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Giselda Mauler e João Batista

Barra

Esta entrevista fez parte do Seminário Permanente de Teatro para Infância e Juventude, realizada no Teatro Ziembinski, 25 de novembro de 1997

Barra

Integrantes da Companhia
João Batista (autor e diretor), Roberto Guimarães (ator), Eduardo Rieche (ator), Giselda Mauler (atriz), Cid Borges (ator), Sônia Praça (atriz), Mauro Leite (figurinista), Doris Rollemberg (cenógrafa), Renato Machado (iluminador).

Dudu Sandroni
Como começou o trabalho da Companhia Dramática de Comédia?

João Batista
Nós começamos com a intenção de fazer uma espécie de estudo prático sobre comédia, direcionado para crianças. Eu tinha uma ideia antiga, a de trabalhar com textos de Molière, mais especificamente, com a farsa improvisada típica da Commedia dell’Arte italiana, e a peça escolhida foi O Médico Volante. Adaptei o texto e dei a ele o nome de A Incrível História do Homem que Bebia Xixi. O espetáculo teve uma repercussão legal. Depois desse espetáculo, começamos a nos perguntar o que iríamos fazer. Eu já trabalhava há oito anos com teatro e naquele momento pensava em desenvolver uma experiência cumulativa, buscando a construção de um caminho, de uma linguagem. Resolvemos continuar investindo em comédias para crianças. O trabalho seguinte foi Volpone, uma peça do Ben Jonson, contemporâneo de Shakespeare. A peça tinha a mesma linha do primeiro trabalho, o Xixi, mas era menos ingênua, falava de morte, de dinheiro. Em seguida, foi a vez dos autores brasileiros, apesar de eu achar que sempre buscávamos a comédia brasileira, mesmo quando adaptávamos textos estrangeiros; partimos então para autores nacionais e fizemos o Esconde-Esconde, adaptação de Judas em Sábado de Aleluia, de Martins Pena, que teve uma repercussão muito legal. Por conta disso, resolvemos apostar em mais uma comédia brasileira, no caso, o Epaminondas, adaptação de um conto do Artur Azevedo. Depois desses quatro trabalhos, acho que o que tem sido determinante para o nosso processo é o fato de a equipe de criação também fazer parte da companhia. Por causa disso, temos conseguido construir uma linguagem própria. Toda a equipe trabalha em conjunto, ajuda a fazer, pensa e desenvolve a ideia. Isso era exatamente o que eu queria quando começamos: acumular experiências, desenvolver um processo para buscar linguagens novas. Tem dado certo e é desse jeito que a gente pretende continuar.

Dudu
Quem faz parte da Companhia Dramática de Comédia? Todos estão juntos desde o início?

João
Bom, estão desde o princípio, como atores, o Roberto Guimarães, o Eduardo Rieche, a Sônia Praça e a Giselda Mauler. Esse grupo participou dos quatro espetáculos que montamos. O figurinista é o Mauro Leite, a cenógrafa é a Dóris Rollemberg e o iluminador é o Renato Machado. Nossa aquisição mais recente é o Cid Borges, que entrou na companhia agora, no Esconde-Esconde.

Dudu
E a divisão de tarefas? Sei que o Roberto, por exemplo, atua na área de divulgação. Como é essa questão? Ator é só ator, não produz? Existe uma organização interna de trabalho?

João
Existe. Temos uma combinação que acho legal. O Roberto e a Giselda, que trabalham com di­vulgação fora da companhia, fica­ram responsáveis pela nossa divulgação. O Eduardo, além de ator, faz a programação visual e acumula com a Sônia as tarefas de produção. Mas existem fun­ções, como as de cenotécnico e fotógrafo, para as quais não temos ninguém fixo. Cada pessoa é responsável por um setor, mas na verdade, todo mundo ajuda um pouco.

Dudu
São três anos e meio de companhia, quatro trabalhos, e vocês já estão anunciando um quinto, se não me engano, um espetáculo adulto. Tem mercado para tudo isso? Vocês estão se re­lacionando bem com o mercado ou não existe essa preocupação?

