A Folia dos Três Bois: um teatro artesanal.
Foto de Cintia Neves

Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 03.07.1993

 

 

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Como virar uma página de livro 

A Folia dos Três Bois, com texto e direção de Sylvia Orthof, faz parte do projeto O Teatro do Livro Aberto que tem seu número sediado em Petrópolis. Composto por dois atores e um violeiro, e com cenários dobráveis de panos, a trupe vem se apresentando nos mais inusitados espaços pra para uma diferenciada plateia.

No ano passado, eles tiveram em cena com a peça Ervilina e o Princês, no Mercado São José, de Laranjeiras, quando o espaço ainda justificava o nome de das Artes. Mas isto já é outra história.

Atualmente ocupando um palco, o do Teatro da Casa de Cultura Laura Alvim, o espetáculo ganhou novos contornos cênicos que a princípio dão a impressão de surpreender a atores e a direção.

Construídos passo a passo, em todas as etapas – músicas, cenários, performances e figurinos – com cortes e acréscimos, conforme a resposta de um novo público, A Folia dos Três Bois foge completamente à ideia do espetáculo pronto, a ser digerido imediatamente. Suas intenções e nuances são percebidas mais lentamente do que de costume. Sylvia Orthof, conceituada autora de livros infantis, como a quilométrica coleção de títulos editados, faz seu trabalho de direção e concepção cênica de maneira artesanal, não se abstendo de ousar e de experimentar as mais diferentes linguagens.

Usando figuras e músicas retiradas do folclore, acrescentando um ou outro personagem completamente urbano, e outros saídos diretamente dos musicais americanos, Sylvia brinca com a fantasia de crianças e adultos, criando em seu espetáculo um ambiente aconchegante.

No elenco, os atores Marise Manhães, Fernando Vianna e Beto Ferreira se dividem em 22 personagens que fazem acontecer à história que percorre o caminho de Cericecó. Interpretando figuras extremamente líricas como o Sol de Aurora e o Céu da Noite de Festa, ou saindo diretamente para o humor da estrelíssima cantante Sul-americana, ou do Rumbeiro do Imaginário de Hollywood.

Com cenários e figurinos do artista plástico Tato, a partir de invenções muito particulares com os mais diferentes materiais, o espetáculo A Folia dos Três Bois deve ser vista com a calma e a curiosidade de quem descobre um novo livro onde a história só continua quando se vira mais uma página.

Cotação: 2 estrelas (Bom)