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O teatro destinado ao público infanto-juvenil padece de um sem número de males.

O preço menor dos ingressos, a quantidade reduzida de apresentações semanais, a escassa e falha divulgação dos jornais, a indiferença total dos programas de televisão e dos telejornais.

A ausência de patrocínios das empresas privadas, o espaço do palco sujeito ao espetáculo noturno, a quantidade diminuta de refletores, a redução da área de divulgação na porta do teatro, os piores camarins.

A falta de críticos especializados na imprensa, os preços proibitivos dos aluguéis, o descaso dos proprietários de casas de espetáculos, a discriminação das premiações e toda sorte de preconceitos, inclusive da própria classe artística.

O teatro infanto-juvenil sofre ainda a desleal concorrência dos dias ensolarados, dia dos pais, dia das mães, dia da vacinação infantil, férias escolares, playcenter. Formula 1 ou futebol aos domingos, shows gratuitos nos parques da cidade, cinema, televisão e, atualmente, a segurança cômoda dos shoppings.

E mais: as festas juninas, as festas natalinas, e o pior: a insensibilidade e o cansaço dos pais nos sagrados finais de semana.

Em virtude e consequência de tantas dificuldades, é fácil concluir que o teatro para crianças encontra-se num beco sem saída.

Condição que tende a se eternizar por causa do crescente desinteresse de bons e competentes atores, diretores e dramaturgos, em desenvolverem seus trabalhos numa área que, além de necessitar conhecimento e técnicas específicas, é tão pouco compensadora.

Por outro lado, correndo em paralelo a todas as adversidades citadas, à margem mesmo, o teatro infanto-juvenil, surpreendentemente, descobriu e usufrui do maior mercado do país: as escolas.

Cresce, então, o número de grupos e companhias que levam seus espetáculos às escolas ou, na melhor das hipóteses, trazem as escolas ao teatro durante a semana.

Um extraordinário negócio que já enriqueceu muita gente e que surge como uma nova ameaça, representada pela péssima qualidade dos trabalhos apresentados muitas vezes em espaço inadequado, produções pequenas e rápidas e em número assustadoramente cada vez maiores. Tudo isso, deliberadamente endossado; primeiro pelos pais, que acham que levar os filhos ao teatro é obrigação e dever da escola, portanto, um problema a menos para eles.

E segundo, pelas orientadoras pedagógicas das próprias escolas que, desinformadas ou sem o menor discernimento, compram espetáculos, às vezes, tão somente interessadas no lucro fácil obtido de pequenas porcentagens sobre os mesmos.

Beco sem saída ou faca de dois gumes. Pois se um espaço de mercado foi conquistado, não há, na realidade, profissionais aptos, devido ao panorama crítico já exposto anteriormente, para ocupá-lo conscientemente.

Conclui-se, portanto e finalmente, que espetáculos criativos, textos inteligentes, atuações adequadas e encenações que respeitem as crianças como seres sociais, pequenos indivíduos em formação (porém, nunca “menores”), são aves raras que precisam ser preservadas porque se encontram em plena extinção nos céus do Brasil.

Aves raríssimas que trazem em seu voo a semente da transformação de toda uma sociedade – de valores éticos e morais distorcidos, – que precisa ser urgentemente repensada.

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Vladimir Capella
Autor e diretor

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Obs.
Texto retirado da Revista FENATIB, referente ao 1º Festival Nacional de Teatro Infantil de Blumenau (1997)