João
Existia essa vontade de construir um trabalho, uma história. Para nós, os espetáculos não passaram. O Homem que Bebia Xixi tem mais de três anos e nós continuamos a montar. Volpone é a única peça que não temos montado, mais pela dificuldade de adaptá-la a espaços diversos daquele para o qual foi criada do que por vontade nossa. Estamos com o Epaminondas em cartaz e fazendo esporadicamente as outras. O ideal seria que todos os espetáculos tivessem vida longa, não só os da nossa companhia, mas de modo geral. Acho um absurdo uma peça, que dá tanto trabalho para ser produzida e montada, ficar dois meses apenas em cartaz e nunca mais ser encenada. Mas, infelizmente, é o que acontece com muitas produções. Nós sempre tentamos esticar a vida útil do espetáculo. Tenho uma coisa que é muito minha: sempre que um trabalho estreia, já me dá vontade de fazer outro. É claro que nem sempre isso é possível. Fazer um novo espetáculo não significa abandonar os anteriores. É legal ter um repertório.

Dudu
Quem quiser complementar alguma ideia…

Roberto Guimarães
Nessa história das funções dentro da compa­nhia faltou falar da figura do produtor. Nós não somos cenotécnico ou fotógrafos. Somos produtores. Cada um de nós é o produtor do dinheiro, do dinheiro teórico, mas é produtor. Isso é interessante. Além de atores, diretor e autor, todos nós funcionamos como produtores de cada um dos espetáculos, com igual parcela de responsabilidade.

Dudu
Isso significa que vocês têm um percentual de ganho igual?

Roberto
Como produtores, sim. O restante varia de acordo com o acúmulo de funções.

Dudu
Roberto, foi preciso botar dinheiro do próprio bolso em algum momento? Vocês tiveram patrocínio? Como é essa coisa de montar quatro espetáculos? Quem bancou esses projetos?

Roberto
Nunca tivemos patrocínio. Se foi preciso botar dinheiro nosso? Foi. Mas temos alternativas. Já fizemos muitas coisas para arrecadar dinheiro, como vender camiseta, rifa. Mas acho que só conseguimos isso tudo porque somos amigos. Nossa rotina inclui papos, cinema, bar. Trabalhamos juntos e nos divertimos juntos.

João
A verdade é que muita coisa do que fizemos até hoje foi graças a trabalhos anteriores, tipo assim: vamos fazer alguns espetáculos do Xixi para pagar algumas contas. Isso não é exatamente tirar dinheiro do bolso. É dinheiro que vem do próprio trabalho. Teoricamente, é dinheiro que devíamos receber, mas que muitas vezes, investimos nos espetáculos. Isso não quer dizer que nós não temos ambição, mas acho que é uma opção e um investimento no nosso trabalho. Claro que preferíamos não ter que usar dinheiro de um espetáculo para produzir outro, mas essa é uma saída.

Dudu
Pude perceber, pelo Epaminondas, um cuidado extremo com o acabamento do espetáculo – cenários, figurinos, iluminação. Há muito trabalho e dinheiro nisso, não?

Roberto
O acabamento tem sido uma de nossas marcas. A gente consegue produzir. A única figura que falta, na companhia, é a do patrocinador.

Renato Machado
Uma das coisas que mais me impressionam na companhia é o fato de que é possível produzir barato. Não dá para entender, por exemplo, a Coca-Cola dar R$ 20 mil – não que seja muito dinheiro – e as pessoas produzirem com dificuldades. Com R$ 20 mil, fazemos quatro espetáculos.

Dudu
Quanto, em média, é preciso para produzir um espetáculo da companhia?

Eduardo Rieche
Acho que posso falar sobre isso. Claro que foram valores diferentes para cada produção, mas, na média, não chega a R$ 10 mil. Eu diria que seriam R$ 8 mil, R$ 7 mil para cada espetáculo. Com relação à produção, acho que é uma experiência que passa por vários caminhos: quantos têm, quanto custa, quando poderemos pagar. É uma questão de contenção de despesas, barateamento da produção e muita agilidade para que as coisas estejam prontas no devido tempo. Avaliando esses quatro espetáculos que produzimos, percebemos como isso retorna de modo positivo para o ator. Fica evidente a importância de um ator se tornar produtor em algum momento. O trabalho de ator é enriquecido pelo trabalho de produção, pois ele adquire maturidade profissional ao saber quanto custa o cenário em que está pisando, a roupa que está vestindo. O cuidado é maior, a responsabilidade é maior e, claro, o trabalho de ator flui mais facilmente.

