Matéria publicada em O Globo
Sem Identificação – Rio de Janeiro – 19.09.1982

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O Embarque de Noé reabre espaço amanhã

Estreia amanhã, reabrindo o Teatro Fonte da Saudade (Avenida Epitácio Pessoa, 4866) o musical infantil O Embarque de Noé, de Maria Clara Machado, em remontagem dirigida por Toninho Lopes, um dos discípulos da autora. Estrelada por Alexandre Dacosta, Regina Fontenelle, Marcos Jardim, Thiago Santiago e Rodrigo Mendonça, entre outros, e com coreografia de Louise Cardoso, Regina Miranda e Luciana Bicalho, a peça, segundo Toninho, tem como principal mérito, na atual montagem, o de oferecer ao público infantil um espetáculo de qualidade, num teatro especialmente ocupado com essa produção.

– Quem sabe o Teatro Fonte da Saudade se transformará num outro Tablado? – pergunta Toninho, esperançoso, ao lembrar que o espaço há anos garantido por Maria Clara Machado tinha sido, antes da sua chegada, apenas a sala de espetáculos do Patronato Operário da Gávea.

Ex-integrante do Tablado e atualmente professor do grupo, Toninho reuniu 24 pessoas em sistema de cooperativa e escolheu um texto em que, como diz, “uma velha história bíblica poderia assumir novas facetas e conotações”. A conquista do teatro, porém, foi a maior recompensa que podia esperar:

– Com a reabertura do Teatro Fonte da Saudade, há seis anos fechado, conseguimos um lugar em que uma produção de teatro infantil independe da iluminação, do cenário e até da vontade dos produtores do espetáculo noturno. O palco estará montado apenas para O Embarque de Noé propiciando ao nosso grupo um clima gostoso de convívio e trabalho, já que o espaço estará o dia todo à nossa disposição.

A realização desta remontagem de O Embarque de Noé, “só foi possível” segundo o diretor, com a colaboração de profissionais que integram a equipe técnica mediante pagamento quase simbólico pelos serviços prestados. Assim, o grupo pôde utilizar o dinheiro da produção na ampliação do palco, instalação de luz e liberação burocrática do teatro Fonte da Saudade. Pretendendo apresentar um espetáculo de produção esmerada, com linguagem cênica criativa, Toninho Lopes diz que o texto de Maria Clara Machado, por último, veio ao encontro do desejo do grupo: O Embarque de Noé já foi testado em sua capacidade de comunicação com o público infantil, profundidade da mensagem e valorização da inteligência da plateia a que se destina.

Atualizando a montagem, as músicas originais foram regravadas por Ubirajara Cabral, diretor musical do espetáculo, em outro ritmo. Se, quando a peça foi exibida, no fim da década de 60, os filhos de Noé eram hippies, eles hoje aderem à moda punk. No mais, a história de Maria Clara Machado conserva o fascínio de sempre. Estão lá a maldade, a indolência e a futilidade do homem e da mulher – através da representação dos “Protozímbios”-, a corrupção e ambição de Cam, o valor da fé e da virtude – através de Noé – e até a ingenuidade da Mamãe Noé.

O Embarque pode ser visto aos sábados e domingos, em dois horários, às 16 horas e às 17h30min. ao preço único de Cr$ 350