Matéria publicada no Jornal do Brasil, Caderno B
Sem identificação – Rio de Janeiro – 04.05.1992

Barra

Sete Quedas no palco – Uma peça infantil lembra o fim das lindas cataratas

Há dez anos, um dos cartões postais do país – as cataratas de Sete Quedas, no Paraná – desaparecia sob as águas do grande lago formado pela hidrelétrica de Itaipu. A partir daí, muitas vozes se levantaram, indignadas pelo que consideravam uma agressão à natureza. Novamente, a tristeza pela perda das belíssimas cachoeiras é lembrada em uma peça infantil. Sete Quedas – a Lenda e o Sonho, que estreia sábado no Teatro II do Centro Cultural do Banco do Brasil.

O texto de Maria Bati é baseado na lenda guarani que conta a origem das Sete Quedas. Um menino é levado pela lua até a cidade de Guairá, onde existiam as cataratas, para conhecer uma história de luta de deuses: o furioso deus  Sol tentando salvar sua bela filha que havia sido raptada pelo deus Serpente. Quando os dois se encontram, nas águas do rio Paraná, O Sol recupera a filha e lança os destroços do deus Serpente em uma fenda rochosa das cataratas que se abriram, onde ficou um caldeirão fervente formando as Sete Quedas. Segundo uma profecia indígena, se esse caldeirão for coberto pelas águas, o deus Serpente pode ser solto e ameaçar novamente o mundo.

A peça – com direção de Lúcia Coelho, música de Caíque Botkay e Alexandre Negreiros e Zezé Polessa no elenco – fica em cartaz até o final de junho. Tem a força de um aviso para as pessoas não esquecerem do desaparecimento não somente da beleza das cataratas mas da própria vida, conforme o texto de um álbum de fotografias de Sete Quedas, assinado pela secretária de Cultura e do Esporte do Paraná, Suzana Guimarães: “Aos poucos, a vida que a rodeava foi se retirando. Primeiro foram os guaranis, depois os habitantes do lugar. Todos cediam lugar ao imenso lago da represa da usina hidrelétrica de Itaipu”.

Um grito de alerta que lembra a tristeza e indignação do poeta Carlos Drummond de Andrade diante daquele crime ecológico: “Brasileiros de todos os semblantes/ Vinde ver e guardar/ Não mais a obra de arte natural/ Hoje cartão postal a cores melancólico/ … Sete Quedas por nós passaram, / E não soubemos, ah! Não soubemos amá-las/ E todas sete foram mortas/ e todas sete somem no ar, / sete fantasmas, sete crimes/ Dos vivos golpeando a vida/ Que nunca mais renascerá.”