Sônia Praça
Concordo com o Eduardo. É extremamente importante fazer parte de uma companhia enquanto ator, produtor, e, no meu caso, enquanto administradora. As afinidades que vamos descobrindo no grupo, conforme o tempo vai passando e os trabalhos vão se realizando, são muito produtivas. Perdemos menos tempo e aprendemos a gastar menos dinheiro. O João já sabe como o Renato gosta do trabalho, como a Dóris faria. Acho extremamente importante que todos os atores, em algum momento, tenham essa experiência que nós estamos tendo na companhia.

Renato
Eu vou contar uma historinha para ilustrar como se pode chegar a um resultado legal, mesmo sabendo que não há dinheiro suficiente para fazer o que seria o ideal. Quando fomos montar o Xixi, tínhamos um apoio da General Electric (GE). Tínhamos as lâmpadas, mas não havia dinheiro. Apesar disso, acho que foi a melhor luz que já fiz. A coisa funciona assim: quando começa a produção, sabemos quanto temos de grana. E sabemos que não podemos ultrapassar aquele patamar. João me disse, naquela época, que só tinha dinheiro para alugar uns dez refletores e eu pensei: o que eu vou fazer com dez refletores? Aí, a gente é obrigado a botar a imaginação para funcionar, Íamos para o Espaço 3 do Teatro Villa-Lobos e eu disse para o João que, para usar só dez refletores, era melhor não usar nenhum. Ele topou a ideia e o resultado foi muito bom. Imaginação e confiança são os ingredientes indispensáveis para se conseguir fazer uma boa produção com pouco dinheiro.

Dudu
Eduardo, vocês têm um cálculo de quanto, em média, foi arrecadado com bilheteria nesses três anos e meio de atividades da companhia?

Eduardo
Não vim preparado para responder a essa pergunta. Não sei. Talvez a Sônia, como administradora, possa responder isso em relação ao último espetáculo, o Epaminondas.

Sônia
No caso do Epaminondas, estamos na casa dos R$ 7 mil de arrecadação. E olha que a salinha do Museu da República é bem pequena.

Da plateia, Carmen Frenzel
Vocês sabem qual foi a melhor temporada em termos de público? Em que teatro, com que peça vocês tiveram o melhor público, levando em conta a relação entre a arrecadação e as despesas?

Eduardo
Foi a do teatro da UFF (Universidade Federal Fluminense), quando apresentamos A Incrível História do Homem que Bebia Xixi. Foi uma época complicada, a universidade estava em greve, mas foi uma boa temporada. No Teatro do Planetário, com o Esconde-Esconde, também foi ótimo. E, com o Epaminondas, temos tido bom público no Museu da República.

Dudu
Acho que devemos falar um pouco sobre o processo de escolha dos textos. Vocês têm enveredado pelo caminho dos clássicos e mais, selecionado autores já conceituados no teatro adulto. Nunca há, portanto, a escolha de um conto infantil. Como é esse processo? O que determina isso?

João
Na verdade, a escolha de textos tem sido uma iniciativa minha. Eu tenho proposto. Em relação a teatro infantil, gosto de peças muito diferentes. E legal que uma criança possa ver coisas diferentes, um dia uma história mais leve, no outro, uma mais complexa. Apostamos na inteligência das crianças. Eu, como diretor, não saberia fazer uma peça com fadas, bichos etc. Não tenho nada contra, mas acho que eu não saberia fazer. A partir dessas adaptações de textos para adultos, lidamos com situações palpáveis, reais. Por exemplo, quando montamos o Volpone, que tratava de temas como morte e dinheiro, tivemos muitas dúvidas, mas depois vimos que as crianças entendiam tudo. Não existem temas proibidos. O que importa é o modo como se conta a história. Claro que temos que ter em mente que aquele espetáculo é para crianças, mas não vamos facilitar as coisas. Temos essa vontade de trabalhar comédia, montar espetáculos que tenham algo em comum, mas sempre ousando.

