Crítica publicada no Site da Revista Crescer
Por Dib Carneiro Neto – São Paulo – 16.04.2013

Barra

Dois musicais “trabalhados” no equívoco

Música é fundamental em peças para crianças. Canções fazem toda a diferença no palco. A musicalidade age sempre com eficiência para manter a atenção dos pequenos, além de contribuir decisivamente na compreensão das tramas. Hoje, quero comentar sobre dois equivocados musicais em cartaz em São Paulo. Os dois grupos lançam mão do gênero de forma pouca criativa.

As peças são O Chapeleiro Maluco, no Teatro Geo, em Pinheiros, com direção de Jarbas Homem de Mello e Rogério Matias e produção da Bosnich Marden Produções, e Tarzan, o  Musical, com texto e direção de Alexandre Biondi e produção da Cia. Marquesa, no Teatro Maria Della Costa, na Bela Vista. São duas produções de aporte bem distinto: uma mais rica (Chapeleiro), outra de menor orçamento (Tarzan) – o que comprova que criatividade não depende de dinheiro.

No caso do primeiro, trata-se de uma adaptação do clássico de Lewis Caroll, Alice, “toda trabalhada” em equívocos, para usar uma expressão dos personagens da própria peça. Para começar, o elenco grita o tempo todo, mesmo usando microfones. Isso não é interpretar. As canções de Charles Dalla são ruins, pasteurizadas, reproduzindo demais os modelos de musicais da Broadway. Sem personalidade.

A dramaturgia (Walter Jr.) é fraca, sem ação. Na maior parte do tempo, o elenco conversa parado, olhando pra frente. Como assim? Num musical? Lamentável. O telão traz animações vistosas e dinâmicas, mas que, desta vez, não se integram à dramaturgia. Isso não ocorria na produção anterior do grupo, O Fantasma da Máscara. No elenco, Negra Li, como a Rainha Branca, é a melhor voz, porém não tem a chance de se mostrar como atriz neste espetáculo tão mal dirigido. A piada melhorzinha, ainda assim beirando o óbvio, é brincar com a palavra bullying no contexto do ‘bule’ da hora do chá.

A trama até que é simpática: Alice cresce e volta para o “país das maravilhas” toda patricinha, brega e fútil, em dúvida se continua lendo o livro de sua vida ou se vai pra balada ou, ainda, se entra na internet e curte o facebook… Porém, só esse início não se demonstra suficiente para segurar toda a dramaturgia. O que se segue é um mote fraco: o sumiço dos chapéus do desfile da nova coleção do Chapeleiro Maluco. Outra ideia desperdiçada é chamar crianças da plateia para virarem as top models do desfile de chapéus, já que as personagens são raptadas. O que ocorre é que os chapéus criados pelos figurinistas são grandes demais para a cabeça das crianças que sobem ao palco. Se a ideia era essa, por que não confeccionaram chapéus menores, mais apropriados?

Quanto ao Tarzan, não vale a pena gastar muitas linhas deste texto com ele, pois é ainda pior do que Chapeleiro Maluco: a direção é ruim, automatizada, sem voos criativos. Os atores são fraquinhos, despreparados. O playback é horroroso, as dublagens mais ainda, o cenário (Ronney Thiago) é pobre em criatividade, as perucas (Aroldo Campos Velanny) são detestáveis, as coreografias (Khamilahh Jelezoglo) são pífias e primárias, o figurino (Celso Werner e Marcos Lelles) é péssimo, sem nenhuma ideia, a não ser copiar. Tudo tem um ranço de “mal acabamento”, improvisação e amadorismo. O teatro infantil em São Paulo já atingiu um nível que deixou para trás esse tipo de musical, como Tarzan, pobre em criatividade, que copia mal e porcamente a estética dos filmes da Disney. É inacreditável o quanto um dos cantores do playback desafina o tempo todo… Se é playback, por que não gravaram de novo, até a tal voz cantar direito?

Serviços

O Chapeleiro Maluco
Teatro Geo – Complexo Ohtake Cultural
Rua Coropés, 88, Pinheiros
Telefone: (11) 3728-4925
Sábados e domingos às 16h
Preços: Plateia: R$ 50 (meia: R$ 25); balcão: R$ 40 (meia: R$ 20)
Estacionamento com valet: R$ 25
Até 16 de dezembro

Tarzan, o Musical

Teatro Maria Della Costa
Rua Paim, 72, Bela Vista
Telefone: (11) 3256-9115
Sábados e domingos, às 17 h
Preços: R$ 30 (meia: R$ 15)
Até 19 de novembro

*Este texto foi publicado anteriormente, em 18.10.2012, no Blog Pecinha é a Vovozinha