Crítica publicada em O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 01.10.1977

Barra

Tatá, um Tamanduá Apaixonado

Tatá, um Tamanduá Apaixonado, de Oscar Von Pfhul, em cartaz no Teatro Dulcina, e uma montagem bem cuidada que vem, mais uma vez, provar uma das características de nosso teatro infantil carioca: bons resultados visuais ao lado de elenco e texto irregulares.

A preocupação que existe em dar as crianças, estímulos visuais fez com que surgissem bons trabalhos no campo da cenografia e dos figurinos. Por outro lado, o pouco dinheiro existente para a produção (não se justifica um grande investimento para apenas duas sessões semanais) não permite a contratação de atores mais experientes, mais seguros, com mais domínio. Como consequência imediata, encontramos na maioria das peças infantis, interpretações bisonhas, ingênuas, cheias de cacoetes e sem qualquer força de comunicação com o público. Já nem falo em brilho (individual ou coletivo)…

Entretanto, continuo afirmando que a fonte maior do nosso desequilibrado nível de qualidade encontra-se na dramaturgia. O ponto de partida do trabalho teatral está na escolha do texto. E infelizmente, não há muito o que escolher. Faltam os bons autores. Faltam estímulos para que os escritores se dediquem a uma atuação junto a plateias infantil.

No caso específico de Tatá, um Tamanduá Apaixonado, temos uma autor que escreve a longos anos, tendo sido montado inúmeras vezes em nosso país. Entretanto, o texto não é bom. Ele tem inicialmente a grande vantagem da escolha do tema: o desejo de mostrar o índio como um ser humano que deve ter seus direitos respeitados mesmo quando atrapalha o progresso. E há outros aspectos positivo: o autor não se preocupa em passar duvidosas mensagens educativas (apesar de certas frases infelizes grandiloquentes e mentirosas como “- Quem quer morrer por amor jamais diz uma mentira”).

Entretanto, apesar do bom tema, a maneira que Oscar Von Pfhul escolheu para defender suas ideias deixa bastante a desejar. Temos uma trama arbitrária e o autor, além de interferir sempre na ação, não cria um interesse crescente; mais uma vez existe a história de um amor impossível (um branco com uma índia); mais uma vez o conflito final e resolvido de forma absolutamente inverossímil.

O espetáculo dirigido por Eugênio Guy é muito bem cuidado, tem um desenvolvimento seguro, mas esbarra tanto no texto como na falta de homogeneidade do elenco. Se há desempenhos corretos (Quati, Índia, Chefe Índio), há também, interpretações muito fracas, demonstrando grande inexperiência e ausência de recursos. Tatá, um Tamanduá Apaixonado, é uma peça recomendável em segunda opção. Você poderá levar seu filho caso ele já tenha visto as melhores encenações da temporada: Zé Capim, Jujuba, Saltimbancos, 33, A Gaiola de Avatsiú. E, como boas promessas, temos ainda Terra Ronca, O Circo, O Jardim das Borboletas, Oz, A Mariposa e Tribobó City.