Da plateia, Carmen
A escolha do texto sempre parte de você ou o processo é mais aberto, com a participação dos outros?

João
Até hoje, a iniciativa sempre minha, mas é aberto.

Da plateias, Carmen
Estou incitando uma revolução… (risos.)

João
Seria legal se todos participassem. Ainda não aconteceu, mas acho que ainda vai acontecer.

Dudu
Tem alguém que propõe o trabalho de corpo na companhia? No Xixi e no Epaminondas fica evidente um trabalho corporal…

João
A Tânia Nardini já fez alguns trabalhos de corpo conosco, mas ela não faz parte da companhia. Acho que essa coisa do trabalho corporal é meio básica para todos, vem da nossa formação, da minha formação. Quando trabalhava na Companhia Ensaio Aberto, do Luís Fernando Lobo, nós fazíamos um trabalho muito puxado de acrobacia, coisa que, infelizmente, não fazemos mais regularmente. Acho que alguma coisa ficou. Sou meio obsessivo com precisão de ator. Precisão no sentido de gestos, de desenho, de limpeza. Temos conseguido fazer isso agora de uma forma mais relaxada, sem que se perca a precisão, o detalhe. Talvez precisão não seja exatamente a palavra. O teatro tem que ter detalhe. O ator e o diretor têm que ser capazes de dizer coisas através de detalhes. O trabalho de corpo penso eu, funciona muito mais nesse sentido, de se ter domínio sobre o que se está fazendo. Não pode ser uma mera repetição de gestos, mas se você resolve fazer mudanças, tem que ser uma atitude consciente, intencional, com o objetivo de melhorar o desempenho. É isso que temos feito, de uma forma mais relaxada, sem muita cobrança.

Da plateia
João, quando você pensa seu repertório, quando escreve, já tem um papel para cada ator? Você escreve pensando nos seus atores?

João
É, escrevo pensando nos atores, mas isso não quer dizer que seja mais fácil fazer desse modo. Na minha cabeça, não funciona como regra. Eu penso numa possibilidade de distribuição, mas essa distribuição não está definida, pode mudar ao longo dos ensaios.

Da plateias, Carmen
Tem algum tipo de exclusividade no grupo?

João
Na verdade, não temos essa preocupação. A gente nunca se propôs trabalhar com exclusividade para a companhia, mas tem tanta coisa envolvida que as pessoas acabam não fazendo outros trabalhos fora. Mas não é nada combinado.

Dudu
Vocês mantêm uma prática de reuniões ou ensaios, de treinamento, independentemente do espetáculo estar em cartaz ou não, ou é do tipo ensaia, estreia? Como funciona isso?

Sônia
A gente tem uma regularidade de reuniões, até por conta de produção, projetos e planejamento. Em termos de trabalho corporal, no momento, estamos parados porque não conseguimos arrumar um horário em que todos possam trabalhar com a Tânia Nardini. Estamos fazendo um trabalho semanal de voz com o Jorge Cardoso.

Dudu
Não existe um trabalho de treinamento contínuo, independentemente do espetáculo do momento?

Sônia
Atualmente, não. Muito por conta da dificuldade de encontrar um horário para reunir as pessoas.

Da plateia
Como vocês sabem o que dizer para as crianças? Que termômetro vocês usam para testar a eficácia dos espetáculos que apresentam?

