Marcia Frederico, Helena Stewart(C) e Ísio Guelman na versão da Cia dos Atores de Laura.
Foto Gabriela Gusmão


Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 20.11.1999

 

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Mozart é recorde de público

Domingo, véspera de feriado, a chuva cai forte na cidade. Qualquer pitonisa de quinta, completaria a equação com: problemas, igual a teatro vazio. A surpresa é o melhor da festa. A Flauta Mágica, encenada pela Cia. dos Atores de Laura no Teatro Carlos Gomes, é recorde de público na temporada. As razões estão no palco.

A Cia., criada em 1992, está no seu décimo espetáculo, o segundo dedicado ao público infantil. Se o anterior, A Casa Bem-Assombrada, falava do teatro, este põe em cena o máximo da teatralidade para contar a sua história. A Flauta Mágica, ópera escrita por Mozart em 1791 – ano da sua morte -, combina a melodia simples do folclore alemão com a escrita operística clássica e tem libreto de Schikanedor e Metzler, que, por sua vez, retirou a trama do conto oriental Lulu. Tanta inspiração ganha nessa versão mais dois autores: Celso Lemos e Antônio Monteiro Guimarães. Além da história já conhecida, a trama traz agora o jovem Mozart para o palco como personagem condutor, aproximando o enredo de seu público. A plateia agradece.

Em cena, o amor de Pamina e Tamino, posto à prova por Sarastro e pela rainha da Noite, ganha contornos de humor nas interferências de Papagueno e do próprio Mozart.

A trama aventuresca traz ainda o vilão Monóstatos e as três parcas que costuram a história. Como principal mote, não só da história, nas de toda a encenação, um toque do autor Celso Lemos: “…Nada é impossível quando a gente dá o melhor que tem”. Dentro e fora de cena, está valendo o escrito.

Daniel Hertz e Suzana Krueger, os diretores da Cia, têm dessa vez um espetáculo diferente nos mínimos detalhes. Se antes estava em cena o palco quase nu e a profusão de atores, dessa vez foi enxugado o elenco, e o espetáculo ganhou ares de superprodução. Tudo calculado.

A Cia que não está em cena está nos bastidores, pintando e bordando literalmente, sob a batuta do cenógrafo e figurinista Ronald Teixeira. O toque de Midas em transformar papel em ouro do artista, mas a colaboração da Cia foi valiosa. O palco do Carlos Gomes é todo ocupado, em azul e dourado, com esculturas de impacto. Os figurinos leves em gazes ou os mais pesados em veludo são todos rebordados em detalhes que chegam à plateia. A iluminação de Aurélio de Simoni amplia e fecha a cena, ao sabor da sinfonia de Mozart. Um luxo.

No elenco, também cheio de novidades, Mozart é interpretado por Helena Stewart, uma atriz de 20 anos que não usa nenhuma caricatura para interpretar Mozart aos seis anos. Daniel Hertz, agora no palco, é um sedutor Papagueno. Márcia Frederico dá o tom trágico dos gregos a sua Rainha da Noite, Georgina Góes tem presença firme como a princesa Pamina, Paulo Hamilton faz um mix entre o bufão e o vilão na personagem de Monóstatos e Ísio Guelman é Sarastro, numa figura bem marcada.

Tudo está muito bem sincronizado com a trilha escolhida e o espetáculo não é só estética – e até poderia ser. A história contada é acompanhada com atenção até pela plateia muito jovem que vem lotando o teatro.

cotação: 4 estrelas (Excelente)