O diretor Rodrigo Belchior também acerta ao escolher para a trilha sonora, músicas dos Beatles, que são interpretadas com graça por alunos do Projeto Villa-Lobinhos…

Espetáculo tem belos apelos visuais

A animação e a ilustração gráfica de Renato Vilarouca e Ricardo Vilarouca se destacam no espetáculo. A dupla, que se mostra cada vez mais competente na interseção das duas linguagens – a animação gráfica e o teatro – é responsável por momentos visualmente muito bonitos, como em “A Borboleta”, divertidos, no caso de “A Boneca”, e poéticos, em “A Estrela”.

Retratando histórias com temas inspirados em qualidades como a honestidade, a perseverança, a responsabilidade, a compaixão, a lealdade, a amizade, e a esperança Theatro das Virtudes se torna um espetáculo muito pertinente para as crianças de nossos dias, tão bombardeadas pelos valores – nem sempre positivos – inerentes ao mundo globalizado.