Crítica publicada no Diário da Noite – Coluna Teatro 
Por Bandeira Duarte – Rio de Janeiro – 20.10.1948

O Capote Encantado em Cena

Capote Encantado proporcionou a Graça Mello uma direção que entre outros méritos, exibe o de acentuar e harmonizar todos os se seus efeitos, no aproveitamento total da fantasia, da originalidade da graça que o texto contém e que os admiráveis cenários e figurinos de Nilson Penna vestem com tão encantadora beleza.

Identificando-se inteiramente com o espírito e as intenções da obra, o diretor-estreante soube tirar de cada cena, o maior partido possível, e deu ao espetáculo um ritmo de inexcedível colorido, uma vibração contagiosa, que se derrama do palco sobre a plateia e empolga na mesma vertigem boa, espectadores de todas as idades.

E isso tudo sem prejuízo da personagem do Bruxo, que o ator realizou otimamente.

Nilson Penna, além de cenógrafo é figurinista, fez um adorável Relógio, às ordens da Vovozinha que Maria Castro apresentou com a sua habitual maestria.

Fregolente e Dary Reis nos dois atribulados alfaiates, Jacy Campos no Rei, Orlando Guy no difícil Manequim do primeiro ato e no Ministro do último, FIora May na Princesa, LucilIe Perrone e Nieta Junqueira nos Pagens foram os esforçados colaboradores dessa vitória inicial do Teatro para Crianças, contribuindo cada um deles com a sua parcela de valor individual para a êxito do conjunto.

De propósito deixei para o fim Henriette Morineau, a endiabrada e divertidíssima Bruxa, tão diferente da trágica Medeia, da atormentada Sra. Phelps, da fútil mundana de Mademoi­selle e tão grande sempre na força artística de que se revestem os seus trabalhos.

Sua inesgotável riqueza de recursos interpretativos, mais uma vez se exibiu em impressionante demonstração, revelando na sua variada e surpreendente personalidade a presença também de uma das melhores caricatas que possuímos, dominando a burlesca com aquela magistral segurança que marca todas as suas criações.

Como composição, realização e efeito, a Bruxa de Henriette Marineau é um dos trabalhos mais perfeitos de que temos memória no nosso teatro e pode figurar dignamente entre os outros que a consagrada artista já nas ofereceu.