João
Não acredito em uma divisão de crianças por faixa etária, do tipo: até certa idade pode falar isso, a partir de certa idade pode falar aquilo. Trabalho com crianças como professor de teatro há sete anos, e acho que elas, cada vez mais, nos surpreendem. As crianças hoje são muito inteligentes e o teatro tem que acompanhar essa evolução de alguma maneira. Acho que podemos falar sobre dinheiro ou sobre morte para as crianças. Conforme o tempo foi passando, aprendi muita coisa, coisas técnicas. Acho que um espetáculo legal permite análises diferentes. Uma criança não pega tudo, mas pega o essencial. Já aconteceram várias vezes de os pais dizerem: “acho que meu filho não entendeu tudo”. Aí, costumo sugerir que eles conversem com os filhos sobre a peça. É legal para pais e filhos terem sobre o que conversar depois de verem uma peça juntos. É legal fazer a criança pensar, não entregar tudo de bandeja. Acho que teatro é diversão, mas não é só isso. Precisa provocar dúvidas, perguntas, atiçar a curiosidade das crianças.

Lucia Cerrone
Vocês conversam com as crianças em algum momento?

João
Conversamos com as crianças depois dos espetáculos, não só por ser simpático, mas também para saber o que elas acharam. Usamos também fichinhas pedindo a opinião delas, por escrito, sobre o espetáculo, e perguntando se já assistiram à outra peça da companhia.

Eduardo
Só para dar um exemplo, vou contar uma coisa que aconteceu comigo, no Epaminondas, cuja história é a seguinte: um pai, que diz nunca ter mentido, dá ao filho, meu personagem, o nome do general grego Epaminondas, que, segundo consta, nunca mentiu na vida, e ensina o menino a também não mentir. Um dia, no fim da peça, um garoto de uns 6 ou 7 segundo consta, nunca mentiu na vida, e ensina o menino a também não mentir. Um dia, no fim da peça, um garoto de uns 6 ou 7 anos veio falar comigo, e disse: “Poxa, o seu pai falou tanto para você não mentir, e ele é o maior mentiroso.” Eu brinquei: “Está vendo só o que os pais fazem com a gente, às vezes? Falam uma coisa e fazem outra.” Aí, uma menininha que ouviu a conversa, emendou: “Meu pai nunca mentiu, mas minha mãe mente sempre: ela diz que vai fazer batata frita e faz macarrão.” Eram crianças da mesma faixa etária, mas que compreendiam as coisas de forma diferente. O garoto viu a coisa pelo lado moral, do juízo moral, do “não mentiras”, e ela associou a história aos fatos do cotidiano, sem se referir à regra moral.

Carmen
Vocês conseguem sobreviver só com o trabalho da companhia?

Roberto
Por incrível que pareça, ganhamos dinheiro com a companhia, mas cada um tem sua atividade paralela.

Da plateia
Como a Dóris Rollemberg não está presente, seria bom que vocês falassem um pouco sobre a participação dela na companhia.

João
No caso do trabalho de criação tenho um hábito: quando começo a pensar no espetáculo, quero que todos tenham espaço para criar. Temos um visual muito forte. O Mauro Leite, que é meu irmão e figurinista, gosta muito de cor, e lida com cor de uma forma muito legal. No caso do cenário, especificamente, eu não gosto de nada muito concreto: a gente quase não usa móveis, no Volpone tinha um banco e aquilo me incomodava terrivelmente. Eu gosto muito de ator; gosto de ver em cena as pessoas com quem eu trabalho e acho que você até pode fazer um trabalho super legal com cenário tradicional, enfim, mas eu não sei fazer, não gosto. Eu vejo o cenário como um espaço a ser ocupado e é preciso que se tenha liberdade para ocupá-lo, para isso ele tem que ser um espaço que dê vontade de você entrar ali e fazer um monte de coisas. A gente trabalha muitas vezes com chão e fundo, mas eu acho que, pra Dóris, isso não tem sido um problema, uma prisão. Ela me ajuda a pensar em como usar o espaço. Sugere uma porção de coisas, não se limita a entregar o cenário e pronto. É a coisa do trabalho de grupo. Em relação ao trabalho de equipe, normalmente começo pelo figurino. É quase como se a gente precisasse ver primeiro quem é que vai ocupar o espaço e pensasse o espaço a partir da imagem dos personagens. Normalmente, a gente fecha o figurino e depois pensa em como vai cercar aquelas figuras, porque os personagens são as figuras principais. Isso não diminui em nada a importância do cenário e da luz. Partimos dos personagens, para depois criar o que vem em volta. E tem dado certo.