Matéria publicada em O Estado de São Paulo – Caderno 2
Por Dib Carneiro Neto – São Paulo – 04.04.2007 

Barra de Divisão - 45 cm

Panorama Otimista do Teatro Infantil

Em 12 tópicos bem positivos, uma análise de como as produções para crianças e jovens deram salto qualitativo em São Paulo.

Na semana em que são divulgados os finalistas do Prêmio Femsa de Teatro – a única premiação de São Paulo voltada exclusivamente ao teatro para crianças e jovens -, vale a pena refletir sobre o que tem mudado no panorama paulistano do circuito teatral vespertino. Há um otimismo no ar, mas à custa de muita luta e numerosas batalhas contra o preconceito.

‘Hoje em dia, temos muito mais teatro adulto ruim do que teatro infantil ruim.’ Frases como essa são cada vez mais ouvidas nos raros encontros da classe artística voltada para este gênero de arte maior feita para menores. Também se ouve muito: ‘Comparando com os festivais internacionais de teatro para infância e juventude, não devemos nada a lugar nenhum do mundo.’ Ou ainda: ‘Teatro infantil é só no nome. Nós somos grandes.’ Abaixo, 12 pontos bastante positivos, listados como forma de estimular a reflexão da classe artística.

1 – Melhorou a visão do próprio artista com relação à criança, mudou a forma de abordagem, o que é dito à criança hoje é dito com mais respeito, maior cuidado, maior responsabilidade.

2 – Antes, se fazia ‘teatrinho e pecinha bonitinha’ com excessiva intenção de ensinar. Hoje, são montadas bem menos peças para martelar na cabeça da plateia que se deve escovar os dentes três vezes ao dia – ou para complementar as comemorações do Dia do Índio, do Dia do Soldado, do Mês do Folclore.

3 – Hoje, finalmente, se compreendeu que se faz teatro infantil como arte (e não como aula) para a criança se conhecer, se perceber, perceber o outro e perceber o mundo, a diversidade do mundo. Existe mais pesquisa, mais interesse na linguagem, mais apuro da direção, mais necessidade de deixar uma marca nova na interpretação, mais rigor estético.

4 – Há mais trilhas sonoras originais no teatro infantil, compostas especialmente para os espetáculos.

5 – Há menos casos em que a cenografia de teatro infantil tenha de ficar espremida na boca de cena, porque a peça adulta, do horário noturno, não permite que ela se expanda no palco. Essa sempre foi uma lamúria constante e real.

6 – Acompanhando a tendência do teatro para adultos, a iluminação de teatro infantil virou ‘desenho de luz’, e essa mudança de nomenclatura já demonstra o quanto se mudou também de mentalidade artística.

7 – No teatro para crianças, há mais de uma peça em cartaz em São Paulo em que o maquiador virou ‘visagista’. Respeito merecido.

8 – O teatro infantil tem a virtude grandiosa de não deixar morrer o circo no coração das plateias. Quantas e quantas companhias de circo-teatro, muitas delas multiplicando talentos em verdadeiras academias de formação circense (prática e teórica), atuam hoje nos teatros de São Paulo, combatendo como heróis a desinformação sobre o palhaço e o clown e o preconceito contra esse casamento harmonioso entre a arte do picadeiro e a dramaturgia de palco italiano.

9 – Quem faz teatro infantil também entendeu finalmente o quanto é específica e rigorosa a arte de manipulação de bonecos. Não é coisa pra qualquer um que compra um fantoche na loja da esquina e acha que já pode subir no palco e cobrar ingresso. Quantas e quantas companhias de animação preenchem agora com muito talento a programação vespertina de São Paulo, cada vez com mais engenho e arte, compreendendo de uma vez por todas que ‘boneco parado é boneco morto’.

10 – Outro segmento importante, a arte dos contadores de histórias, foi se aprimorando de tal forma e se juntando também com tão perfeita harmonia às especificidades da dramaturgia, que hoje é mais uma das virtudes do teatro infantil: manter viva e bem difundida entre as novas gerações essa técnica milenar de entreter adultos e crianças contando histórias.

11 – Aumentaram os redutos de bom teatro infantil em São Paulo, lugares em que você sempre pode ir, pois sempre haverá boas peças na programação. Ou seja, há hoje em São Paulo, bons programadores de teatro infantil, atentos tanto a grupos que precisam de continuidade para crescer no seu trabalho quanto a grupos novos que precisam ser vistos, precisam da vitrine desses teatros formadores de público. Exemplos: Teatro Alfa e sua Sala B, Teatro Folha, Teatro Imprensa, o SESI, o Centro Cultural São Paulo, o Teatro da Cultura Inglesa, toda a rede do SESC e, mais recentemente, Espaço Parlapatões, na Praça Roosevelt.

12 – Outro ponto muito positivo a ser lembrado é que o Programa de Fomento ao Teatro, da prefeitura de São Paulo, tem incluído grupos de teatro infantil e jovem entre os seus contemplados (As Graças, Ventoforte, Cia. do Quintal, XPTO, Pia Fraus, Nau de Ícaros, Paidéia), garantindo com isso que essas companhias tenham um mínimo de continuidade de trabalho, sem a qual fica impossível querer avançar em qualidade.