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Fala-se muito em teatro na escola, instituição que incorpora um discurso que transmite uma idéia de que o teatro está presente em diversos contextos do processo de ensino-aprendizagem. Contudo, analisando os princípios desta arte, verificamos que a escola, na maioria dos casos, devido a uma equivocada avaliação e entendimento de sua função e importância no desenvolvimento do aluno, apropria-se das atividades teatrais com intenções meramente pedagógicas, o que nos leva a afirmar que se trata de um pseudodiscurso. Assim, o sistema educacional vigente nas escolas, de modo geral, não contempla a arte teatral como atividade curricular relevante.

Ana Lúcia Cavalieri, em Teatro vivo na escola, oferece ao professor e ao leitor em geral uma alternativa para reverter este quadro calamitoso. Utilizando-se de um método muito particular, que integra dramaturgia, temas atuais relacionados aos alunos e a sua realidade, e atividades teatrais diversas, a autora oferece um conjunto de variados exercícios, que constituem um estímulo à arte de fazer teatro na escola, e claro, em outros espaços.

A estrutura geral do livro conta com uma apresentação, na qual a autora dá ao leitor diversas noções da metodologia empregada no mesmo e nas oficinas que ele propõe. A apresentação é seguida de Sugestões para um bom aproveitamento do livro, espaço no qual, conforme o título sugere, Cavalieri orienta o leitor para uma melhor utilização da obra. Na seqüência, dezessete seções denominadas cenas, porque têm, geralmente, como elemento centralizador, um esquete, estão à disposição para leitura, discussão e encenação, tarefas que a autora estimula por meio de atividades teatrais.

Permeiam as seções textos explicativos a respeito dos elementos da montagem teatral, como sonoplastia, direção, iluminação, etc., os quais são focalizados nos exercícios propostos a partir dos esquetes. Ao final, Cavalieri apresenta um Vocabulário teatral, com diversos verbetes da área cênica utilizados ao longo da obra, e uma Bibliografia recomendada, com indicações de obras de importantes pensadores do teatro.

As seções, na sua maioria, contam com uma organização semelhante: as quais, conforme já frisamos, estruturam-se em torno de um breve texto teatral, de autoria de Cavalieri, com exceção da seção doze, em que a autora se utiliza da cena III, do ato I da peça Hamlet, de William Shakespeare. As temáticas dos textos correspondem aos interesses dos adolescentes e jovens, tais como drogas, HIV, violência, relacionamentos familiares, fidelidade, mudanças e contradições da adolescência, auto-estima, consumismo, sexo, virgindade, gravidez, entre outros. Em cada seção, a partir dos textos, a autora apresenta um roteiro de exercícios que focalizam a atividade de encenação dramática, propondo aos alunos e professores um processo de recepção singular da dramaturgia. Os exercícios permitem aos alunos a interação com os diversos elementos da linguagem cênica: sonoplastia, interpretação, cenário, figurino, direção, e claro, com o texto teatral, elemento fundador da arte dramática, e o único registro permanente em teatro.

E como o teatro pode servir de partida para o conhecimento e aprofundamento de diversas temáticas, bem como para a construção da visão crítica do indivíduo, Cavaliere traz a cada seção, no item Para saber mais, indicações de livros, filmes e músicas que se relacionam tematicamente aos textos teatrais, a partir dos quais a seção se organiza. Além disso, aponta, no item Questões para estudo e reflexão, os temas focalizados pelos textos principais, indicando ao professor os assuntos e abordagens para a realização dos trabalhos posteriores à leitura e à encenação.

Teatro vivo na escola demonstra que a autora acredita que não se lê o gênero dramático passivamente, e sim, que a recepção deste tipo de texto é um convite à arte de fazer teatro. Além disso, é uma obra que propõe, sem “pedagogizar”, a reflexão e a discussão a respeito do ser humano e da realidade que o cerca, demonstrando a contribuição que o teatro tem a oferecer na “busca de um olhar mais consciente e sensível, que projete um novo homem, transformador, capaz de construir um mundo melhor”, bem como afirma a autora na introdução da sua obra.

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Referências completas da obra
CAVALIERI, A. L. F. Teatro vivo na escola. São Paulo: FTD, 1997, 79p.

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Fabiano Tadeu Grazioli
Mestre em Letras – Estudos Literários (Leitura e Formação do Leitor) pela Universidade de Passo Fundo/RS (2007). Especialista em Metodologia do Ensino da Literatura pela Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – Campus de Erechim/RS (2004). Autor do livro Teatro de se Ler: o texto teatral e a formação do leitor. Diretor de Teatro.  Contato: tadeugraz@yahoo.com.br

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Obs.
Este texto  foi publicado anteriormente na Revista Digital Art &, v.7, 2007.